Há uma linha fina entre o "sim" que agrada e o "não" que liberta.
E, nessa linha, eu me equilibro, oscilando entre o desejo de ser aceita e a necessidade de ser verdadeira comigo mesma. Quantas vezes, sem querer, me tornei a vilã? Não por malícia, mas por ousar ser quem sou em um mundo que prefere o conformismo.
O peso do "não" é algo que poucos compreendem.
Desde cedo, somos ensinados que dizer "sim" nos torna gentis, nos faz pertencer. Mas, quando ousamos negar, desenhar nossos próprios limites, o "não" assume a forma de rebeldia. É nesse momento que a máscara da vilania nos é imposta, porque escolhemos um caminho que desvia do esperado.
O que poucos percebem é que essa vilania é, na verdade, um ato de salvação.
Salvar-se de sonhos que nunca foram nossos, de expectativas que sufocam, de um destino que não escolhemos. Ser a vilã, muitas vezes, é apenas a coragem disfarçada — a coragem de se escolher quando todos querem que você seja outra.
Quantas vezes fui pressionada a justificar cada escolha? Como se existir conforme meus próprios termos fosse um erro a ser corrigido, como se eu precisasse me desculpar por ser autêntica. O que é isso, senão uma tentativa de me moldarem ao que esperam, de me encaixarem em um molde que nunca foi meu?
Quantas vezes caminhei por estradas que não eram minhas, forçando-me a buscar metas que nunca desejei, apenas para não decepcionar? E quantas vezes me perguntei se aquilo que perseguia realmente pertencia a mim? Quando foi que eu parei e disse: "Isso é meu?"
Se me desvio do roteiro que me deram, se falho nas expectativas que nunca assinei, ainda assim serei a vilã? Vilã por não seguir um destino que nunca quis, por não corresponder a sonhos que nunca abracei?
Por que, afinal, devo me desculpar por algo que nunca foi meu?
Há sempre uma busca incessante por aceitação. Um esforço constante para agradar, mesmo que ao custo de perder quem somos. Mas, perdida nesse labirinto de expectativas, me pergunto: quantas vezes me deixei desaparecer para caber nos espaços alheios? E quando, finalmente, decidi me perder de vez, será que algum dia voltarei a me encontrar?
Haverá corações partidos. Haverá olhares decepcionados. E, em algum ponto, inevitavelmente, serei a vilã na história de alguém.
Mas será que vale o preço? Vale me perder nesse abismo apenas para ser aceita? Ou meu "não", forte e sincero, não basta por si só?
Quantas vezes criei versões de mim para se encaixar? Quantas vezes esperei que os outros me seguissem na jornada de expectativas que eu mesma inventei? E, no final, fui justa comigo? Ou fui minha própria traidora, ao seguir o que nunca me pertenceu?
A verdade é essa: em alguma história, sempre seremos a vilã. Sempre. Mas e na minha própria história? Quem serei eu, se não puder me escolher? Se continuar negando minha própria essência para seguir um caminho que não é o meu?
A vida é isso — enfrentar a certeza de que nunca agradaremos a todos. Mas se eu me perder de mim mesma, quem poderá me salvar?
Estou confusa.
Onde você está? Quando foi que se perdeu? Quando, afinal, você foi você?
Cansada?
Sim, estou exausta. Tentar agradar a todos é um fardo que me puxa para o fundo. Quantas vezes mais terei que me perder até, finalmente, me encontrar?
Respire.
Por um momento, apenas... pare de se culpar.
Ser a vilã não é sobre maldade, mas sobre coragem. A coragem de dizer "não" quando o mundo pede o "sim". Coragem de escolher a si mesma, mesmo sabendo que corações se quebrarão pelo caminho.
Porque, no fim das contas, a história que importa não é a que esperam que você conte, mas a que você escolhe viver.
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Ecos de um silêncio
PoetryEm meio a um mundo repleto de vozes, você se encontra perdida em um labirinto de expectativas e silêncios, numa jornada de uma alma que, por muito tempo, viveu buscando incessantemente a aceitação. A narrativa se desenrola como uma dança delicada e...