Capítulo 1 - Ele não propôs

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    Penélope

Penélope chorava compulsoriamente em sua carruagem. Estava despedaçada. Nunca, nem em seus mais loucos sonhos, imaginaria que Colin se prestaria a esse papel. Arruinar suas chances, na verdade provável única chance, de um bom casamento. Era inacreditável.
Dentre todas as pessoas do mundo nunca imaginaria que Colin poderia ser tão cruel. Na verdade imaginava sim, desde o comentário que ouviu ele fazendo, no baile de sua mãe, quando disse que nunca lhe cortejaria, aos
risos com os demais rapazes. Claro que ele tentou se redimir lhe oferecendo ajuda para encontrar um casamento, nessa temporada, mas agora sabe que nunca deveria ter aceitado.
Entretanto, estava feito. Não poderia mais casar-se com Lord Debling e sua amizade com Colin estava, agora sim, acabada.
Ainda, tinha que lidar com o fato de que a rainha estava procurando Lady Whistledown incansavelmente. Por isso, pediu ao cocheiro que não fosse para a casa Featherington. Precisava publicar imediatamente.  Estava arruinada, nunca se casaria, não suportava o fato de ter que morar com sua mãe e uma de suas irmãs certamente estava grávida do novo Lord Featherington. Suas amizades com Eloise e, agora com Colin, se acabaram, o que era a pior de todas as coisas pra ela, pois os Bridgertons tinham sido seu suspiro de alívio em meio ao caos nos últimos anos.
Não tinha mais nada e ainda corria o risco de ficar pior, caso a rainha descobrisse, por conta própria, seu segredo.
Por isso, daria um fim a tudo isso. E seria hoje.

Colin

Colin observou Penélope sumir de sua vista para ir de encontro a Lord Debling, que parecia estar zangado com sua audácia em interromper a dança dos dois. Mas Colin não se ligava. Pouco importava o que esse esquisitão pensava. Precisava falar com Penélope e se declarar, tirar essa angústia do peito, que lhe consumia há semanas. Não podia mais lidar sozinho com esses sentimentos. Precisava lhe contar que estava apaixonado, que precisava dela e do ar que ela respirava, mais do que tudo nesse mundo.

A viu, de longe, na escadaria. Penélope parecia discutir com Portia e, por isso, não quis interromper. Iria atrás dela assim que parassem a discussão. Mas num impulso, Penélope deu as costas para a mãe, e Colin a perdeu de vista, mais uma vez. Saiu do salão e correu em direção a porta de saída, quando viu a carruagem de Penélope partir. Pensou em correr, tentou correr, correu. Ia alcançá-la, se não fosse o caminho que o cocheiro escolhera e que...o que estavam fazendo?

A carruagem não ia em direção a casa Featherington, e sim para outro lado da cidade. O que só podia significar uma coisa: aquela não era a carruagem de Penélope.

Droga. Tinha lhe perdido de vista. Mas não ia desistir facilmente. Voltou correndo para o baile e chamou por sua carruagem.
Iria até a casa dela e, subornaria sua criada mais uma vez. Iria falar com Pen ainda hoje. Precisava falar.

Ao chegar na casa Fearherington, correu para os fundos. Chamou pelos criados. Mas espere. O que?

Penélope não estava em casa.

Ficou confuso. Tinha algo de errado. Será que aquela era mesmo a carruagem de Penélope e o cocheiro lhe obrigara a ir para outro canto da cidade? Temeu pela segurança dela. Estava sem fôlego. Era como se tivesse corrido por todo o caminho. A ansiedade lhe tomava totalmente. Suas mãos tremiam. Suava frio.

_Oh Pen, onde você está? - andava de um lado para o outro em frente a sua casa e a casa dela, que eram uma de frente para a outra.

Resolveu que não esperaria. Iria, de carruagem, procurar por Penélope pela cidade. E assim o fez.

Passou cerca de 1 hora andando. Pedira ao seu cocheiro para lhe levar em qualquer lugar suspeito, perigoso, afastado da cidade. Mas nada de Pen.

Ia voltar para casa. Se ela não tivesse retornado, esperaria em frente a casa dela até que ela aparecesse sã e salva. Do contrário, chamaria a polícia. Mas lá estava a carruagem. Então Pen estava em casa.

Ele ia se arriscar.

Chamou os criados. Mais uma vez subornou Rae. Só que dessa vez a pobre moça voltou sem boas notícias.

_A Srta. Featherington está indisposta e não pode vê-lo hoje, senhor. Receio que precisará retornar outro dia.

O mundo dele desabou. Em sua mente ela desceria as escadarias, de camisola, ele se declararia e se beijariam, como tinha sido naquela outra noite. Mas nada disso aconteceu. Ela não queria vê-lo.

_Bem, nesse caso, estimo melhoras. - respondeu atordoado. Mas antes mesmo que Rae pudesse dar-lhe as costas, não exitou em continuar falando. - Ãh, senhorita, pode me fazer um favor?

A menina acenou que sim com a cabeça, mas até ela já estava ficando impaciente.

_Pode dizer a ela que amanhã estarei aqui para visitá-la para tratar de um assunto urgente? Na verdade, urgentíssimo, um assunto que não pode deixar de ser tratado amanhã.

_Claro senhor, darei o recado. - Rae chegou a sentir um pouco de pena de Colin. Sabia que ele estava tentando se expressar. Ela, mais do que ninguém, já havia percebido tudo, mas sempre fora muito discreta.

Então Colin foi para casa. Ao entrar viu que sua mãe e irmãos ainda conversavam na sala de chá. Uma hora dessas, ainda acordados? Colin pensou e desviou o caminho em silêncio, direto para seu quarto. Não podia lidar com a família agora.

Se jogou em sua cama, frustrado. Nada do que tinha planejado deu certo. Começou a sentir raiva de si mesmo.

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CRÔNICAS DA SOCIEDADE POR LADY WHISTLEDOWN

"Querido e gentil leitor,

Oh, quantas vezes terei de tolerar os devaneios dessa sociedade tão hipócrita quanto seus sorrisos maquiados? Uma farsa atrás da outra, um jogo de máscaras que poucos sabem jogar bem, mas todos insistem em tentar. E no centro dessa orquestra desafinada, uma rainha obstinada, incansável em sua busca para descobrir quem ousa desmascarar a corte com palavras afiadas como lâminas.

Sim, é verdade, minha boa rainha está absolutamente obcecada em encontrar a verdadeira identidade da autora dessas humildes palavras. Que ironia, não? Aquela que mais se deleita com os escândalos e fofocas é a mesma que agora persegue, com unhas e dentes, o nome que tanto busca. Ah, como o poder cega até os mais astutos!

Mas vamos falar francamente, não é? Esta sociedade que tanto se orgulha de seus costumes e moralidade, que condena com uma mão enquanto aplaude em segredo com a outra, não é digna de meu silêncio. Os segredos que guardo são mais densos do que o véu da ignorância que cobre a visão de muitos. Como é conveniente para tantos viver sob o manto da respeitabilidade, enquanto escondem paixões proibidas, dívidas inconfessáveis e traições impensáveis.

E não poderíamos deixar de falar dos grandiosos duques, viscondes e lordes que são conhecidos por seu desprezo absoluto por qualquer coisa que se assemelhe a sentimentos verdadeiros. Para eles, o matrimônio é apenas uma transação, uma troca conveniente de títulos e status, nada mais. Amor? Uma bobagem romântica que eles deixam para as pobres debutantes indefesas e sonhadoras. Estes valorizam mais o brilho das superficialidades do que a chama do afeto genuíno. Tolos!

Pois essa autora se cansa disso!!

E agora, minha adorável rainha e caros leitores, o clímax de nosso joguinho chegou. A caça acabou. Sim, vocês me ouviram corretamente. Todas as noites em claro, os cochichos, as tentativas de me desmascarar... tudo isso foi em vão. Porque hoje, declaro com orgulho e sem mais rodeios: a cortina cai, e o mistério chega ao fim.

Eu sou Lady Whistledown. E sempre fui Penélope Featherington.

Agora, a verdadeira diversão começa. Fiquem com suas vidas hipócritas.

Atenciosamente,
Penélope Featherington (ou como vocês a conheciam, Lady Whistledown)."

Velhos amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora