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Gustavo Mioto, Londrina

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Gustavo Mioto, Londrina.
Ponto de vista.

Me tornei pai cedo demais, e cedo demais conheci o amor mais puro e incondicional que alguém um dia poderá sentir.

Me tornei pai de uma menina.
Me tornei pai da Clarisse.

E com isso, conheci o amor da minha vida. Um anjo em forma de pessoa. Conheci o amor, conheci a felicidade. Segurei meu coração fora do peito.

Vivi os melhores dias ao lado da minha menina. Recebi seu carinho, seu afeto e todo o seu amor. A peguei no colo, dei banho, coloquei para dormir e a protegi mais do que tudo na minha vida.

Mas ela escapou.
Ela escapou dos meus braços.

Saudades do toque. Do toque dela. Do toque de simpatia, de gentileza, de simplicidade. Saudades da casa cheia de glitter, de desenhos espalhados. Saudades dos desfiles do dia a dia, cada dia era um novo vestido de princesa. Mal sabia ela que era a princesa mais linda desse mundo, e nem precisava de um vestido e muito menos uma coroa para provar isso.

Acordo durante as noites, implorando para que ela retorne, ciente de que isso não acontecerá. Viro-me, abraço o meu travesseiro e me entrego ao choro diante da saudade que me consome.

Não sei qual dor é mais forte: a consciência do quanto a minha menina sofreu ou a necessidade de lidar com a imensa saudade que sinto dela.

Nenhum desses sentimentos é fácil de suportar. É tão profundo que meu peito aperta. Meu corpo todo dói por ela.

Mais forte do que essa dor e essa saudade é o amor que sinto pela a minha pequena, um amor que eu não imaginava ser tão forte.

Neste momento, estou diante do espelho do meu banheiro. Mais uma vez, acordei na madrugada, ouvindo ela me chamar e gritar por mim.

Olho para o lado e vejo uma foto da minha menina. Ela está na igreja, com as mãos levantadas em adoração ao Senhor.

Lembro-me tão vividamente desse dia. Na noite anterior, tivemos uma conversa significativa sobre a fé e o amor de Deus por nós. Comentamos sobre um filme que assistimos e como deve ser doloroso para os pais perderem seus filhos.

Clarisse, com seu coração bondoso e puro de criança, me fez refletir sobre essa situação de uma maneira diferente. De uma forma doce, que poderia extrair algo positivo.

Mas agora, estou aqui, vivenciando essa dor. Eu a perdi, para sempre.

Como posso encontrar algo bom em relação a isso?

Que bem pode surgir da tragédia de uma menininha ser assassinada por dois monstros doentios?

Fecho os olhos e recordo nossa conversa.

Flashback on.

Estou fechando a porta do meu quarto, enquanto observo minha loirinha que não para de pular um instante na minha cama.

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