❝Lívia Turgueniev ❞
• DEZESSEIS ANOS ATRÁS •
Eu estava sentada no colo da minha mãe, enquanto ela conversava animadamente com a senhora Mori. Estávamos na festa de aniversário da senhora Torrance. Algumas meninas fizeram uma apresentação de balé em homenagem a ela. Dizem que, quando jovem, a senhora Natalya foi uma bailarina excepcional.
Queria ir embora, mas mamãe parecia tão feliz em estar ali que não tive coragem de reclamar. Várias crianças corriam e brincavam no imenso jardim. Desde que nos mudamos, meu inglês, que antes era limitado às aulas, ainda não era bom o suficiente para me enturmar. Falar russo na maioria das vezes me isolava, e fazer amigos parecia impossível.
Já fazia duas semanas que estávamos aqui e, até agora, eu não tinha trocado mais de cinco palavras com ninguém. Na verdade, os únicos com quem eu falava eram meus amigos de Moscou por chamadas de vídeo, além de mamãe, tio Vasily e Andrei.
Andrei não veio com a gente. Ele ficou treinando com o dyadya Vasiliy. Quando perguntei o que ele achava da mudança, ele respondeu: "Пока мы вместе, всё хорошо!". Saber que estudaremos na mesma escola, apesar de em séries diferentes, me conforta um pouco. Pelo menos, teremos o recreio para passarmos juntos.
— Sua filha é uma menina linda, Yelena — disse a senhora Mori, sorrindo gentilmente.
— E o seu filho? Já deve estar bem crescido, não é? Lembro vagamente de tê-lo visto no último aniversário do Damon — respondeu mamãe, com um olhar nostálgico.
Minha mãe era madrinha do filho dos Torrance, mas eu nunca o conheci. Ele me viu quando eu era bebê, segundo as fotos do meu batismo, mas desde então, nunca mais nos encontramos. Quando meus pais vinham visitar, eu ficava na casa dos meus avós com Andrei, onde babushka sempre antecipava o fim do trabalho para brincar conosco.
Nenhum dos meus avós aprovou a mudança para cá. Na verdade, babushka Aleksandr, pai de minha mãe, brigou feio com ela. Eu estava dormindo, mas acordei com sede e ouvi os gritos quando fui à cozinha. Babushka me levou de volta para o quarto e me contou histórias até eu adormecer novamente.
— Sim, Kai é amigo do Damon — disse a senhora Mori, chamando a atenção de três meninos que se aproximavam.
— Mãe, vou jogar basquete com os outros meninos — falou um menino com traços asiáticos, que imaginei ser Kai.
— Kai — a mãe o lembrou, lançando-lhe um olhar que dizia "Você está esquecendo de algo?"
— Olá, senhora Turgueniev — disse ele, rapidamente corrigindo-se.
— Olá, meninos — mamãe respondeu, enquanto os outros dois meninos a cumprimentavam também. Um deles era sério e mais alto que os outros dois; o outro parecia mais descontraído, até engraçado. — Meninos, esta é minha filha, Lívia.
— Olá, Lívia — disseram os três, em coro.
— Oi — murmurei, sentindo o peso da vergonha. Nunca fui boa em fazer amizades; meus poucos amigos em Moscou estavam na minha vida desde que eu era bebê.
— Só não se esqueçam de voltar antes do bolo, ok? — advertiu a senhora Mori, carinhosamente alisando os cabelos do filho.
— Ok! Tchau, senhora Turgueniev, tchau, Lívia — disse Kai, afastando-se com os outros dois.
As duas mulheres riram e retomaram a conversa, mas logo foram interrompidas novamente.
— Boa tarde, senhora Turgueniev, senhora Mori — Erika Isla Fane, a filha de um joalheiro famoso, se aproximou, esbanjando educação. — Gostaria de perguntar se a Lívia pode brincar comigo? Não iremos longe e prometo que não nos meteremos em confusão.
Mamãe hesitou por um momento antes de se virar para mim.
— Você quer ir, моя любовь ? — perguntou, ao que concordei, ainda um pouco receosa por causa do meu inglês limitado. — Tudo bem, mas não vão muito longe.
Com a ajuda dela, desci do colo e segui Erika até o jardim, onde as outras crianças brincavam, conversavam e corriam. Ela quebrou o silêncio logo que nos afastamos das mães.
— Deve ter sido difícil se mudar — disse ela. — Nunca me mudei, mas não gostaria de ficar longe de todos. Deve ser horrível não conhecer ninguém.
— да — respondi automaticamente.
— да? — ela perguntou, confusa.
— Ah, desculpe! Força do hábito. "да" significa "sim" em russo — expliquei, envergonhada.
— E como se diz "tudo bem" em russo? — ela perguntou curiosa.
— Все в порядке — respondi.
— ВсI в пaрядкI — ela tentou, arrancando uma risada de mim. — Isso é difícil demais!
— Não foi tão ruim! Com um pouco de prática, você vai conseguir — a incentivei.
— As aulas começam essa semana. Está animada? — ela perguntou, visivelmente empolgada. — Eu mal posso esperar! Não aguento mais ficar em casa, está tão entediante!
— Não muito... Eu não conheço ninguém na escola — confessei, balançando as pernas.
— Bom, agora você me conhece. E tem a mim como amiga! — disse Erika com um sorriso radiante. — Na verdade, melhor amiga!
— Como pode ser minha melhor amiga se acabamos de nos conhecer? — perguntei, rindo, ainda tímida.
— Eu sinto isso — respondeu ela, dando de ombros. — Sinto que seremos grandes amigas. Você vai ver!
Sorri, menos envergonhada agora, e logo outra menina se aproximou.
— Vocês querem brincar de pega-pega com a gente? — perguntou.
Concordamos e nos juntamos ao grupo. Brincamos por vários minutos até cansarmos e decidirmos trocar para esconde-esconde. Uma garota foi sorteada para contar, enquanto todos nós corríamos para nos esconder.
Me afastei, procurando um lugar onde não me encontrassem facilmente, e sem perceber, já estava longe das outras crianças. Ao me deparar com um grande labirinto, hesitei. Ele era imenso e bem cuidado, mas algo nele me causava uma sensação estranha, uma mistura de curiosidade e medo.
Decidi não entrar, mas quando ouvi vozes se aproximando, mudei de ideia e corri para dentro do labirinto. Estava escuro, com pouca iluminação, mas dava para ver que era bem cuidado. A cada passo, a sensação de estar perdida aumentava, e logo percebi que não sabia mais o caminho de volta.
Foi então que meus olhos encontraram os dele, e algo dentro de mim parou.
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• Пока мы вместе, всё хорошо! = Enquanto estivermos juntos, está tudo bem!
• моя любовь ? = Meu amor
• да = Sim
• Все в порядке = Tudo bem
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⤞ 𝐌𝐨𝐲 𝐚𝐧𝐠𝐞𝐥𝐨𝐜𝐡𝐞𝐤 ────── 𝐃𝐚𝐦𝐨𝐧 𝐓𝐨𝐫𝐫𝐚𝐧𝐜𝐞 ⤟
Fanfic♧ 𝐃𝐚𝐦𝐨𝐧 𝐓𝐨𝐫𝐫𝐚𝐧𝐜𝐞 × 𝐅𝐚𝐦𝐞𝐥𝐞 𝐨𝐜 𝐋𝐢́𝐯𝐢𝐚 𝐓𝐮𝐫𝐠𝐮𝐞𝐧𝐢𝐞𝐯 ♤ ❝ Ele a machucou de uma maneira que ninguém antes havia feito, a destruio de formas imagináveis mas ela ainda continuou amando ele, mas todos nós sabemos que só amo...