Capitulo 1: O Pacto de Sangue

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A noite estava sufocante. O céu, coberto de nuvens escuras, refletia o caos do Apocalipse que já se espalhava pelo mundo. Dean Winchester mal conseguia manter os olhos abertos, o cheiro de sangue impregnado em suas roupas, a dor latejante espalhada por todo o corpo. Havia enfrentado muitos demônios naquela noite, mas o último, um dos lacaios de Lúcifer, havia sido implacável. A lâmina de Ruby ainda estava firmemente presa na sua mão, mas seus dedos estavam fracos, mal conseguindo segurá-la. Sam estava caído a alguns metros de distância, inconsciente, mas vivo. Castiel, desaparecido. Dean sabia que estava à beira da morte.

Ele sentiu o chão frio contra o corpo enquanto sua visão ficava turva. Sua respiração era difícil, o gosto metálico do sangue enchendo sua boca. Por um momento, pensou que esse era o fim. Seria uma morte rápida, mas não honrada. Lúcifer, ou quem quer que o encontrasse, ficaria com o prazer de saber que o caçador morreu de uma forma tão insignificante.

Então, a temperatura do ambiente mudou. Um frio cortante invadiu o lugar, como se a própria morte estivesse presente. Dean tentou abrir os olhos, mas tudo parecia escuro, exceto por uma figura que emergia lentamente das sombras. Seus passos eram suaves, quase silenciosos. Ele pôde sentir sua presença antes de vê-la claramente.

— Dean Winchester — a voz feminina ecoou como um sussurro, carregada de poder e algo perigosamente sedutor. — Não imaginei que o grande caçador estivesse pronto para desistir tão cedo.

Dean tentou se mexer, sua mão instintivamente apertando a lâmina de Ruby. Seus olhos finalmente focaram na figura à sua frente. Ela era extraordinária. Seu cabelo castanho encaracolado caía suavemente pelos ombros, seus olhos pretos como a noite brilhavam com uma intensidade que parecia atravessá-lo. A pele dela, levemente pálida, contrastava com a escuridão ao seu redor, e seus lábios esboçavam um sorriso debochado. Ela irradiava um poder quase tangível.

— Quem... quem diabos é você? — Dean forçou as palavras a saírem, mesmo que cada sílaba trouxesse dor.

Ela deu alguns passos à frente, inclinando-se levemente para olhá-lo diretamente nos olhos.

— Ariella Mortis — disse, com um leve tom de zombaria na voz. — Sou filha da Morte

Dean franziu o cenho. Filha da própria morte? Por que ela estaria aqui? Suas mãos tremeram enquanto tentava se levantar, mas seu corpo o traiu, caindo de volta no chão.

— Estou aqui para lhe oferecer uma escolha — disse ela, observando-o com um olhar penetrante. — Posso salvar sua vida, curar suas feridas, garantir que você viva para continuar lutando nesse maldito Apocalipse. Mas... — ela deu um passo ainda mais próximo, sua voz se tornando suave como seda — tudo tem um preço.

Dean sentiu o peso daquelas palavras. Era claro que ela não estava ali por bondade. Nada nesse mundo, ou no sobrenatural, vinha de graça. Ele bufou com dificuldade.

— E qual... é o preço?

Ariella sorriu de lado, um sorriso travesso, quase provocador.

— Você me deve uma. Uma vida, Dean. Em algum momento, seja no final desta guerra ou em outra, eu vou vir buscar algo de você. Talvez seja uma alma, talvez seja uma promessa. Isso eu decido. Mas até lá... você vive.

Dean, mesmo ferido e à beira da morte, ainda sentia o instinto de lutar contra qualquer coisa que tentasse manipulá-lo. Mas olhando nos olhos de Ariella, ele sabia que não tinha outra escolha. Sam estava inconsciente, Castiel desaparecido. O mundo ainda precisava dele. O Apocalipse ainda não havia terminado.

— E se eu recusar? — perguntou ele, a voz fraca, mas desafiadora.

— Então você morre aqui. Agora. — Ela inclinou a cabeça, seus olhos brilhando intensamente. — E Lúcifer triunfa. Quer mesmo deixar seu irmão sozinho nesta guerra? Por que pra mim…tanto faz.

Dean praguejou internamente. Não havia como sair dessa. Ele já havia feito muitos pactos no passado, e todos o levaram a uma encruzilhada ainda pior. Mas desta vez, ele não tinha escolha. Se morresse ali, o mundo estaria condenado. Lúcifer venceria. E ele não podia deixar Sam enfrentar tudo sozinho.

— Tá bom — disse ele, finalmente. — Eu aceito.

Ariella sorriu, agora com um ar de vitória. Ela se ajoelhou ao lado dele, sua mão pálida tocando suavemente o peito de Dean, exatamente onde o sangue encharcava suas roupas. O toque dela era gelado, mas ao mesmo tempo, algo nele parecia reconfortante, como se a morte em si estivesse estendendo uma mão gentil.

— Não se preocupe, Dean. — Ela inclinou-se mais perto, seus lábios próximos ao ouvido dele. — Ainda há muita luta pela frente. E eu estarei por perto.

Então, num piscar de olhos, Dean sentiu seu corpo começar a se regenerar. As feridas estavam desaparecendo, e a dor estava se dissipando. Era como se ele estivesse sendo refeito, cada célula voltando ao seu estado original, senão melhor.

Quando ele abriu os olhos novamente, Ariella estava de pé, olhando-o com um sorriso enigmático.

— Nos veremos em breve, caçador — disse ela, antes de desaparecer nas sombras.

Dean respirou fundo, sentindo seu corpo inteiro novamente, sem dor, sem fraqueza. Ele sabia que agora havia algo mais com que se preocupar além do Apocalipse. Uma dívida com a filha da morte.

Ele cambaleou até Sam, que ainda estava inconsciente. Ver o irmão assim fez sua mente voltar à realidade de imediato. Seus pensamentos se misturavam: o Apocalipse, Lúcifer, os demônios... E agora essa Ariella. "Droga!", pensou. "O que eu acabei de fazer?"

Enquanto levantava o corpo de Sam com dificuldade, uma dúvida corroía sua mente. Os demônios não parariam, iriam voltar, especialmente agora que sabiam onde ele estava. Mas o que mais o preocupava era o que fariam com Sam. Se ele caísse, seria o fim. 

— Malditos demônios vão voltar... e vão vir atrás de mim, de Sam. — Dean murmurou para si mesmo.

Subitamente, o ar ao seu redor esfriou novamente. Ariella estava de volta, sua presença imponente e fria o envolvendo. Ela o observou por um momento, antes de responder com um tom quase condescendente.

— Ninguém se atreveria a tocar em vocês, Winchester — disse ela, seu olhar sombrio, mas firme. — Se algum demônio ou anjo tentar algo contra você ou seu irmão, eu mesma cuidarei disso. 

Dean ergueu os olhos, ainda tentando decifrar aquela mulher diante dele.

— Por quê? — perguntou, quase em desespero. — Por que ajudar? Você tem algo a ganhar com isso?

Ariella sorriu, um sorriso travesso que não revelava muito.

— Vamos apenas dizer que minha própria sobrevivência depende da sua. Além disso, estou curiosa para ver onde tudo isso vai dar.

Dean não sabia se isso o tranquilizava ou o deixava ainda mais nervoso. Mas naquele momento, com Sam nos braços e a promessa de proteção dela, ele se viu sem muitas alternativas. Ariella desapareceu novamente, deixando apenas o eco de sua promessa.

Ninguém tocaria nos Winchesters sem enfrentar a ira da filha da morte.

A Guardiã do Fim~ Dean Winchester Onde histórias criam vida. Descubra agora