medo bobo

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DUAS SEMANAS ATRÁS EU HAVIAvoltado para minha casa

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DUAS SEMANAS ATRÁS EU HAVIA
voltado para minha casa. Minha mãe sumiu outra vez, sem explicação ou pedido de desculpas. Hoje, Anna iria voltar para casa, então eu estava um pouco emotiva.

— Me liga quando chegar. Assim que pisar o pé fora do ônibus, tudo bem? Vai me avisando sempre que conseguir internet. Não fala com ninguém estranho e toma cuidado nos banheiros. Se se sentir ameaçada, grita "mãe" que alguém vai olhar e te ajudar. -Eu digo para a adolescente, que revira os olhos com minhas palavras.

— Eu já sei disso, Ciça. Mas obrigada mesmo assim. E obrigada por me desculpar. -Ela diz, me abraçando forte.

— Não se preocupa com isso. Está tudo bem. Eu te amo muito. Manda um beijo pra todo mundo lá. -Eu digo beijando sua bochecha e secando meus olhos.

Anna entra dentro do ônibus, e eu espero um tempo antes de sair dali.

Ter minha irmã comigo nessas últimas semanas foi maravilhoso. Eu não fiquei sozinha e tive o apoio dela em cada sessão de quimioterapia. Agora, era como se eu tivesse perdido um pouco o rumo.

Hoje era dia de consulta, mais uma daquelas que poderiam mudar tudo. A sensação de incerteza sempre vinha junto, me perseguindo como uma sombra. Olhei para o espelho, tentando me concentrar, mas meus pensamentos estavam em outro lugar. Ou melhor, em outra pessoa. Chico.

Respirei fundo. Ele vinha sendo uma constante na minha vida, sempre ali, sempre presente. O problema é que eu não sabia mais o que sentir. Era para ser uma fachada, não era? Um namoro falso para ajudar a afastar a percepção  dos outros sobre ele. Mas, com o tempo, algo foi mudando. Algo entre nós dois. Eu gostava mais dele do que conseguia admitir, e isso me assustava. Eu não queria me abrir para ser largada na escuridão mais uma vez. Não queria que ele se magoasse no final disso tudo. Só que eu não podia deixar que isso me distraísse. Não hoje.

Coloquei o casaco e, quando saí do quarto, lá estava ele, encostado no batente da porta, me olhando com aquela intensidade que sempre me fazia querer desviar o olhar ao mesmo tempo em que me mantinha vidrada em seus olhos.

— Eu vou com você hoje  -Ele disse.

— Ah, mas nem fodendo. -Eu tento argumentar. Já não bastava Chico precisar lidar com tudo isso, eu não queria que ele me visse tão vulnerável ainda.

— Eu não aceito essa palavra, querida. -Ele me olhou de um jeito que fez meu coração acelerar por um momento. Havia uma força nas palavras dele, uma proteção silenciosa.- Já disse que estamos nessa juntos, Lia. -O garoto diz, caminhando até mim e selando nossos lábios, o que acaba fazendo com que eu ceda.

O caminho até o hospital foi mais silencioso do que eu esperava. Normalmente, Chico fazia piadas ou falava de qualquer coisa só para me distrair. Mas hoje, ele parecia pensativo, quase distante, mas nunca deixava de olhar para mim, mesmo que eu tentasse fingir que não notava. Eu me perguntava o que se passava na cabeça dele. Será que ele estava começando a se arrepender?

Como eu quero - Chico MoedasOnde histórias criam vida. Descubra agora