Verdade n° 8: Frederico é tão ruim quanto o resto. Ele nasceu para fazer parte dessa família.
É o dia da festa de lançamento da campanha de Aquiles, e eu ganho um vestido novo para a ocasião. Aquiles diz que não me quer lá, mas papai diz que é importante que nos vejam todos juntos e saibam que nossa família é unida e perseverante, apesar de todas as adversidades. Eu não faço questão de ir, mas imagino que posso encontrar com Caio depois então deixo que Maya me arrume e faça a minha maquiagem.
Ela usa um vestido azul com caimento elegante, os cabelos amarrados em um coque e brincos de ouro branco. Está muito bonita e isso me faz pensar em Felipe. Fui novamente ao bar ver ele tocar, e ele me apresentou uma ruiva simpática com quem está saindo. Eles me deixaram em casa depois, e Íris estava me esperando no quarto, ansiosa por ouvir as novidades. Nós passamos a noite inteira falando sobre os dois. Agora é manhã e já estão todos se arrumando porque a festa vai ser durante o almoço.
As mãos dela são gentis no meu rosto e no meu cabelo, e minha irmã observa tudo de perto porque quer aprender a fazer maquiagem. Eu observo seu vestido azul, o sangue em seu rosto, e não digo nada. Ela tem se irritado muito comigo nos últimos dias, especialmente porque eu não deixo que ela vá comigo ao bar ver Felipe tocar ou quando me encontro com Caio, e isso significa que pela primeira vez em nossas vidas nós temos vidas separadas uma da outra.
- Que horas posso ir embora?
- Vamos ter que ficar até o final. Mas acho que você pode escapar depois dos discursos - sugere.
Estou olhando para ela pelo espelho enquanto ela faz cachos no meu cabelo. Me deram um vestido azul, que é a cor do partido de Aquiles e Papai, mas eu não quis usar. Então Maya me emprestou um de seus vestidos. Ele é verde claro, com mangas compridas.
- Conta pra ela sobre Dany - Íris fala, mas vejo um movimento na porta e não dou atenção.
Pelo espelho posso ver Melissa nos espiando pela porta entreaberta, e ela está tão parecida com Íris que por um momento me assusto. É o mesmo cabelo liso e loiro, os mesmos olhos azuis e curiosos e, o pior de tudo, também usa um vestido azul no mesmo tom que o da nossa irmã morta.
Maya sorri para ela, a chamando para entrar. Nós quatro sabemos que Melissa não tem permissão para falar comigo, mas todos estão muito ocupados se preparando para a festa e mamãe e papai estão no andar de baixo treinando os seus discursos, então ela olha para o corredor uma última vez e entra, deixando a porta aberta.
- Quer que eu faça cachos no seu cabelo, querida?
- Mamãe não deixa.
Ela se senta na pontinha da cama, parecendo tímida. Sei que ela já esteve aqui quando eu não estava, porque Íris me contou. Odeio vê-la com essa roupa, mas não posso falar nada. Fico calada enquanto Maya termina meu cabelo e Melissa me observa da cama. Íris sentou ao seu lado e acho que ela não tem noção do que a visão das duas juntas ali faz comigo. Evito olhar na sua direção. Quando Maya termina e já está guardando seu material, sinto a presença de Atena antes mesmo de ouvir nossa cunhada cumprimentá-la.
– Você quer que eu faça seu cabelo, Atena?
Ao invés de responder, minha irmã mais velha olha para mim, para Melissa, e sua voz soa exatamente no mesmo tom mandão que ela usava comigo e com Íris na infância.
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As Dez Verdades de Cassandra
Ficțiune generalăApós a morte precoce da irmã gêmea, Cassandra passou seis anos em uma instituição para jovens com problemas mentais. Aos dezoito, quando é liberada para voltar ao convivío familiar, tudo está diferente: seus irmãos mais velhos estão casados, sua irm...