Vinte e quatro horas

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As íris escuras divagavam pelas várias estantes de aço, as quais exibiam inúmeras opções de alimentos conservados prestes a passarem da validade, de aperitivos com procedências duvidosas e de alguns utensílios do dia a dia.

O ruído do ar-condicionado em mau estado já não era mais tão inconveniente quanto a um tempo atrás, na época em que Max ainda não havia se habituado à rotina de tomar conta do armazém de seu pai nas madrugadas, de segunda à sexta.

Quando o garoto encerrou o ensino médio, já sendo maior de idade, se viu sem alternativas ao não ser aprovado nas faculdades que ele pretendia ingressar. Desde então, conformou-se em trabalhar para o Pateta em seu mercado vinte e quatro horas, localizado na esquina da rua onde moravam.

Não é tão ruim quanto parece, antes era cansativo conciliar o emprego com a escola, mas agora tudo o que Max faz é relaxar na cadeira giratória atrás do balcão, gastar tempo com jogos online no computador da venda e rezar para que nenhum cliente aparecesse em seu turno.

Nesse momento, o Goof saboreava um salgadinho gorduroso que havia pego do mostruário perto da caixa registradora e mexia despreocupadamente no celular, acessando algumas notícias irrelevantes.

Um dos maiores pontos positivos de conhecer todos os indivíduos, sejam ou não da sua idade, que residiam por aquela área é não ter roubo na loja. Max cresceu naquelas vielas, junto dos jovens com as índoles mais questionáveis, e isso o dava uma boa garantia de segurança contra assaltos.

O barulho característico do sino que estava anexado em uma cordinha em frente a vidraça da entrada soou, tão repentinamente que o smartphone escorregou pelas mãos do moreno quando ele se sobressaltou.

Max ajeitou a postura após apanhar o aparelho que caiu sobre seus calçados surrados, por sorte a tela não trincou ou arranhou. O jovem tossiu, limpando a garganta para iniciar o atendimento com seja lá quem fosse. Entretanto, quando se deparou com os olhos azuis, repousou as costas no assento acolchoado de novo, refazendo o pensamento sobre a presença ser indesejada.

— Você me assustou. — O de piercings bufou, limpando os dedos sujos de corante artificial nas calças jeans que usava, ignorando o rabo que sacudiu feliz em sua coluna quando escutou um risinho. — O que tá fazendo aqui?

— Não posso mais visitar o meu namorado no trabalho dele? Que malvado, amor... — O recém chegado retrucou, aproximando-se com a voz melodiosa que sempre embaraçava os sentidos do Goof.

Max cerrou os olhos, esticando as pernas no vão debaixo do balcão, aguardando os próximos movimentos de Bradley, o qual não desperdiçou a oportunidade de se alojar no colo do menor.

— Você, tipo... não vai ter que apresentar um seminário sobre turbinas amanhã? — Questionou, agarrando a curvatura perfeita da cintura do namorado para o acomodar melhor, sentindo os toques das palmas quentes do outro se posicionarem em seus ombros.

— Sim, mas deixa isso pra amanhã. — Respondeu, cortando qualquer repreensão que Max estava pronto para vociferar com um beijo profundo.

Bradley entrelaçou as línguas em um deslize um tanto desesperado, deslizou suavemente os dedos contra o pescoço do moreno para os entranhar nos cabelos lisos e negros que tanto adorava agarrar. Max acompanhava o ritmo devastador que o maior estabeleceu, se permitindo ser devorado pelos lábios macios enquanto massageava a pele aveludada da lombar sob o suéter escuro que a cobria.

Naquele dia, iriam completar uma semana sem estarem na companhia um do outro; sete dias inteiros que foram torturantes para o casal.

Bradley estava atarefado no curso de ciências aeronáuticas, e decidiram juntos manterem contato por ligações e mensagens durante aquele curto período, uma vez que Max era uma distração, desnecessariamente atrativa, para sua mente. Mas o aperto no peito, causado pela saudade que sentia do namorado, foi tão grande que sentiu que poderia facilmente se asfixiar pela falta do seu moreno.

Dessa vez, tinha dado voz ao coração, e agradecia a si mesmo por não ter seguido a razão, já que teria perdido a sensação gostosa que é praticamente se afogar na troca intensa de saliva que estavam realizando ao que, simultaneamente, suas ancas preenchiam as mãos do mais novo. Estavam tão enroscados nos corpos um do outro que pareciam ser uma só coisa.

De repente, o momento alucinante foi quebrado em segundos após o barulhinho do sino da porta fazerem-os se afastarem um do outro bruscamente. Houve, no entanto, um equívoco quando Max se escondeu debaixo do balcão, como sendo seu primeiro instinto de sobrevivência, e Bradley ficou em pé, com os joelhos meio trêmulos e com o rosto inteiramente vermelho.

— Boa noite. — Brad saudou o homem de meia idade que adentrou o local, torcendo para que ele não tenha presenciado o seu show com Max.

O cliente estava fardado com um uniforme de policial e com uma expressão séria, parecendo até meio sonolento, Bradley examinou os passos lentos entre as estantes.

O acastanhado já estava menos ofegante no instante em que sentiu uma de suas pernas ser atada, ao fitar descobriu que Max a abraçava, com a lateral do rosto decorado com piercings apoiada em sua coxa, o olhando de baixo com um sorrisinho adorável, fazendo com que o coração de Brad apresentasse uma batida errada.

Bradley reagiu como Max já esperava, o chutando para longe e evitando cruzar os olhares ao mesmo tempo que o oficial se aproximou com certos pacotes de balas de goma em posse.

O mais velho passou tempo o suficiente com Max no mercado para ter aprendido naturalmente como escanear o código de barras de determinado produto, utilizar a máquina de cartões de crédito e registrar a compra no sistema do computador. Assim, o moreno somente se preocupou em não ser visto pelo cliente.

— Algo mais, senhor? — Questionou, tentando não soar rude ao fazer um laço na sacola de compras. Não iria negar, estava sim impaciente com a presença nada convidativa que atrapalhou o clima de uma quase foda rápida com seu namorado na sala dos fundos.

— Não. — Ele disse, pegando o saco plástico e já se virando para voltar à viatura que o aguardava na calçada. — Valeu, garoto. — Disse antes de fazer o sino balançar novamente ao sair do estabelecimento.

Bradley enfim pode respirar mais tranquilo, sentando-se despojado na cadeira móvel. o Goof se ergueu de onde estava, se espreguiçando e grunhindo sobre o chute que recebeu minutos anteriores.

— Você acha que ele viu algo? — O mais alto cobriu o rosto corado com as mãos. — Que vergonha... — Choramingou, ouvindo Max passar por si.

Max arrastou uma cadeira de plástico que estava próxima deles e se ajustou ao lado do namorado, colando os assentos mesmo que eles fossem de alturas diferentes.

— Se ele notou, provavelmente achou que você tava batendo uma de costas pra porta... sorte a dele se fosse verdade. — Disse rindo desavergonhado e sendo estapeado por um Bradley raivoso.

— Não sei porque eu aceitei namorar com um sem noção como você! — Cruzou os braços, falhando em tentar resistir aos beijinhos que Max depositava em seu rosto.

— Não adianta mentir, eu sei que você me adora... — Selou os lábios em um selinho longo, e Brad não foi capaz de ir contra a afirmação.

Bem Me Quer; Maxley'sOnde histórias criam vida. Descubra agora