Bradley estava divagando em pensamentos, caminhando pelos caminhos de pedras planas no jardim público do centro da cidade. O céu estava colorido em tonalidades alaranjadas e liláses, indicando o fim da tarde pacífica daquele dia.Em uma de suas mãos estava uma casquinha de sorvete de flocos, o qual escorria e sujava os dedos de forma progressiva, e na outra ele apertava firme a corda que escoltava Regina, sua adorável cadelinha maltês.
Regina o guiava ao passo que explorava os arbustos floridos e desviava das pessoas que passavam por eles. Apesar de Brad algumas vezes precisar a repreender por tentar correr atrás de certas crianças que brincavam por perto, o acastanhado degustava do clima ameno.
— Pluto, não!
Em um minuto Bradley estava tranquilo, noutro ele se encontrava espatifado de barriga para baixo na grama.
— Meu sorvete... — Choramingou, observando a sobremesa estraçalhada a poucos centímetros de si. — Que droga!
— Porra, desculpa!
Brad virou o pescoço rapidamente ao reconhecer a voz, fitando o calouro com os olhos azuis semicerrados.
Fazia um determinado tempo que ele não tinha notícias de Max Goof, seu alvo preferido para atazanar, devido ao fato de que não havia sentido em manterem contato após concluírem o ensino médio e ambos seguirem caminhos distintos.
Cinco anos a mais, aparentemente, fizeram muito bem ao calouro, Bradley notou; o moreno estava com o corte de cabelo mais curto do que recordava, e tinham mais algumas jóias enfeitando o rosto jovial e bonito. O acastanhado franziu o cenho, enquanto esquadrinhava as vestes do outro, refletindo que ele manteve a essência despojada, mas um tanto quanto apresentável.
— Tinha que ser você, não é? — Brad bufou, revirando os olhos e se erguendo. Espalmou as mãos no tecido arejado de sua calça e na camisa larga que trajava, visando retirar qualquer átomo de poeira e sujeira que tenha grudado ali.
— Foi mal, aí... — Max coçou a nuca, constrangido com a situação que ele se meteu.
Minutos atrás, o mais novo estava passeando com Pluto, o bloodhound de seu tio, quando o cão de repente lançou-se em disparado em uma direção e o arrastou junto, e Max não queria admitir que não teve força física o suficiente para evitar que Pluto derrubasse o veterano.
Bradley estava pronto para se afastar e dar continuidade a caminhada em volta do parque, porém foi impedido quando se deu conta que suas pernas estavam enroladas em uma amarra de coleira que não pertencia à Regina.
Uma das sobrancelhas grossas se levantou em descrença, fitando o cachorro esguio e de porte grande o rodeando, parecendo brincar com a cadela de lacinho, que por sua vez abanava o rabo animadamente e imitava as ações do cão de Max.
— Me tira daqui, seu idiota! — Brad bradou e grunhiu ao notar que o moreno cobria a boca com as mãos. — Se você rir eu juro que vou te esquartejar e dar sua carne como petiscos pra Gina!
— Quem é Gina? — Max prensou os lábios, evidenciando ainda mais o labret lateral de aço que ele adicionou à coleção de piercings. Se abaixou próximo a Brad, buscando desenrolar o mais rápido possível as guias entrelaçadas nas pernas do outro.
— A minha preciosa filha que seu cachorro pulguento, tão idiota quanto você, está perseguindo! — Resmungou entredentes, cruzando os braços e olhando de soslaio para o cuidado desnecessário que Max estava fazendo durante a missão de o libertar. — Vai logo com isso. — Exigiu, impaciente.
Na época do colegial, Bradley sempre sentiu essa bizarra atração por Max, refém da sensação de sempre querer o manter por perto de si... mesmo que os meios que realizava para isso acontecer eram os menos indicados. Mas, é como diz aquele velho ditado: "Pode questionar meus métodos, mas não meus resultados".
Com Max ali, ajoelhado diante de seus pés, com aquele corte de mullet baixo nos fios lisos e todo atencioso, evitando que o machucasse, fez as sensações de fascínios antigas o tomarem com força, como se uma grande onda o engolisse. E essa perspectiva somente aumentava a vontade de Bradley de correr e fugir para o ponto mais distante do planeta.
— Calma, só mais um pouco... — O Goof murmurou, retirando a última volta da corda que Regina deixou em um dos calcanhares do maior. — Pronto, madame. Morreu por esperar? — Sorriu irônico, enrolando a guia de Pluto no pulso para evitar que ele zarpasse novamente.
Os dois jovens se fitaram, silenciosos ao observarem cada traço que os moldaram após tanto tempo sem se encontrarem. Max percebeu que Bradley estava mais esbelto do que antes, com os cabelos castanhos mais longos, quase encostando nos ombros.
— Você furou a orelha? — O moreno questionou, verificando um brilho dourado na região meio escondida, intensificado pela luz artificial do poste que os iluminavam.
Brad desviou os olhos azuis para o lado, sentindo o rosto esquentar levemente ao retirar com as pontas dos dedos as mechas que cobriam a cartilagem citada, como uma reação automática de seu cérebro de querer impressiona-lo.
— Ficou bonito, combinou com você. — Ele respondeu, lambendo os lábios e tossindo para limpar a garganta e, antes que pudesse refrear a dúvida que surgiu em sua mente, perguntou: — Posso te pagar um sorvete?
O acastanhado piscou os cílios volumosos, não respondendo de imediato, mas com uma questão bem evidente e límpida em seus pensamentos.
Não havia motivos reais para querer fugir do magnetismo que o atraia sempre para próximo de Max... Afinal, o que o impedia de se aproximar dele, estando distante das grades da escola, de amizades ruins e das influências familiares? O calouro estava ali com ele, em um ambiente que anula suas diferenças, em uma situação que ele até poderia julgar como cotidiana.
Do que ele pretendia fugir, se desejava ser encharcado pela imensa onda que era Max?
— Só se for um com cinco bolas. — Falou, dissipando a tensão superficial que se instalou entre eles, enquanto refazia o caminho para a sorveteria da esquina, sendo seguido por Max e Pluto. — Pra compensar a merda que você fez, pentelho.
— Sabe o que tem duas bolas e não derrete? — O de piercings perguntou, com um sorrisinho de lado e acompanhando os passos mansos do maior.
— Existe um sorvete que não derrete? — Bradley demorou alguns segundos para entender o teor da pergunta, sob as risadinhas ridículas do outro. — Max! — Esbravejou, com as bochechas coradas e empurrando o mais novo, o qual só sabia gargalhar, para longe. — Babaca...