Capítulo 5, Treino;

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6 anos depois...

O pátio, construído propositalmente em uma colina acima do vilarejo, era iluminado pelo brilho do amanhecer e, vindos lá de baixo, era percetível os primeiros sinais de despertar. Mas nenhum deles me interessava. Estava com os olhos fixos nos dois guarda à minha frente, escolhidos a dedo por meus pais para me protegerem. Eles empunhavam firmemente suas espadas contra mim, e eu, contra eles. Que ironia.

Os dois, antes lado a lado, se separaram em duas extremidades ao meu redor como predadores cercando uma presa.

Eles se entreolham antes de avançarem simultaneamente. Permaneci imóvel por mais uns instantes, analisando seus movimentos.

Quando atacam, me movo com uma agilidade surpreendente, desviando dos dois primeiros golpes com uma combinação de movimentos e escapando do alcance do terceiro com um mortal lateral.

Depois de sair do centro, o primeiro guarda tentou novamente um golpe diagonal que desviei com facilidade, girando para contra-atacar com um corte rápido no seu tradicional uniforme preto.

O segundo guarda avançou logo depois, tentando aproveitar o momento de distração. Mas rapidamente me preparei. Girei sobre os calcanhares, bloqueando o ataque e o forçei a recuar.

Soube que meu sorriso enlouquecido de satisfação era percebido quando, com o canto do olho, notei a expressão da minha mãe nos bastidores da arena. Não era o rosto de alguém alegre. Mas não era culpa minha, não conseguia controlar o canto dos lábios quando sentia a adrenalina correr pelo meu corpo.

O sentimento de desaprovação causava um incômodo dentro de mim, mas não parei. Avancei com uma série de ataques rápidos e precisos, forçando os guardas a se defenderem impiedosamente.

Nossas espadas entrelaçaram-se em uma dança feroz, o som do metal chocando-se e causando o som de vários estalos.

Quando um dos guardas tenta uma investida suicida, prevejo facilmente uma abertura. Aproveito a oportunidade e o desarmo com um movimento ousado, trocando os pés pelas mãos e chutando a espada dele para longe. Ou melhor, dela. E a mesma se retira frustrada do recinto.

Entretanto, sem saber onde havia parado a minha espada, acabei ficando exposta. O segundo guarda, somando isso a sua companheira desarmada, hesitou por um breve momento, mas logo avançou em minha direção, manuseando a arma confiante de que acabaria com a luta ali.

Seu nome era Ethan. E não é à toa a confiança que tem, pois além de ser o mais jovem dos guerreiros da ilha, também é o sucessor de Thork.

O olho com uma expressão preocupada antes de correr para o outro lado. E assim que me viro, volto a sorrir maliciosamente.

Mal sabia ele que aquilo fazia parte do meu plano de o atrair até a parede de armas, para que eu pudesse apanhar meu machado favorito, o qual tinha ganhado de meu pai.

Ethan corria atrás de mim enquanto eu fingia estar nervosa. A tensão havia ficado enorme nesse meio tempo. Em segundos, ele já estava em cima de mim quando virei-me novamente com a arma em mãos e ele não tardou em atacar com um corte descendente.

Bem a tempo, ergui o machado, bloqueando a lâmina com um ruído metálico de roer os dentes. Ficamos naquela posição por um longo instante, um tentando fazer o outro recuar.

- O que está fazendo, princesa? - Perguntou. Mas não soube ao certo que tipo de expressão ele estava fazendo por conta da máscara que usava.

Não o respondo e ele recua para preparar o próximo ataque. Então avanço, equilibrando-me perfeitamente entre ataque e defesa.

Um giro rápido do meu machado por pouco não atinge Ethan, que teve que dar um passo ágil para trás.

Aproveitei de sua retração e tomei iniciativa: com toda força, desferi um golpe lateral e ele, que levantou a espada para bloquear, perdeu o equilíbrio por um segundo precioso.

- Me divertindo. - Digo finamente.

Mergulho sob sua guarda e lhe dou uma rasteira na perna de apoio, derrubando-o no chão.

Ele cai, e antes que pudesse levantar a espada em defesa, faço a lâmina do machado tocar delicadamente a superfície de sua máscara preta.

- Não vai querer outro corte, vai?.

Ethan, cansado, atira o pano que cobria o rosto ao chão.

Abaixo o machado e estendo a mão para ajudá-lo a se levantar, porém, o mesmo recusa. - Deixe-me morrer em paz, princesa. Não humilhe mais este pobre guerreiro.

Rio de suas palavras dramáticas e faço menção a sair. - Como quiser.

- Ei! - Ele rapidamente se levanta e me segue, mantendo-se um pouco atrás. - Você realmente ia me deixar? - Pergunta, fingindo estar indignado.

- Eram as últimas palavras de um pobre guerreiro, como eu poderia recusar?

Nós dois continuamos a rir até que percebo ele parar, tanto de rir quanto de andar, para congelar em uma saudação típica.

Minha mãe, que até então se mantivera distante, caminhou até mim com uma expressão de leve desaprovação.

- Scarlett - Chamou, com um resquício de irritação na sua voz cheia de uma autoridade calma. - Era para ser uma luta com espadas. Você não precisava provar sua força com o machado, e sim sua graça com a espada.

Um pouco ofegante e tentando ao máximo manter o sorriso desafiador, respondo: - Acho que não importa a arma que eu use, contanto que a vitória seja minha. Além que, preciso estar preparada para tudo, você não acha?

A expressão dela se contrai por um momento, mas retoma a alta seriedade após um suspiro, balançando a cabeça negativamente.

- Em parte talvez você tenha razão. - Disse finalmente. - Mas lembre-se, a disciplina é tão importante quanto a força. E era essa - Destacou, passando a caminhar em direção à parede de armas. - a finalidade do exercício. Este treino você venceu porque estava lutando sozinha, mas quando estiver liderando a tribo, possivelmente em batalha, não vai poder se arriscar tanto como fez ao ficar desnecessariamente exposta, apenas por mera diversão. Quando se está liderando, precisa-se ser íntegro ao seguir regras, justo com seus aliados, humilde quando obter a vitória, responsável e...

Eu já havia ficado cansada de ouvir na parte das "regras". E estava deixando isso claro, encenando algumas caras e bocas pensando que ela não notaria. Foi quando notei minha mãe sorrir...?

Um movimento rápido na sua mão, até então, sofisticadamente posicionada atrás do corpo, revelou suas intenções.

- ...Autodisciplinado. - Completou ela, lançando dois pequenos objetos prateados que cintilaram no ar - dardos tranquilizantes.

O primeiro deles veio direto em direção ao meu pescoço. E ainda que por pouco, consegui desviar habilmente dele e sorri triunfante. O segundo estava em uma trajetória ruim, então nem me preocupei.

- Ha! - Exclamei. - Viu, autocontrole? - Disse, exibindo-me com os braços.

- Certeza? - Ela apontou.

Ao desviar do primeiro dardo, não vi o lançamento de um terceiro, que acabou ajustando a trajetória do segundo, já preso nas costas da minha perna.

Arregalei os olhos de surpresa enquanto o mundo ao meu redor começava a girar e, com um gemido fraco, caí de joelhos, lutando para manter a consciência.

Minha mãe se aproximou e segurou delicadamente meu queixo para que eu a olhasse ao falar: - Ethan,

- Sim, rainha?

- Por favor, ajude-a a voltar para casa. Quando o efeito do veneno passar, garanta que ela transcreva as qualidades de uma líder cinquenta vezes até amanhã. Ela não sai de casa enquanto isso.

O que?!

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⏰ Última atualização: Oct 16 ⏰

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