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Quando ela terminou, foi bem rápido, aliás, depois de tudo, ela poderia simplesmente implantar as memórias no cérebro dele sem que ele tivesse que assistir a tudo de novo.
Ela estava de volta à sua cadeira, de volta às roupas casuais e sentada reta, de frente para ele.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo, ou será que pareceu mais longo para ela? Para ser honesta, ele provavelmente não ficou quieto por mais que alguns segundos, mas ela estava petrificada esperando que ele dissesse algo.

Ela não tinha certeza do porquê estava tão assustada; seu lado racional continuava dizendo que ela não tinha nada a provar ou a explicar, ela foi forjada como a Feiticeira Escarlate e não devia nada a ninguém. No entanto, seu lado sensível, aquele que ansiava por ser aceita, por ser valorizada, temia receber julgamento de um homem que pudesse entendê-la. Como se, se James Barnes não pudesse aceitá-la ou pelo menos simpatizar com ela, ninguém mais poderia.

— Eu posso ir embora, se você quiser — ela estava cansada de esperar que Barnes dissesse algo, então quebrou o silêncio — Eu não vou deixar os meninos — ela impôs — mas eu não preciso ficar aqui.

— Eu não ia pedir para você ir embora — ele disse simplesmente, agora de frente para ela — Eu só gostaria de perguntar se você faria isso de novo?

— Sim — ela não hesitou — se isso significasse estar com meus filhos.

— Eu também — foi tudo o que ele disse.

Wanda o encarou, surpresa, e nem viu ele vacilar. Ela não podia ler mentes, mas entendeu o que ele quis dizer. Ele passaria por toda aquela matança, todo aquele sofrimento novamente se precisasse para ficar com Billy e Tommy.

Ela não sabia a extensão do que o Soldado Invernal havia causado naquele mundo, mas se fosse algo próximo ao da Terra 616, então isso significava muita matança. E lá estava ele, admitindo o que muitas pessoas não fariam: ele colocaria seus filhos acima da vida de outra pessoa.

Isso não significava que ele gostaria disso. E, por isso, Wanda pensou, ela não gostava de toda aquela matança. Só significava que ele não faria nenhum sacrifício.

— Eu não sou um herói — ele disse depois de perceber que ela não estava respondendo — Minha... minha Wanda era. Ela costumava fazer as escolhas difíceis. Eu escolhi priorizar aqueles que são importantes para mim, se necessário. Isso também não me torna o vilão.

— Não, não torna — ela tinha certeza de que ele não precisava de sua reafirmação, mas sentiu a necessidade de dizer isso de qualquer maneira. Porque, por alguma razão, ela não suportava a ideia de que o homem à sua frente pensasse menos de si mesmo.

— Então, por que isso te tornaria? — Bucky disse, dando a ela um pequeno, mas caloroso sorriso, e ela não pôde evitar retribuir. — Não me entenda mal, há caras por aí que precisam salvar o mundo, eu estive envolvido nisso muitas vezes. Mas sempre haverá caras maus e não é nossa responsabilidade todas as vezes — ele se dirigiu à geladeira e pegou uma garrafa de leite, tomando um gole direto da garrafa — Agora, aqueles dois meninos lá em cima, desde a primeira vez que coloquei os olhos neles, eles sempre serão minha responsabilidade.

— Eu estou feliz — ela começou. Ele pacientemente esperou que ela continuasse — Eu estou feliz que eles tenham um pai como você. Obrigada por cuidar deles e por me deixar ficar — ele acenou com a cabeça.

Se Bucky fosse dizer mais alguma coisa, ele perdeu a chance porque Billy entrou correndo na cozinha e pulou em seu colo.

— Pai, pai, terminamos de organizar o quarto. Podemos comer aqueles biscoitos agora?

— E sorvete, Billy — Tommy entrou depois do irmão — Eu te disse para pedir sorvete também.

— Ah, certo, eu esqueci. Podemos ter sorvete também? — Billy disse ao pai, e Tommy se bateu na testa.

— Tommy — Bucky começou a repreendê-lo, mas Wanda podia ver que ele estava segurando o riso — O que eu disse sobre mandar no seu irmão?

— Ele disse que era errado — foi Billy quem respondeu, mostrando a língua para o irmão.

— Mamãe — Tommy disse sem perceber. Wanda olhou para Bucky para ver sua reação, e o homem estava olhando para ela, fazendo o mesmo — Billy está me mostrando a língua.

Wanda Maximoff nunca imaginou que faria isso, mas antes que percebesse, estava acenando com a cabeça para James, como se buscasse sua aprovação. Ela nunca pensou que teria que fazer isso. Mas então percebeu que queria. Ela não queria invadir a vida do homem ou desrespeitá-lo de alguma forma.

Com o aceno de James em retorno, ela deu espaço na cadeira em que estava sentada para que Tommy se aproximasse, e o garoto inconscientemente sentou-se em seu colo, colocando os braços ao redor de seu pescoço.

— Que tal — ela disse, colocando os braços na cintura do menino — nós comermos biscoitos com leite agora e, depois, quando vocês terminarem o jantar, você e seu irmão podem comer sorvete com calda de chocolate — ela sugeriu, olhando entre Tommy e Billy — Como isso soa?

— Eu gosto disso — Billy sorriu, descendo do colo do pai e correndo para sentar na perna de Wanda, a que não estava ocupada por Tommy — Podemos ter granulados também?

— Sim — ela acenou com a cabeça — de todas as cores.

— Yay!! — os dois meninos a abraçaram enquanto James observava a cena. Ela olhou para ele e sorriu, um olhar de cumplicidade entre eles.

Ela tinha um lar.

Two Ghosts | WinterwitchOnde histórias criam vida. Descubra agora