Capítulo 26

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Hoje era sexta feira e eu tinha acabado de vir das aulas e estava sentada no sofá a lanchar e a ver uma série.

Ouvi o barulho da porta a abrir e vi o João a entrar em casa, e percebi logo que algo não estava bem. Ele costumava entrar pela porta com um sorriso, cheio de energia depois dos treinos, mas naquele dia, estava diferente. Andava mais devagar, os ombros caídos, e a expressão na cara dele era de puro cansaço.

"Estás bem, João?" perguntei, preocupada, enquanto ele pousava a mochila no chão do hall de entrada.

Ele olhou para mim, com os olhos ligeiramente semicerrados e suspirou antes de responder.

"Sim... estou só cansado. O treino foi puxado," disse ele, mas a voz dele não tinha o seu tom habitual.

Aproximei-me, e toquei-lhe no braço. Ele estava quente. Não era normal. Mesmo depois dos treinos mais intensos, o João costumava estar a transbordar de energia, mas agora parecia estar a lutar contra algo mais forte do que o cansaço.

"João, estás a arder em febre. Estás mesmo bem?"

Ele abanou a cabeça, como se quisesse ignorar o que estava a sentir.

"Não é nada, Sofs. Deve ser só uma gripe ou algo assim. Passa logo."

Mas eu não estava convencida. Fui até à cozinha, enchi um copo de água e voltei para a sala, onde ele se tinha deixado cair no sofá, visivelmente exausto.

"Toma, bebe isto. Vai ajudar."

Ele aceitou o copo, mas a mão  dele tremia ligeiramente ao segurá-lo. Notei que ele tentava disfarçar, mas já o conhecia bem demais.

"Se calhar devias ir descansar," sugeri, sentando-me ao lado dele no sofá.

Ele assentiu, algo raro vindo do João, que costumava insistir que estava sempre bem, mesmo quando não estava. Levantou-se devagar e foi para o quarto. Eu segui-o, preocupada, e ajudei-o a deitar-se. Assim que tocou na almofada, parecia que o peso do mundo estava nos seus ombros.

"Se não te sentires melhor amanhã, não vais treinar," insisti, pondo-lhe a mão na testa, que continuava a escaldar.

"Sim, sim, amanhã já estou bem," respondeu ele, mas a voz soava mais fraca do que o normal.

Deixei-o descansar e voltei à sala, tentando concentrar-me em alguma coisa para fazer, mas a minha mente estava presa nele. Sabia que não era uma gripe qualquer. O João não ficava assim por pouca coisa. O silêncio na casa, que normalmente era um alívio depois de um dia agitado, agora era desconfortável, uma lembrança constante de que alguma coisa não estaa bem.

***

Algum tempo depois, voltei ao quarto para ver como ele estava. O João tinha adormecido, mas o sono dele não parecia ser dos mais tranquilos. A testa dele estava cheia de suor, e ele mexia-se de um lado para o outro. Fui buscar um pano húmido e coloquei-o na sua testa, tentando baixar a febre.

Quando ele finalmente acordou, algumas horas depois, a situação não tinha melhorado. Se alguma coisa, ele parecia ainda mais fraco. Estava com os olhos semicerrados, e a pele pálida contrastava com o habitual tom bronzeado que ganhava por causa dos treinos ao ar livre, principalmente agora que já estávamos no fim da primavera.

"Como é que estás?" perguntei, sentando-me ao lado dele.

Ele tentou sorrir, mas o esforço foi demasiado.

"Pior... acho que é mesmo uma virose ou algo assim. Acho que vou a casa de banho porque não estou mesmo a sentir-me bem."

O meu coração apertou-se. Ver o João assim, tão frágil, era difícil. Ele, que normalmente era forte e sempre a tomar conta de mim, agora estava ali, dependente dos meus cuidados.

Segui-o até a casa de banho onde ele quase não teve tempo de abrir a sanita antes de deitar tudo que devia ter comido para fora. Eu fiquei lá com ele a fazer-lhe festas nas costas para o reconfortar enquanto estávamos sentados no chão da casa de banho para ter a certeza de que ele não precisava de vomitar outra vez.

Entretanto voltamos ao quarto porque ele já estava ligeiramente melhor.

"Vou fazer-te um chá. E vou ligar à minha mãe para perguntar se ela sabe o que pode ser."

Levantei-me rapidamente e fui para a cozinha. Fiz o chá o mais depressa que pude, e enquanto esperava que ficasse pronto, mandei uma mensagem rápida à minha mãe, explicando a situação.

Ela respondeu logo, dizendo-me para ficarmos atentos aos sintomas e para garantir que ele bebesse muitos líquidos. Era uma pessoa tão calma e prática que as suas palavras trouxeram-me algum conforto, mas mesmo assim, continuei preocupada.

Voltei ao quarto com o chá e sentei-me ao lado dele. Ajudei-o a sentar-se e a beber alguns goles.

"Obrigada, Sofs," murmurou ele, com um ar cansado.

"Claro," disse eu, tocando-lhe suavemente no braço. "Estou aqui para cuidar de ti, sempre."

***

No dia a seguir o João continuava a piorar, e a febre não descia, apesar dos meus esforços para o manter hidratado e confortável. Não havia muito mais que eu pudesse fazer além de o vigiar e garantir que ele descansava o máximo possível. A casa estava silenciosa, sem a habitual energia dele a preencher cada canto.

Numa das noites, enquanto estava deitada ao lado dele, comecei a sentir umas dores de barriga estranhas. No início, pensei que fosse por causa do período que tinha vindo mais cedo, mas as dores começaram a intensificar-se lentamente. Tentei ignorá-las, focando-me no João e nos seus gemidos suaves enquanto dormia. Ele ainda estava febril, e eu sabia que, no dia seguinte, se ele não melhorasse tinha de o levar ao médico.

As horas passaram devagar, e as dores na minha barriga foram ficando mais persistentes. Já não era apenas um desconforto passageiro, era mais forte. Sentei-me na cama, tentando ajustar a posição, na esperança de que isso aliviasse o que quer que fosse aquilo.

Mas não melhorava.

"O que se passa, Sofs?" ouvi a voz rouca do João ao meu lado.

Virei-me para ele, tentando disfarçar a preocupação na minha expressão.

"Nada, só umas dores de barriga... Deve ser o meu período que veio mais cedo. Tu é que tens de te preocupar contigo."

Ele olhou para mim com os olhos pesados, mas o olhar era de preocupação genuína.

"Eu já estou melhor," mentiu ele, numa tentativa falhada de soar forte.

Sorri-lhe, apesar da dor, e toquei-lhe na mão.

"Não te preocupes comigo. Vamos concentrar-nos em ti primeiro."

No entanto, à medida que a noite avançava, as dores de barriga não desapareceram. Pelo contrário, pareciam estar a aumentar. Comecei a sentir uma espécie de aperto, uma sensação estranha que me fazia revirar na cama, incapaz de encontrar uma posição confortável. Eu sempre tive dores fortes por causa do período mas desta vez foi pior.

O João adormeceu novamente, exausto e ainda a lutar contra a febre. Eu, por outro lado, fiquei acordada, a tentar lidar com o desconforto crescente. Não queria preocupar o João mais do que ele já estava, mas sabia que algo não estava bem. As dores não eram normais, e cada vez que tentava descansar, elas voltavam a atacar com mais força.

A certa altura, o cansaço já era tanto que acabei por adormecer por um bocado. Quando acordei, o sol estava a nascer, e o João ainda dormia profundamente ao meu lado. Ele parecia um pouco melhor, menos pálido, e a febre tinha aparentemente começado a descer. Isso tranquilizou-me um pouco, mas as minhas próprias dores ainda estavam lá, persistentes.

Levantei-me devagar, tentando não o acordar, e fui até à casa de banho. Respirei fundo, tentando acalmar-me, mas as dores não desapareciam.

Algo estava definitivamente errado.
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um bocadinho de suspense para vocês 😁 espero que gostem, logo a noite ja sai outro 🫶🏻

Desculpem só ter postado agora, já era suposto ter sido a hora do almoço

Votem e comentem muito pls 🙏 Bjsss 🫶🏻

A game of pretend- João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora