Capítulo 28

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Contar aos nossos amigos sobre o que descobrimos no hospital foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. O João e eu passámos alguns dias em silêncio, a processar a notícia, a tentar perceber como íamos lidar com tudo. Apesar de ele me apoiar a cada momento, sabia que era algo que precisávamos de partilhar com as pessoas mais próximas. Não podíamos guardar isto só para nós.

Naquela tarde, combinámos um jantar em casa do António e da Carol. O António sempre foi o meu porto seguro, e a Carol já fazia parte da família. Decidimos que seria melhor contar-lhes primeiro, antes de falarmos com mais alguém.

Quando chegámos, o ambiente estava descontraído. A Carol já estava a preparar o jantar, e o António brincava com as suas piadas habituais, sempre a tentar fazer-nos rir. Eu e o João trocámos olhares nervosos. Sabíamos que, em breve, teríamos de falar.

"Então, manos, como têm andado? Têm andado muito ocupados, quase não vos vemos!" disse o António, enquanto nos dava umas cervejas.

Respirei fundo e olhei para o João, que assentiu ligeiramente, incentivando-me a começar. Pousei o copo na mesa e olhei para os dois.

"Bem... temos uma coisa que precisamos de vos contar," comecei, sentindo o meu coração a bater mais rápido. "Eu... fui ao médico, e... descobriram que eu tenho um problema de saúde."

Eles trocaram olhares preocupados. A expressão do meu irmão mudou imediatamente.

"O quê? O que se passa, Sofia?" perguntou ele, a voz cheia de preocupação.

Expliquei-lhes tudo o que a médica nos tinha dito, desde o diagnóstico de endometriose até à possibilidade de eu não poder ter filhos. Foi difícil falar sobre isso, ainda mais ao ver a expressão de choque e tristeza nas caras deles.

Quando terminei, houve um silêncio pesado na sala. Eu sabia que eles estavam a tentar processar a informação, tal como eu e o João tivemos de fazer nos últimos dias.

"Sofia..." começou a Carol, a sua voz suave mas triste "Não imagino o quão difícil deve ser para ti ouvir uma coisa dessas... mas eu quero que saibas que estamos aqui para ti, para o que precisares."

O António, sempre o mais prático, aproximou-se e deu-me um abraço apertado. "Não importa o que os médicos dizem, Sofs. Tu és forte, e vais conseguir ultrapassar isto. E, quem sabe, talvez ainda haja uma forma de teres filhos, mesmo que não seja da maneira que sempre pensaste."

O João, que tinha estado calado a maior parte do tempo, finalmente falou. "Sim, vamos encontrar uma solução. E mesmo que não seja possível... o mais importante é que estamos juntos, e podemos ser uma família, de outra forma."

Eu sabia que eles estavam a tentar ser positivos, mas a realidade ainda pesava sobre mim. Mesmo assim, o apoio deles foi um alívio. Era bom saber que não estávamos sozinhos nesta luta.

***

As semanas a seguir tinham sido complicadas. Depois da notícia difícil sobre a minha condição de saúde, passei muito tempo a tentar processar tudo. O João esteve sempre ao meu lado, dando-me apoio incondicional, mas ambos sabíamos que o assunto ainda pesava no ar. Foi aí que nos veio a ideia de uma escapadinha de fim de semana. Precisávamos de tempo só para nós, longe de tudo, para relaxar.

O João reservou uma pequena casa de campo numa aldeia remota, rodeada de natureza. Era o sítio perfeito para nos desligarmos da cidade e, com sorte, encontrarmos algum conforto nos momentos tranquilos.

Assim que chegámos, fiquei imediatamente encantada com o lugar. A casa era pequena, mas acolhedora, com uma vista incrível para as montanhas.

"Gostas?" perguntou o João, enquanto tirava as malas do carro.

"Adoro! Não podia ser mais perfeito", respondi com um sorriso. "Obrigada por isto. Estava mesmo a precisar."

Ele aproximou-se e deu-me um beijo na testa. "Fazes-me feliz só por estares aqui, Sofs."

Entrámos na casa e começámos a desfazer as malas. O plano era simples: descansar, aproveitar a tranquilidade, e esquecer um pouco as preocupações das últimas semanas.

***

Passámos o fim de semana a relaxar, a cozinhar juntos e a fazer caminhadas pela natureza. Falámos sobre coisas leves, rimos de pequenas piadas e aproveitámos cada momento. Era exatamente o que precisávamos: um tempo só nosso, sem as pressões do mundo.

No último dia, estávamos sentados na varanda, a ver o pôr do sol. O silêncio era confortável, mas eu sabia que havia algo no ar, algo que o João queria dizer. Ele olhou para mim com um olhar sério, mas carinhoso.

"Sofia, tenho uma coisa para te contar," começou ele, virando-se na minha direção. "Tenho andado a receber propostas de alguns clubes. Nomeadamente o Manchester United e o Psg"

Senti o meu coração apertar. Eu sabia que era o sonho dele, e ele tinha trabalhado tanto para chegar aqui. Mas a ideia de o ver partir, de o perder para outra cidade, outra vida, fez-me sentir mais vulnerável do que nunca.

"Isso é incrível, João," disse, tentando soar entusiasmada, mas a minha voz traiu-me. "Mas... o que é que tu vais fazer?"

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo, um gesto que ele sempre fazia quando estava nervoso. "Ainda temos negociações a fazer e tenho de esccolher para onde vou, mas ao mesmo tempo não quero que sintas que estou a escolher a minha carreira em vez de ti. Ainda mais agora, com tudo o que estás a passar."

Fiquei em silêncio, a tentar processar o que ele dizia. Sabia que o João não estava a tentar abandonar-me, mas a verdade é que o timing não podia ser mais complicado. E, então, uma ideia surgiu-me de repente, algo que nunca tinha considerado até aquele momento.

"João... e se eu fosse contigo?" As palavras saíram antes que eu pudesse pensar nelas. "Eu não quero que sintas que tens de escolher entre nós. Eu posso ir. Podemos começar uma nova vida juntos."

Ele olhou para mim, surpreso. "Sofia, estás a falar a sério? Mas eu nem sei para onde vou. E a faculdade? E a tua vida aqui?"

Eu tinha pensado muito sobre isso nas últimas semanas. A minha saúde, as expectativas que tinha para o futuro, tudo parecia ter sido posto em espera. Talvez mudar de sítio fosse uma oportunidade de me focar em mim mesma e na nossa relação.

"Posso estudar fora. Já estou a acabar o último ano e adorava fazer uma pós-graduação fora do país. E acho que preciso disto. Preciso de um tempo para mim, para me focar na minha saúde, sem a pressão de estar sempre a correr atrás de alguma coisa. Se estiver contigo, sei que vou estar bem."

Ele sorriu, visivelmente aliviado. "Não quero que mudes a tua vida por mim, mas se vieres, vai significar o mundo para mim. Sei que podemos fazer isto funcionar. Juntos, como sempre fizemos. E vamos com calma."

***

O regresso à cidade depois da escapadinha foi com mixed feelings. Eu e o João estávamos mais unidos do que nunca, mas sabíamos que os próximos meses iam trazer desafios. Ofertas de trabalho em clubes estrangeiros não eram questões fáceis de enfrentar, e apesar de termos decidido levar as coisas com calma, ambos sentíamos o peso das decisões que estavam por vir.
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A game of pretend- João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora