Capítulo 23

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Acordei com a luz do sol a invadir o quarto. Demorei alguns segundos a perceber que dia era, mas o meu coração deu logo um salto ao lembrar-me que era dia dos namorados. Não era um dia qualquer, não este ano. Algo dentro de mim dizia que hoje era especial. E ia passa-lo com o meu melhor amigo.

Virei-me devagar na cama e vi o João ainda a dormir profundamente ao meu lado. Sorri ao vê-lo assim, tão calmo, com o cabelo despenteado e a cara relaxada. Ele parecia completamente em paz, e isso aquecia-me o coração. Viver com ele nas últimas semanas tinha sido incrível. Todas as manhãs eram assim, acordar ao lado dele, sentir a calma que ele me trazia, como se o mundo lá fora fosse menos pesado.

Tentei sair da cama sem fazer barulho, não queria acordá-lo tão cedo. Fui até à cozinha, já com uma ideia do que queria fazer. Hoje era dia dos namorados, e eu queria que ele começasse o dia da melhor maneira possível.

Lembrei-me de como ele adorava panquecas, então, decidi que esse seria o pequeno-almoço perfeito. Comecei a preparar a massa, misturando os ingredientes com cuidado, enquanto o cheiro a café fresco começava a encher a cozinha. Os morangos e o chantilly estavam prontos, como toque final para o prato. Era simples, mas sabia que ele ia adorar.

Enquanto cozinhava, distrai-me com os meus pensamentos. Os últimos meses tinham sido uma verdadeira transformação na minha vida. Quando decidimos viver juntos, estava um pouco nervosa, não sabia como as coisas iriam correr. Mas desde o primeiro dia, tudo parecia encaixar. Era fácil estar com o João. Acordar e adormecer ao lado dele tornou-se a minha rotina favorita. Cada pequeno gesto, cada conversa, até os momentos de silêncio entre nós faziam-me sentir em casa. Ele era a minha casa.

Quando acabei de preparar tudo, fui até ao quarto para acordá-lo. Inclinei-me sobre ele e dei-lhe um beijo suave na bochecha, sussurrando: "João, acorda." Ele mexeu-se lentamente, abrindo os olhos com aquela expressão de quem ainda não sabia bem onde estava. "Bom dia," murmurou com a voz rouca, esticando-se um pouco na cama. "O que estás a fazer tão cedo?"

Sorri, divertida com a sua cara de sono. "Quero que venhas tomar o pequeno-almoço comigo. Preparei uma coisa especial," disse-lhe. Ele levantou-se devagar, ainda com o cabelo todo despenteado, mas com um sorriso no rosto.

Quando viu o que eu tinha preparado, o sorriso dele cresceu. "Tu és incrível, sabias?" disse, aproximando-se de mim para me dar um beijo. "Isto parece delicioso." Sentámo-nos à mesa e começámos a comer. As panquecas estavam perfeitas, e enquanto bebiamos o café quentinho, conversávamos como eu tanto adorava.

"Então, o que tens em mente para hoje?" perguntou ele, com curiosidade.

"Bem," comecei, "não planeei nada de especial. Estava a pensar que podíamos passar o dia juntos, sem pressas, talvez ver um filme, dar um passeio... O que te parece?"

"Perfeito," respondeu ele, sem hesitar. "Adoro dias tranquilos contigo."

***

Depois do pequeno-almoço, fomos até ao sofá, como tantas vezes fazíamos nos fins de semana. Escolhemos um filme, mas a minha mente estava longe da televisão. Hoje, alguma coisa estava diferente. Eu sabia que, mais tarde, o nosso dia ia tornar-se ainda mais especial. E não era só por ser Dia dos Namorados. Era porque sentia que estava pronta para o que há muito tempo discutíamos, mas que ainda não tínhamos apressado.

Eu e o João já tínhamos falado sobre isto várias vezes. Ele sempre foi muito compreensivo e nunca me pressionou para dar qualquer passo que eu não estivesse pronta a dar. Isso fazia-me sentir segura. Mas agora, neste momento, algo dentro de mim sabia que o tempo era agora. Estava pronta.

Olhei para ele, deitado no sofá ao meu lado, distraído com o filme. Senti as minhas bochechas a aquecer. Ele era tudo o que eu sempre quis. Respeitava-me, amava-me, e esperava por mim, por qualquer decisão que eu precisasse de tomar no meu próprio ritmo.

A game of pretend- João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora