Capitulo 27

53 5 3
                                    

Era difícil ignorar as dores que sentia. Não era apenas desconforto, era como se algo estivesse profundamente errado dentro de mim. No início achava que eram as minhas dores normais. Mas depois itensificaram-se tanto que eu já tinha uma botija colada a mim e já me custava andar.

O João já estava a recuperar da febre que o tinha deixado de cama, mas agora era a minha vez de me sentir debilitada. Ele notou o meu desconforto quase imediatamente, apesar de eu tentar disfarçar.

"Sofia, tens estado estranha ultimamente. Estás a piorar?" perguntou ele, preocupado, enquanto me observava a tentar levantar-me do sofá.

Eu assenti, tentando forçar um sorriso para não o preocupar ainda mais.

"São só as minhas dores normais... devem passar," murmurei, mas, na verdade, sabia que algo não estava certo.

Ele aproximou-se e colocou a mão na minha barriga, num gesto carinhoso, como se quisesse aliviar a minha dor com o simples toque.

"Eu acho que devias ir ao médico, Sofs. Isto já está a durar demasiado tempo, e parece estar a piorar," disse ele, com o tom mais sério do que o habitual.

Tentei adiar a consulta ao máximo, mas as dores tornaram-se insuportáveis. Foi então que concordei em marcar uma consulta. Mal sabia eu o que aquele dia mudaria as nossas vidas.

***

Na manhã seguinte, o João levou-me ao hospital. Durante a viagem, tentei manter uma conversa normal, mas o nervosismo era impossível de esconder. As minhas mãos tremiam ligeiramente, e ele não tirava os olhos de mim, preocupado.

"Vai correr tudo bem fofa. Provavelmente é só algo passageiro," disse ele, tentando tranquilizar-me enquanto estacionávamos o carro. Assenti, mas o meu coração estava acelerado.

Quando chegámos, fomos logo atendidos por uma médica que, após ouvir os meus sintomas, decidiu fazer alguns exames. Fizeram-me uma ecografia e alguns outros testes. A sala de espera parecia sufocante enquanto esperávamos pelos resultados. O João estava ao meu lado, a segurar a minha mão, mas eu sentia que o ar á minha volta estava a ficar mais pesado.

Finalmente, a médica voltou, com uma expressão que me deixou logo alerta. O seu rosto não escondia a seriedade da situação.

"Senhora Sofia, os exames indicam que há algo mais complexo a acontecer," começou ela, enquanto sentava-se à nossa frente. "Detectámos algumas complicações no seu útero. Existe uma condição chamada endometriose, que é o que parece estar a causar as suas dores."

As palavras dela ecoaram na minha cabeça. Endometriose? Nunca tinha ouvido falar disso antes.

"Endometriose?" perguntei, tentando compreender o que aquilo significava. "Isso é grave?"

A médica respirou fundo antes de responder.

"A endometriose é uma condição em que o tecido que normalmente reveste o interior do útero começa a crescer fora dele. Pode causar dores intensas, como as que tem estado a sentir, e, em muitos casos, afeta a fertilidade."

O meu coração parou naquele momento. Fertilidade? O que ela estava a tentar dizer?

"Sofia, esta condição pode dificultar muito a conceção natural. Em alguns casos, pode até ser impossível ter filhos."

As palavras dela cortaram-me como uma faca. O João apertou a minha mão com mais força, mas eu não conseguia olhar para ele. Não podia ter filhos? Mas... eu sempre sonhei em ser mãe. Sempre me imaginei com uma família. E agora, de repente, estava a ouvir que isso poderia não acontecer.

"Mas há algo que se possa fazer?" perguntei, a voz tremendo. "Há algum tratamento?"

A médica assentiu, mas a sua expressão não era animadora.

"Existem tratamentos que podem ajudar a controlar os sintomas e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos. No entanto, quanto à fertilidade, pode ser complicado. Dependendo da gravidade da endometriose, as chances de uma gravidez natural podem ser muito reduzidas."

Senti-me a desmoronar por dentro. Tentei manter a calma, mas as lágrimas começaram a encher os meus olhos. Olhei finalmente para o João, que parecia estar em choque, mas, ao mesmo tempo, tentou manter a calma por mim.

"Sofia..." começou ele, com a voz baixa, sem saber muito bem o que dizer.

Eu não sabia o que responder. Era como se todo o meu futuro tivesse sido arrancado de mim naquele momento. Não podia acreditar que o meu sonho de ser mãe podia estar a ser destruído assim.

A médica deu-nos algum tempo a sós, e assim que ela saiu da sala, não consegui conter as lágrimas. O João puxou-me para um abraço apertado, e ali, no seu peito, deixei-me desabar. Tudo o que estava a sentir – medo, tristeza, frustração – veio ao de cima de uma vez só.

"Desculpa, João... eu... eu queria tanto ter uma família contigo," solucei entre lágrimas. "Mas agora... agora não sei se isso vai ser possível."

Ele segurou-me com mais força, os seus olhos também cheios de lágrimas, mas a sua voz manteve-se firme.

"Sofia, não tens de pedir desculpa. Não és tu que estás a falhar. Vamos enfrentar isto juntos, e independentemente do que aconteça, eu estou contigo. Não importa o que os médicos dizem, nós vamos encontrar uma solução. Vamos ser uma família, de uma maneira ou de outra."

As suas palavras eram reconfortantes, mas a dor no meu peito não desaparecia. A ideia de não poder ter filhos era devastadora, e, por mais que o João tentasse aliviar o peso que sentia, eu sabia que aquele era um luto que teria de viver por algum tempo. E eu sei que nós ainda eramos novos, mas eu sonhava em ter filhos com o João, nós ás vezes até falavamos de nomes e tudo.

***

Depois de sairmos do hospital, o caminho de volta a casa foi silencioso. O João segurava a minha mão enquanto conduzia, mas nenhum de nós falava. Eu estava perdida nos meus pensamentos, a tentar processar tudo o que tinha acontecido. Como é que a minha vida tinha mudado tanto em tão pouco tempo?

Quando chegámos a casa, o João sugeriu que eu descansasse, mas não conseguia ficar parada. A cabeça rodopiava, cheia de perguntas, medos e dúvidas. E o que mais doía era a incerteza. O que aconteceria agora? Como seria o nosso futuro?

Naquela noite, enquanto estávamos deitados na cama, o João puxou-me para mais perto dele.

"Sofs, eu sei que isto é difícil, mas vamos ultrapassar isto juntos," sussurrou ele, beijando-me na testa. "Tu és tudo para mim, e o resto... bem, vamos encontrar uma maneira."

Eu queria acreditar nele. Queria acreditar que o nosso amor seria suficiente para superar tudo. Mas naquele momento, a dor era tão grande que parecia impossível ver além dela.

Fechei os olhos e tentei dormir, mas as palavras da médica ecoavam na minha mente. Tinha perdido algo que nem sabia que podia perder. E agora, tudo parecia incerto.
______________________________
este foi tenso 😐 espero que gostem 🫶🏻

Tamos quase a acabar por isso ajudem me 🙏

Votem e comentem muito 🙏 Bjsss

A game of pretend- João Neves Onde histórias criam vida. Descubra agora