Capítulo 3

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-Sim, eu estou desconfortável. -admiti com a voz baixa enquanto o copo é depositado á minha frente.

-Ficar no mesmo apartamento que um artista famoso te deixa desconfortável? -ele perguntou, se sentando á minha frente.

-Não. Você tá sem camisa.

Olhei diretamente para seu rosto pois já havia bebido toda a água na pressa de responder e ele me analisou de um jeito curioso.

-Pois bem, vou me vestir adequadamente. A última coisa que eu quero é te deixar sem graça. -ele se levantou e virou as costas pra mim.

Observo suas costas bem modeladas e as tatuagens nela.

"Ele foi irônico?"

Afastei esses pensamentos quando sua silhueta preencheu o corredor iluminado e ele apareceu por detrás da parede com uma camisa da banda Kiss.

Ele foi até a bancada que separava a sala da cozinha e pegou uma garrafa de vinho e um copo.

-Certeza que não quer relaxar um pouquinho? Pelo visto esses abutres não vão sair tão cedo.

Ele encarou a porta atrás de mim e suspirou, como se houvesse todo o tempo do mundo em suas mãos.

-Eu tenho que ir embora, Wanda vai começar a desconfiar.

-Minha doce irmãzinha está ciente da situação e me disse para ser gentil, pois você é a funcionária favorita dela. -ele bebeu um pouco do vinho, deixando seus lábios insanamente arroxeados.

-E que horas pretende sair?

-Daqui uma hora, mais ou menos. Te dou uma carona até a floricultura.

-Eu não preciso de uma carona.

-Tem certeza? -ele falou, olhando para a janela e imediatamente engoli em seco.

Estava nevando.

-Eu acho que a senhorita não tem escolha. E é engraçado que você não esteja tirando fotos comigo ou pedindo autógrafos.

-E por que eu deveria fazer isso? -meu coração acelerou, eu tinha quase certeza que estava suando.

-Não sei, mas gosto da forma como você é incomum.

Os minutos se passaram e não tivemos nenhuma palavra trocada se quer, pois eu estava fingindo olhar algo importante no celular.

Não tinha nada importante, pois eu não recebia nenhuma mensagem.

-Ótimo, parece que eles já foram embora. Podemos ir? -imediatamente me desgrudei do celular e me levantei da cadeira.

Kyle pegou um sobretudo e o vestiu, meu olhar se demorou um pouco nos seus cabelos longos quando ele abaixou a cabeça pra arrumar a lapela.

Kyle sem dúvidas tinha seus charmes, mas ele deve estar acostumado a receber atenção de várias mulheres e esse pensamento me fez agir com indiferença mesmo tendo um conflito interno.

Quando ele abriu a porta, senti um alívio imediato ao ver o corredor vazio.

-Eles podem estar na garagem. -falou, como se tivesse lido minha mente.

Quando saímos do apartamento e ele trancou a porta, me perguntei o que um artista estaria fazendo em um apartamento comum em Manhattan.

Espantei esses pensamentos da minha mente quando ele apertou um botão do elevador.

-Eu vou pelas escadas. -falei, fazendo menção de ir mas ele colocou a mão no meu ombro.

-Vai ser mais rápido, eles podem estar esperando nas escadas.

Tentei contestar, mas achei ridículo como eu soaria uma medrosa insegura e apenas entrei antes dele rezando para não passar mal.

-Por que quis ir pelas escadas? -ele perguntou quando as portas se fecharam.

-Eu...-comecei a sentir os efeitos de estar em um ambiente totalmente isolado e fechado.

Apenas respire.

Tentei parecer a mais tranquila possível, mas seu olhar analisador me fez sentir ainda mais vontade de respirar o ar limitado.

Me apoiei no corrimão perto da parede espelhada respirando silenciosamente quando ele me deu as costas.

Mas a desvantagem de estar em um ambiente com paredes espelhadas é que ele poderia apenas olhar para frente e ver meu estado.

De repente esse pensamento me consumiu, a outra desvantagem de ter alguém ridiculamente confiante em um ambiente espelhado é que eu também teria que parecer suficientemente confiante.

Eu não parecia estar confiando em minha própria paranóia nesse exato momento.

Minha respiração começou a falhar, com um ruído e ele se virou para mim enquanto eu sentia que iria desmaiar com o pânico instalado na mente.

Comecei a encarar o painel que mostrava os andares, só faltavam mais 5 para chegarmos ao estacionamento.

Só 5 andares.

Apenas 5 andares.

Agora 4.

Tirei minha blusa me sentindo extremamente sufocada, derrubando meu fone no chão no processo.

Kyle não falou nada durante meu processo claustrofóbico, mas notei sua estranha proximidade.

Ele de repente olhou para os meus braços descobertos, cheios de tatuagem e logo me arrependi de ter tirado a blusa.

Mas depois ele ignorou isso, quando chegando ao estacionamento eu apertei o botão e saí apressada me encostando na parede ao lado respirando o ar puro.

-Por que não me disse que era claustrofóbica? Porra, eu não imaginei isso.

Ainda recuperando o ar, me sentei no chão por um breve momento.

-Eu não gosto disso. Me sinto patética. Pode rir agora.

Ele suspirou e se abaixou até nivelar com o meu rosto.

-Sabe, eu não sou totalmente babaca quando ajo como um cidadão comum. Agora temos que ir, estou ouvindo passos.

Ele me ofereceu a mão e eu recusei, consigo me levantar sozinha sem parecer fraca demais.

-Eu posso ir sozinha, obrigada.

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