Capítulo 8

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O dia de hoje foi monótono, com certeza era o dia mais monótono de todos os meus expedientes até agora.

Pegar rosa por rosa e a despetalar pétala por pétala segundo as exigências de Kyle, ou melhor, Edward.

Wanda não estava gostando nada disso, por isso larguei a rosa de lado por alguns segundos e suspirei.

-Sei o que vai dizer, a única coisa que posso responder é que devo isso á ele. -ela nem sequer desgrudou os olhos da rosa despetalada em sua mão.

-Ok, mas precisamos mesmo fazer isso? Seja lá o que for essa recompensa, acho que não vai valer a pena.

-Ele pareceu sério quando falou, temos essa coisa de irmãos, trocas de favores mas eu meio que devo isso á ele por ter me dado a casa no campo.

-Eu ainda não entendo, o que ele quer com pétalas de rosas, elas são bastante delicadas para serem simplesmente serem pisadas.

-Uma coisa que você tem que entender sobre meu irmãozinho é que ele gosta de glamour, pra ele é tudo ou nada.

Continuamos despetalando rosas e colocando em um saco transparente, de hora em hora eu me levantava para esticar as pernas.

De repente tive uma idéia para escrever e peguei o meu caderno.

-Eu sabia que iria escrever, vai escrever sobre rosas mortas? -Wanda perguntou distraída.

-Quase isso.

Pego minha caneta especial da Kurome e apoio o caderno na minha perna.

Oh, querido

Despedace meu coração como faz com as pétalas das rosas que te dei

Das rosas que te dei

Eu as entreguei com minha alma

Eu sei que as guarda até hoje

Elas estão mortas

Mas ainda tenho um pouco de esperança

Cada vez que olhar para elas, amor

Irá se lembrar de mim

Irá se lembrar de toda a minha devoção

Irá se lembrar que essas rosas foram entregues por mim

Pois nenhuma outra garota irá te amar como eu amei

Elas jamais entregarão rosas como eu

E eu gostaria que enxergasse

Que nenhuma outra terá o meu corpo e nem minha alma

Nem meu coração

Demorei cerca de meia hora, quando Wanda tirou a lasanha do microondas percebi que estava realmente com fome.

-Um pedaço de lasanha pra saber o que você escreveu. -ela falou me entregando o prato.

Hesitei, mas entreguei meu caderno e observei suas feições enquanto lia, me senti ansiosa pois ela era a primeira a pessoa a ler minhas letras.

-Você normalmente escreve o que vivencia, Cassy? -ela perguntou, lendo os últimos versos.

-Normalmente escrevo apenas o que vem na cabeça, é uma bobagem muito útil. -desvio o meu olhar para o caderno estendido e o pego novamente.

-Você escreve mais do que pensei, se continuar assim vou ter que te chamar de compositora.

-Minhas letras não rimam, a rima é o essencial de qualquer música.

-Mas quem sabe alguém mais experiente possa te ajudar com isso?

-Sei o que está tentando dizer, eu não vou me rastejar para o Kyle avaliar minhas letras ridículas.

Wanda não contestou e eu tinha certeza que meu rosto estava vermelho, por isso vi um sorrisinho de canto dela ao comer a lasanha.

Depois que comi, levei o prato na pia e ainda de costas para Wanda tive que manter meu equilíbrio me apoiando na pia.

Wanda por outro lado não percebeu, pois estava trocando mensagem com o namorado com uma rosa na mão, prestes a ser despetalada.

Fechei os olhos por um momento e respirei fundo, depois comecei a lavar a louça para que ela não desconfiasse.

Engoli em seco enquanto lavava o garfo, sentindo meu coração bater em meus lábios.

Quando me sentei novamente tudo melhorou, me certifiquei que meu reflexo não estava tão ruim e continuei com o trabalho desgastante de despetalar rosas.

Uma a uma, em algumas horas pouco antes do meu expediente acabar finalmente terminamos nosso trabalho e colocamos os sacos cheios de pétalas dentro do freezer.

-Ótimo trabalho, eu diria que formamos uma bela dupla de matadoras de rosas.

-Caralho, faltam cinco minutos para o metrô sair! -falei, colocando apressadamente meus fones.

-Até amanhã, Cassy. Vê se toma cuidado pra não escorregar no gelo! -ela falou quando abri a porta e saí.

[...]

Fazia um bom tempo que não corria tanto como corri nesse exato momento, tropeçando nas escadas do metrô.

Quando as portas estavam quase se fechando consegui passar e me encostei na janela para recuperar o fôlego.

Me sentei num lugar ao lado de uma velha senhorinha de idade ainda recuperando o fôlego.

-Tem sorte de ainda ser jovem, tenho que sair de casa meia hora antes pra chegar a tempo e moro a duas quadras daqui. -ela observou e parei de me afobar, pois o que ela falou é ridículo.

Observei as pessoas, não dando muita atenção á idosa que não parava de tossir.

É inverno, nada mais justo do que ocorrer uma epidemia de gripe, tentei ao máximo parecer confortável com o ambiente cheio de pessoas.

Ainda bem que depois de amanhã eu já terei me mudado e as habituais pessoas que vejo todos os dias, se tornarão esquecidas.

Nem devo mencionar o fato de que, havia esquecido meu caderno de letras.

Confio em Wanda o suficiente para pensar que ela não iria ler, mas talvez ela leia só um pouquinho e esse pensamento me corroeu a semana toda.

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