-Você é daqui?
-Do Queens? Ah, sim, mas estou de mudança amanhã.
Houve mais uma pausa em que ele chegou mais perto, e senti como se estivesse sendo sufocada.
A essa altura, a maioria das pessoas já haviam subido para seus quartos, ou pelo menos para usar eles para coisas que eu prefiro não pensar.
-Bem que a gente poderia ir lá pra cima, conversar um pouco. Quero te conhecer melhor, com todo respeito.
"Com todo o respeito?! Não sou eu que estou claramente dando em cima de você, Leonard"
-Aqui tá bem agradável, a música tá boa e a minha amiga tá logo ali, acho que vou conversar com ela...
Dei alguns passos para longe dele e meu braço foi agarrado, meu peito gelou com isso e me virei pra ele.
-Eu acho que a sua amiga não vai sentir sua falta por uns dez minutinhos.
Olhei no fundo dos olhos do homem e notei algumas coisinhas brancas no seu nariz, estava evidente que aquele homem havia usado coisas bem mais pesadas do que apenas LSD e bebidas.
-Me solta. -minha voz quase muda por conta da música alta parecia não ter saído.
Meu corpo todo ficou estático, quando ele se aproximou eu dei um passo pra trás e pude ver o reflexo brilhante da água pelo canto dos olhos.
Estava na beirada da piscina.
Meu coração parou por longos segundos, sentindo o hálito quente dele perto demais do meu rosto.
Como ninguém percebeu isso?
Estavam suficientemente chapados pra não se darem conta?
Meus olhos estavam ardendo enquanto reunia forças para empurrar ele, mas simplesmente não consegui, meus músculos pareciam virar gelatina e meu cérebro parecia ter fritado.
Tomei consciência de que estava tremendo, eu queria que alguém percebesse o que estava acontecendo.
Eu não queria beijar ele.
Aquelas mãos imundas me tocavam como se eu fosse uma vadia.
Vi de relance alguém aparecer atrás do rapaz e uma mão agarrar com força o ombro de Leonard, que me largou com tal rapidez quanto levou um soco na cara.
Dei um passo pra trás enquanto tinha plena consciência das pessoas olhando.
Minhas pernas haviam virado gelatina enquanto Kyle empurrava e socava a cara de Leonard.
Meu rosto estava quente, meus olhos pareciam estar dentro de uma panela fervendo, só assim percebi que estava quase chorando.
-Pegue a porra do bote e suma desse navio antes que eu acabe com a sua raça, seu verme!
Kyle estava furioso, olhando para as costas de Leonard enquanto o mesmo apanhava suas coisas e era conduzido pelos seguranças.
Engoli em seco enquanto a moleza invadiu o meu corpo, Kyle olhou para mim como se desse conta de que eu não estava bem e se aproximou.
Quando minhas pernas perderam totalmente as forças e uma lágrima caiu do meu rosto, ele me agarrou me puxando para perto, de forma que meu rosto se enterrou em seu ombro.
-Você quer sair daqui?
Consciente de que todos estavam olhando, eu apenas sussurrei e ele me ajudou a andar apoiando meu braço em seu pescoço e agarrando minha cintura.
A cada passo, minhas pernas pareciam ceder um pouco mais, até que me apoiei no corrimão sentindo meu rosto cada vez mais quente.
Me recusei a olhar para o rapaz atrás de mim enquanto as lágrimas caíam sem controle.
Sustentar meu peso parecia cada vez mais difícil até que ele se colocou ao meu lado, um degrau abaixo de mim.
-O que aquele otário fez tanto?
Encarei o vaso preto de flor a minha frente, engoli em seco reunindo coragem para dizer.
-Ele me chamou para ir para o quarto com ele, eu tentei fugir mas ele agarrou meu pulso e...tentou me beijar.
Kyle parecia ainda mais furioso, mas se contentou em se aproximar.
-Esqueça o que aquele desgraçado fez, ele não vai tocar em você, agora vamos para o quarto, você parece muito fraca.
-Mas a sua festa...
-Eu já estive em muitas festas como essa, acredite, são todas iguais.
Era estranho, mas eu confiava nele o bastante para que estivesse tão perto de mim. Para que o deixasse cuidar de mim por hoje.
-Eu queria ser outra pessoa hoje, mas acabou dando tudo errado -falei, enquanto caminhavamos pelo corredor direito.
-Pode me dizer o que planejava fazer para não ser mais você por hoje?
-Eu queria esquecer todas as minhas inseguranças e barreiras, eu acabei bebendo demais e isso aconteceu e...
Esperei ele abrir a porta e me sentar na cama, só então olhei para os malditos comprimidos encima da mesa.
Ele acompanhou meu olhar.
-Quantos você tomou? -ele perguntou, calmamente e não em tom de acusação.
-Apenas um.
-Sabe que podia ter pegado um do carro, assim eu estaria ciente do que estava ingerindo.
Engoli em seco, me sentindo uma idiota.
-Eu não estou te julgando, Cassandra, é normal ter uma curiosidade sobre essas coisas, mas não é recomendável usar isso sem responsabilidade.
-Onde estão as minhas roupas?
Kyle olhou para todo o quarto e ao ver a pilha de roupas, as pegou e entregou pra mim.
-É uma pena, eu gostei das suas tatuagens. -ele falou se virando para o outro lado.
Fiquei em silêncio ainda sentada, tentando manter o equilíbrio vestindo minha calça.
-Por que as esconde? -ele perguntou.
-Eu não gosto de chamar a atenção. -falei secamente.
-Então por que as fez?
Houve um silêncio e me levantei para levantar as calças até a cintura, perdendo o equilíbrio e ele se virou por instinto a tempo de me ver fechar o zíper.
-Por que eu queria adquirir mais autoconfiança.
-Mas você não é autoconfiante o bastante. -ele se aproximou e minhas pernas pareciam gelatinas outra vez.
Eu não sei se era o efeito do LSD, mas eu simplesmente fiquei quente com a sua repentina aproximação.
Eu olhar parecia enxergar até minha alma, mas suas palavras me fizeram recuar.
-Eu sei disso, não preciso que me diga que sou covarde e insegura.
-Me atrevo a dizer que a insegurança é apenas uma barreira criada na sua mente, senhorita Boullevard. -ele deu mais um passo e recuei mais um, batendo na parede.
Minhas pálpebras estavam cansadas, como se não tivesse dormido por três dias e mesmo assim meu corpo parecia uma lareira acesa.
-Você é uma garota interessante, seu problema é sua falta de autoconfiança, tatuagens não podem resolver o que se tem na mente.
Fiquei em silêncio enquanto ele estava a menos de trinta centímetros de mim, não só minhas pernas como todos os meus músculos pareciam relaxar nesse exato instante.
Eu não conseguia raciocinar, procurei por alguma coisa racional no fundo do meu cérebro e não achei nada.
-Por que eu sou interessante? -perguntei, como se aquilo estivesse em minha mente há anos.
-Por que você me vê como um cara normal e me trata como um cara normal. Isso vai além da sua aparência particularmente fofa e bonita, entende o que eu quero dizer?
Ele se aproxima um pouco mais, eu não consigo pensar em mais nada a dizer, eu gostaria de o puxar para mais perto para beijar, mas minhas pálpebras pareciam pesar mais de uma tonelada.
Minhas pernas fraquejaram e no momento seguinte simplesmente apaguei.
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music is my religion
RomanceCassandra Boullevard, uma recém adulta que quer levar a vida não tão séria com a ajuda da música, se desprendendo do luto e começando a viver de uma forma diferente da qual sempre viveu.