Hinata

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Nevava enquanto a Mercedes se movia pela cidade. Grossos flocos se precipitavam para se acumular no chão. Eu observava através da janela de olhos arregalados. Nunca vi tanta neve em minha vida e estávamos ainda em abril.
Queria agradecer ao homem sentado ao meu lado por me trazer de volta ao hotel tão cedo, mas não consegui olhar pra ele. Sasuke Uchiha. Um príncipe. Eu beijei um príncipe. Tentei seduzi-lo quando me senti magoada e ele me recusou. Claro que sim! Não era só um empresário russo, como também um homem extremamente belo, que jamais poderia se interessar por mim. Senti meu rosto esquentar ao lembrar da forma que o beijei na praça Vermelha. O jeito como o corpo dele reagiu ao meu e como eu quase explodi de prazer com aquela simples e deliciosa pressão. Uma farsa, lembrei a mim mesma. Um gesto necessário para salvar a vida dos dois. O homem que me salvou não era um homem qualquer, era Sasuke Uchiha. O homem que Naruto parecia odiar.
De acordo com meu patrão, o Uchiha estava determinado a absorver toda a Uzumaki Tech com a sua vasta cadeia de empresas, o que não seria difícil se conseguisse as terras da Senju. Se ele conseguisse, a Uzumaki Tech não existiria mais. Empregos seriam perdidos e pessoas, demitidas... inclusive eu. Eu não era o tipo de profissional que teria dificuldade em achar outra colocação, mas na situação económica atual, quanto tempo levaria até arrumar outro emprego? Conseguiria arrumar trabalho a tempo de pagar o próximo semestre da faculdade de Sakura?
Na noite anterior, tive muito tempo para pensar, enquanto rolava de um lado para o outro na cama do quarto de hóspedes de Sasuke. Concluí, embora magoada, que Sakura não tinha culpa. Nunca lhe contei que tinha uma queda por Naruto. E ela não tinha culpa de ser linda e cheia de vida.
- Está muito calada - disse Sasuke.
Virei a cabeça lentamente, temendo encará-lo e ver a compaixão refletida em seu olhar. Era inútil pensar que Sasuke esqueceu a forma como me atirei nele, quando soube de Naruto e Sakura. Desejava me afundar no estofado de couro e desaparecer, mas como era impossível, me forcei a ficar fria.
- Estou apenas pensando - respondi. - Não temos neve assim em abril.
Seu sorriso fez meu coração disparar.
- Ah, sim, você vive em um clima quase tropical. - Engoli em seco. Ess homem era extremamente belo. Tão agradável de se apreciar! - Devia conhecer minha casa em São Petersburgo - continuou ele. - É uma residência antiga que está a vários séculos em minha família. A neve é imaculadamente branca. Há lobos uivando durante a noite e as estrelas têm um brilho inacreditável. Perfeito para um passeio de troika*.
Tive a visão de um casal, abrigado sobre uma manta de peles, escorregando pela neve em um trenó. Era bastante romântico.
- Parece bastante agradável.
- Talvez eu a leve algum dia - prometeu ele, fazendo meu coração disparar.
Estaria flertando comigo? Impossível. Um homem como ele costumava se relacionar com modelos e estrelas do cinema. Não com humildes secretárias que só podiam admirar aqueles homens a distância.
- Não sei como - respondi sinceramente. - Embora seja uma boa ideia. Partiremos dentro de alguns dias e São Petersburgo não está no nosso itinerário.
Os olhos onix têm um brilho estranho. - Pretende ter seu amante de volta, depois do que ele fez?
- Naruto Uzumaki é meu patrão, não meu amante.
- É mesmo?
Ergui o queixo.
- Sim, é.
Sasuke entrelaçou seus dedos aos meus e levou minha mão aos lábios, me deixando pasma.
- Então o azar é dele, certo? E a sorte é minha.
Quando ele me soltou, uni minhas mãos no colo, sentindo minha pele formigar onde ele tinha encostado.
- Não sei porque... - retruquei. - Teve sua chance ontem à noite e a recusou.
Eu realmente disso aquilo para Sasuke? Uma risada não era o que eu esperava.
- Quando eu a tiver, princesa, não será enquanto chora por outro homem.
Senti meu rosto esquentar.
- Não estava chorando por Naruto.
A expressão de Sasuke era de incredulidade. Virei o rosto em direção à janela. Maldito homem que conseguia me ler com tanta facilidade. Sasuke era um desconhecido, apesar da atração abrasadora que eu sentia por ele. Depois que me deixasse no hotel, nunca mais voltaria a falar com ele.
- Acho que talvez esteja apaixonada por Naruto Uzumaki, mesmo que ele não seja seu amante. E está amargamente desapontada por saber que ele escolheu sua irmã.
- Não tem ideia do que está falando!
- Não sou cego.
Prendi a respiração. Seria eu, assim tão transparente? Teria Naruto percebido, também? Meu Kami!
- Deixe-me em paz, Sasuke Uchiha - eu disse com frieza. - Agradeço sua ajuda, mas isso não lhe dá o direito de se intrometer em minha vida, apenas para se divertir. Portanto, pare com essa especulação grosseira.
O carro estacou em um solavanco, mas me vi incapaz de desviar o olhar do homem que me encarava com tanta intensidade. Os olhos onix não pareciam frios como eu esperava. Ao contrário, encontravam-se flamejantes.
- Então lhe peço desculpas - disse o Uchiha depois do que me pareceu uma eternidade. - Nunca teria a intenção de magoá-la.
A porta se abriu e percebi que já estávamos em frente ao hotel e um recepcionista esperava eu descer do carro. Dentro do veículo, o cenário era surreal e eu me via incapaz de quebrar aquela magia. A próxima vez que o encontrasse seria em uma reunião de negócios, onde ele nem ao menos me notaria. O que poderia ser vantajoso. Se Naruto descobrisse que eu passei a noite com o Uchiha, ficaria furioso e me demitiria.
- Obrigada por sua ajuda - agradeci, forjando meu melhor sorriso, embora eu ainda tivesse ferida. - suponho que devemos dizer adeus.
Sasuke me dirigiu um sorriso malicioso.
- Ah, mas não é um adeus, certo? Nós nos veremos muitas vezes, Hinata Hyuuga. Eu lhe prometo.
Saí apressada, me sentindo envergonhada. Por que Sasuke Uchiha tinha tanto poder sobre mim? Sim, pulamos algumas fases no encontro na praça Vermelha, mas um beijo era um beijo, certo? Não. Definitivamente, não. Aquele beijo foi extremamente quente. Como os outros no apartamento dele. Peguei a chave que guardei no bolso da capa e entrei no quarto que dividia com Sakura. Senti uma pontada no coração, mas a afastei. E daí que minha irmã estava com Naruto? Já superei isso.
- Oh, meu Kami, onde esteve? Estava tão preocupada!
Parei, enquanto fechava a porta e girei, lentamente para encarar Sakura.
O belo rosto de Sakura estava vincado pela preocupação, fazendo meu coração se apertar.
- Desculpe. Não conseguia dormir e saí para um passeio. - a mentira me escapou pelos lábios com facilidade, apesar do sentimento de culpa. Eu não gostava de mentir para Sakura, mas seria mais fácil do que explicar o que realmente aconteceu. E mais seguro, também, já que Sakura tinha a língua solta e podia colocar meu emprego em risco. Sakura jogou seus gloriosos cabelos rosas para trás.
- Podia ter deixado um recado.
- E por que eu faria isso? - perguntei - Nunca acorda antes das 8 horas.
- Bem, hoje acordei e você não estava aqui. Quase chamei Naruto para me ajudar a encontrá-la.
É mesmo? Pensei. Coloquei a capa sobre o sofá preto da suite. Fiquei feliz por ter chegado a tempo de evitar tudo isso. A última coisa que eu queria era Naruto tentando me encontrar.
- Estou aqui agora, portanto pode parar de se preocupar.
- Está vestindo a mesma roupa de ontem. - reparou Sakura.
Senti meu rosto queimar.
- Vesti hoje de novo quando acordei. Agora vou tomar um banho e me preparar para a reunião.
Estava quase chegando ao banheiro, quando girei.
- Não voltou para o quarto ontem à noite. Onde estava?
Ela exibiu um sorriso. Não me ocorria que ela pudesse ter entrado em pânico com minha ausência. Sakura sempre esperava que eu estivesse pronta para apoiá-la, mas não parecia perceber que eu era uma estrada de mão dupla.
- Estive com alguém - confessou ela. - E acho que me apaixonei.
Me esforcei a permanecer calma, embora meu coração disparasse dentro do peito.
- Foi muito rápido. Não posso imaginar que seja esse homem.
- Oh, Hinata - disse Sakura, com o rosto resplandecente de felicidade. - Não ia lhe contar agora, porque sabia que poderia ficar preocupada, mas é Naruto.
Pisquei várias vezes.
- Está apaixonada por Naruto? Mas você mal o conhece...
- Estamos nos encontrando há um mês.
Me deixei cair na cadeira mais próxima. Um mês de mentiras. Não era de se admirar que Naruto não tenha me pedido para providenciar flores ou fazer reservas em restaurantes. E eu estava começando a entender por que ele me convidava para almoçar.
- Não sabia - eu disse entorpecida.
Sakura se aproximou, e se ajoelhou em minha frente e segurou minhas mãos.
- Desculpe, mas Naruto achou que poderia ficar chateada se soubesse. Queríamos manter segredo até que tivéssemos certeza de nossos sentimentos.
- Um mês não é cedo demais para ter certeza de nossos sentimentos?
O sorriso de Sakura provava que não.
- Às vezes, simplesmente sabemos.
Apesar da dor que eu sentia, meu coração se aqueceu ao ver Sakura feliz. Sempre lhe desejei o melhor. Embora a diferença de idade entre nós duas fosse de apenas 5 anos, sempre me senti mais como mãe do que irmã da Sakura.
Porém, todo esse entusiasmo também me preocupava.
- Trabalho à dois anos para Naruto Uzumaki. Ele namora muitas mulheres.
- Sei disso, mas ele me ama e quer casar comigo.
Meu coração pareceu se despedaçar em milhares de pedacinhos. Até esse instante, não me dei conta que vivi apenas em função de Sakura. O que eu faria quando Sakura fosse embora? E o que eu deveria dizer nesse momento? Sakura me encarava com o olhar cheio de esperança e isso me preocupava. Naruto estaria a levando a sério? Seria capaz de abandonar a vida de playboy e fazer Sakura feliz? Meu chefe era um homem tão rico, acostumado a circular nas altas esferas da sociedade. Estaria de fato apaixonado por Sakura ou essa seria mais uma de suas aventuras amorosas?
- Marcaram uma data?
Sakura negou com um gesto de cabeça.
- Quando voltarmos para Konoha, começaremos a planejar isso. Naruto está muito preocupado com o negócio que vai fechar agora.
Meu coração deu um salto no peito. Toda vez que eu pensava na razão pela a qual eu estava na Rússia, me lembrava de Sasuke. Ele me ajudou quando precisei, me abraçou quando chorei e me beijou com tanta maestria que eu quase supliquei que me levasse para a cama. Porém, não se tratava de um homem qualquer e sim de Sasuke Uchiha, que desejava destruir a Uzumaki Tech. Caso conseguisse, também destruiria a chance de Sakura e Naruto de serem felizes.
Me levantei e dei um abraço apertado em Sakura.
- Fico muito feliz por você e espero que Naruto perceba o quanto tem sorte de tê-la encontrado. Do contrário - continuei, afastando Sakura para que me encarasse. - Eu o castrarei.
Sakura soltou uma risada e retribuiu o abraço.
- Não se preocupe. Vou me encarregar disso se necessário.
- Agora tenho que me arrumar para a reunião.
Enquanto me despia e entrava debaixo do chuveiro, não conseguia evitar o pressentimento ruim. E era Sasuke Uchiha quem o inspirava. Percebi durante a viagem de carro quando ele conseguiu ver claramente através das minhas máscaras, que Sasuke era um homem extremamente perigoso. E não apenas para a Uzumaki Tech, mas também para mim. O melhor que ele poderia fazer seria me ignorar. Eu sabia que ele não faria isso. O que eu não sabia era por que esse pensamento me deixava feliz.

One night with SasukeOnde histórias criam vida. Descubra agora