Capítulo 1

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Estou caminhando pela floresta. Heavy sempre foi silenciosa. Durante o dia, a pouca luz que a atravessa é filtrada pelas densas copas das árvores, e o cheiro do orvalho sempre se faz presente nas folhas.
Ninguém consegue entrar aqui. Apenas nossa linhagem tem esse privilégio.

Quanto mais avanço, mais as sombras se aprofundam. O vento sussurra por entre os galhos, criando um som que ecoa na escuridão.
Apesar de visitar Heavy em toda lua nova, sinto algo diferente no ar hoje. Algo está errado. Muito errado.

Ninguém sabe o que reside nas profundezas da floresta. Nem mesmo
minha linhagem chegou ao final, apenas ao centro, onde se encontra o
santuário. Qualquer um que se aventurasse além de onde a floresta nos
permite ir jamais retornaria. Nossa linhagem, filhas de Aeternis, é a única a quem Heavy concede acesso. E mesmo assim, esse acesso é limitado.

Caminho até Nymboria, o local sagrado onde nos conectamos com o espírito vivo de nossa mãe, Aeternis. Hoje, no entanto, estou sozinha.
Minha mãe, Atry, está envelhecendo e sua saúde está se deteriorando.
Isso me preocupa. Hoje é lua nova, o dia dos pedidos. Eu preciso pedir à Mãe para curar Atry.

Nós não somos bruxas comuns. Não preparamos poções ou remédios com ervas. Nossa morte, em vez disso, libera um poder imenso. Somos mais do que simples feiticeiras; nossa alma alimenta Nastri quando morremos, penetrando nas raízes das árvores, até alcançar o coração da floresta. Ninguém jamais o encontrou, ninguém acredita em sua
existência.

Ao chegar ao círculo de Nymboria, vejo a luz fraca do círculo se acender. Acesso concedido.

— Olá? — chamo, olhando ao redor

O silêncio é esmagador, e, de repente, o círculo se apaga. Uma rajada de vento me atinge com força, arrepiando minha pele. O ar fica gélido.

— Mãe? — digo com a voz tremendo, sentindo um peso crescente ao meu redor. Um estalo atrás de mim faz meu coração disparar. Viro-me rapidamente, apenas para encarar o breu
impenetrável.

Quando volto a olhar para o círculo, ele se acende novamente, revelando a figura etérea de Aeternis.

— Saudações, Morrigy, filha de Atry — sua voz ressoa como um sussurro entre as árvores. — O que deseja?

— Minha mãe, Atry, está doente. Peço que a cure.

— Lamento, mas isso eu não posso fazer.

— Mas… Mãe, se ela morrer…

— Eu sei o que acontece, Morrigy. Mas estou impedida de intervir. Faça seu pedido e vá embora. Depressa. — Aeternis me interrompe, sua voz
mais urgente agora.

Não entendo. Por que eu deveria sair tão rapidamente?

— O que está acontecendo?

— Ele está acordado — diz ela, antes de o círculo apagar novamente e seu espírito desaparecer.

O terror cresce em meu peito. Ele está acordado? Quem é ele? Tento chamá-la de volta.

— Mãe, por favor! Não pode deixar Atry morrer! — o silêncio da floresta
me envolve mais uma vez.

Sem alternativa, começo a caminhar para fora de Heavy, mas algo se mexe sob meus pés. Paro, congelada, esperando que seja apenas minha imaginação. Mas quando olho para baixo, vejo a terra ondulando.
O que…?

[390] Corações sombrios Onde histórias criam vida. Descubra agora