CAPÍTULO 3:Derek

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Estou chegando no palácio. Havia saído fazia cerca de três dias em busca de alguém que pudesse ajudar. Demorei pois precisei pedir informações para as pessoas, se elas sabiam onde uma bruxa Nym morava, e é claro que não sabiam, então tive que me virar para encontrá-la.

Encontrei apenas uma camponesa que morava em um local bem isolado do resto do palácio, por um pequeno momento, achei que era uma bruxa, mas me enganei. Não acredito que julguei alguém por ser ruivo. Mas, pelo lado bom, ela conseguiu me ajudar de alguma forma.
Só espero que a princesa melhore.

Chego aos portões do castelo. Ele tem cerca de dez metros de altura,
feito de ferro puro e polido. O palácio é feito de pedras. Pedras com cerca de um metro de largura e um metro e meio de comprimento. Às vezes me pergunto quem as cortou, e é claro que provavelmente foram escravos. Ao redor do castelo há campos de agricultura, onde é plantada a cevada para a produção de cerveja, trigo para a produção de farinha, e pasto para a criação de vacas e cordeiros. Tudo isso para o consumo da realeza, e dos aldeões é claro, mas eles tem que comprar a comida, ou plantá-la. Além de vendê-la para receber lucros.

Um soldado, Patrick, abre os portões para mim entrar. Entro o mais rápido que posso e subo a enorme escadaria do palácio, com mais de cem degraus. Chego no topo ofegante. Passo pela cozinha enorme do palácio, quase derrubando os cozinheiros. Peço para que preparem o chá e levem imediatamente para a princesa.

Após falar o modo de preparo necessário, vou até o salão real falar com o rei.

O salão é grande, com uma mesa repleta de petiscos e bebidas de um
lado e um lustre enorme no teto. O trono fica centralizado com a entrada, feito de ferro e ouro. Magnífico. Há uma janela bem grande atrás do trono, permitindo que o pouco de luz que resta no dia, ilumine a escuridão daquele lugar.

— Você a encontrou? - diz o Rei Williams antes que eu mesmo possa
abrir a boca.

— Não, majestade. - respondo sinceramente. A voz embargada por
subir um lance de escadas correndo.

— NÃO?! - grita o rei. Me encolho com seu tom de voz. Não o culpo, é a vida de sua filha em jogo.

— Não, mas vossa majestade, encontrei uma camponesa, ao longo dss terras, e ela deu-me algumas ervas e especiarias, e me explicou para o que cada uma servia e como preparar o chá. É claro, perguntei para os aldeões, mas eles não sabiam onde uma Nym morava. Ninguém sabe na verdade. Eu tentei encontrá-la, mas não consegui. - digo abaixando a cabeça. Vejo o rei colocando a mão queixo e pesando.

— Erga a cabeça, Derek. Eu sei que você tentou, e infelizmente não conseguiu, mas, você disse que encontrou uma camponesa.

— Sim, senhor. Ela morava numa cabana de madeira ao longo das terras, perto da floresta... - paro. Merda. Como não pensei nisso antes?
Uma cabana, a floresta Heavy... ergo os olhos para os do rei, ele pensou a mesma coisa. - Era ela, não é?

— Certamente. Então elas ainda existem... como ela era? - pergunta o
rei que agora está de pé, caminhando de um lado para o outro do salão.
- Cor do cabelo, face, roupas?

— Ela era jovem, bonita, tinha os cabelos ruivos como uma cenoura
colhida em boa época. Usava vestido
longo... - respondo tentando  pensar em mais algum detalhe. - Quando eu estava lá, ela não me permitiu entrar em sua casa.

— E você não suspeitou em nenhum momento? - o rei pergunta com as
sobrancelhas arqueadas. Nego com a cabeça, e no mesmo momento vejo as rugas de frustração se formando entre elas.

— Eu não suspeitei. Afinal, muitos aldeões moram isolados ao longo das terras do reino. E eu não poderia julgá-la como bruxa, apenas por ser ruiva. - digo tentando sair dessa confusão.

— Bom… você está certo. Todavia, quero que volte até a casa da camponesa. E peça para que o acompanhe até aqui.

— E se ela se recusar, meu senhor? - pergunto com certo receio do que está por vir.

— Você sabe o que acontece com pessoas que praticam feitiçaria. - o
rei responde seco e sem compaixão. Foi como se alguém tivesse tirado todo seu temperamento gentil e acolhedor para com o povo. Ele nunca condenaria ninguém, nem mesmo uma bruxa.
Assinto em resposta e me viro para sair do salão.

Após sair do palácio, me dirigi rapidamente para a cozinha, onde um
dos cozinheiros preparava uma sacola de mantimentos. Ao pegar o pacote, agradeci e me dirigi para fora dos portões, o céu agora escurecendo lentamente com a chegada da noite. O caminho até a cabana da camponesa era conhecido para mim, mas a sensação de urgência fez com que cada passo parecesse mais longo do que o habitual.

A trilha para a cabana serpenteava pelo bosque, com as árvores altas criando uma sombra densa que mal deixava a luz da lua alcançar o solo. As folhas secas estalavam sob meus pés enquanto avançava, minha mente girando entre o medo de falhar e a determinação de salvar a princesa. A floresta Heavy, com sua aura misteriosa, parecia sussurrar ao meu redor. Certamente não entrei ao seu interior, ninguém seria
idiota a esse ponto.

Finalmente, avistei a cabana da camponesa à distância, o telhado
simples se destacando entre as árvores. Mas, ao me aproximar, percebi algo. A casa estava silenciosa. Vazia. Subo a varanda e bato na porta. Espero alguns minutos e nada. Bato novamente e encosto o ouvido na madeira bruta tentando ouvir algum sinal de vida. Nada.
Suspiro.
Ela foi realmente embora?
Desço as escadas e vou embora. Eu irei encontrá-la, de um jeito ou de outro.

Algumas horas se passaram e estou caminhando pelo bosque de ventos, a luz do sol filtrando-se pela copa das árvores, criando sombras no chão. O cheiro de terra úmida e madeira invadia os sentidos, levando as impurezas para fora. Ao longe, era possível escutar um riacho, seu som ecoava entre os troncos das árvores.

Enquanto eu avançava, o ar ficava mais denso. Devo estar passando perto da floresta Heavy. A cada pequena curva e a cada passo eu esperava olhar e encontrar aquela mulher.

E como se a floresta me ouvisse, uma mulher de cabelos ruivos estava parada no meio da estrada. Ela estava tão absorvida na observação das flores, que não percebeu minha aproximação.

O cenário era quase encantador: a mulher, com os cabelos vermelhos
brilhantes à luz da lua, movia-se com uma graça que parecia em sintonia com o ambiente ao redor. Ela estava vestida com um vestido simples, mas o contraste com seus cabelos era notável. Parecia que ela estava realizando um ritual silencioso, como se estivesse conectada de alguma forma com a natureza ao seu redor.

Eu parei a alguns metros de distância, observando-a com cautela. Era ela, a mulher ruiva que eu havia encontrado anteriormente. E, sem dúvida, havia algo mais sobre ela do que aparentava. A sensação de que ela era mais do que uma simples camponesa aumentava a cada instante.

Decidi me aproximar com cuidado, tentando não interromper o momento
de paz que ela parecia experimentar. Quando finalmente me aproximei
o suficiente para ser notado, a mulher virou-se lentamente, seus olhos brilhando em um tom profundo de verde. O olhar dela encontrou o meu,
e uma expressão de surpresa passou por seu rosto. E ela deu um passo
para trás.

[390] Corações sombrios Onde histórias criam vida. Descubra agora