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𝘾𝙞𝙣𝙘𝙤 𝙖𝙣𝙤𝙨 𝙙𝙚𝙥𝙤𝙞𝙨

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Minha vida sempre foi uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, tudo acontecendo numa velocidade vertiginosa, sem tempo para respirar. Meu filho nasceu, e sim, ele é meu. No entanto, a alegria veio acompanhada de dor, pois três anos após o nascimento de meu filho, meu pai faleceu.

Perdi tanto peso que fiquei irreconhecível. Passei meses ajeitando a vida de cada um dos meus irmãos, sem me preocupar com minha irmã gêmea; ela sempre soube se virar. No fim, tive que abrir mão da minha parte da herança, mas isso não me importava. Tudo o que eu queria era paz, retornar para o meu filho, sentir o amor dele novamente e, apesar de tudo, encontrar algum consolo nos braços de Carla. Só o pensamento de voltar para eles me mantinha firme em meio ao caos.

Mas tudo aconteceu de forma diferente. Quando retornei, Carla me acusava de traição, dizendo que, enquanto estive fora, eu estava com outras mulheres. Ela me xingava e surtava, agindo como se tivesse perdido completamente o controle. Aquilo me enfureceu profundamente, porque eu não estava com ninguém. Eu estava lá, cuidando do meu pai, assistindo à sua morte lenta e dolorosa. E, ironicamente, foi essa fúria que me levou a fazer exatamente o que ela me acusava. Sem que ela soubesse, comecei a traí-la novamente, repetidas vezes, como uma espécie de vingança silenciosa, um alívio amargo para minha própria dor.

Isso durou até o dia em que, mais uma vez, ela jogou na minha cara o fato de eu estar vivendo na casa dela. Ela e a mãe repetiam isso constantemente. Tínhamos nos mudado para uma casa maior, na Holanda, e, como sempre, ajudei com tudo. Mas a gratidão parecia nunca vir.

Em um certo dia, enquanto ela estava fora, tomei a decisão. Peguei uma bolsa, coloquei alguns lençóis, travesseiros e minhas roupas, e saí. Enviei apenas uma mensagem, avisando que estava indo embora. Não demorou muito até que eu a convencesse a assinar os papéis do divórcio. Sabia ser o diabo, quando era necessário.

Eu me mudei para Amsterdã, aluguei uma casa menor, agora, era apenas eu. Nem mesmo Luque estava comigo. E de verdade, não me fazia falta, porque eu não tinha mais tempo, estava trabalhando pela manhã e tarde como professor de universidade e três vezes na semana, à noite, revisando prova para outros professores.

Mas eu estava tentando ser positivo, apesar de agora ser crente que nada dava certo para mim. Tentei me envolver em novos relacionamentos, mas cada mulher parecia mais complicada que a anterior, mais distante do que eu precisava. No fundo, eu sabia que estava apenas me enganando. O vazio continuava ali.

Quando as tentativas falhavam, me distraía com algumas amigas, mulheres com quem me envolvia casualmente, apenas para suprir minhas necessidades físicas. Não havia amor, apenas um alívio momentâneo.

E isso era suficiente, pelo menos por um tempo. A rotina estava me consumindo. Passei de alguém que havia abandonado tudo pela família para alguém que se refugiava no trabalho e nas fugas fáceis. Cada dia parecia uma repetição do anterior, um ciclo que eu não conseguia quebrar.

Eu estava farto. Queria alguém comigo, alguém que somasse, que me desse amor e carinho, alguém em quem eu pudesse confiar. Embora meus padrinhos morassem por perto e fossem um apoio importante, não era desse tipo de amor que eu precisava. Era algo mais profundo, mais íntimo... Mas, pensando bem, esquece. Talvez fosse pedir demais.

Saí dos meus pensamentos ao assinar o último documento daquela tarde. O próximo ano me traria novas responsabilidades, agora como professor de universidade. Mas antes disso, as festas de boas-vindas começavam. Dezembro havia chegado, trazendo consigo a promessa de mais uma rotina agitada - e quem sabe, algo além disso.

Eu estava torcendo por isso, torcendo para que, pelo menos, pudesse ter alguém com quem passar aquele final de ano. Deus sabia o quanto eu implorava por isso. Cada festa, cada fim de expediente, me trazia a esperança de encontrar alguém que finalmente preenchesse o vazio que eu carregava. Precisava de mais do que distrações temporárias. Queria algo verdadeiro, algo que pudesse me dar um pouco de paz.

Queria me sentir amado, poder deitar a cabeça no travesseiro e ter a certeza de que, em algum lugar, alguém estava indo dormir pensando em mim. Que eu era o primeiro e o último pensamento de alguém a cada dia. Ansiava por essa conexão, por esse tipo de segurança emocional, onde eu não fosse apenas mais uma presença passageira, mas alguém que importava, que fazia a diferença na vida de outra pessoa.

— Merda de cabeça que não para! — gritei, interrompendo abruptamente todos aqueles pensamentos. Não podia me permitir continuar com essa espiral mental, ainda tinha trabalho a fazer. A realidade me chamava de volta, e por mais que eu quisesse, não podia perder mais tempo sonhando com o que parecia estar sempre fora do meu alcance.


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