Eu nunca me considerei uma pessoa ambiciosa.
Desde pequeno entendia que a minha situação não mudaria muito, mesmo que eu me esforçasse. A meritocracia sempre foi uma mentira na minha realidade, Bokuto-san. Acredito que o mesmo acontecia na vida de outras pessoas.
Essa ideia de esforço está estruturada em nossas mentes desde que nos entendemos por gente. E as estruturas vêm a ser prisão.
Mesmo assim, eu sempre fiz tudo com muito cuidado, bem feito nos mínimos detalhes. Mas sem a esperança de que eu fosse realmente ser feliz, que a minha realidade melhoraria. A consciência dessa verdade, infelizmente, chegou cedo.
E, por ser detalhista, eu acabava prestando muita atenção às outras realidades que existiam perto de mim. As realidades das pessoas que eu conhecia.
Com o tempo, cuidar dessas pessoas era tão bom quanto cuidar dos meus livros, ou dos livros que eu pegava da biblioteca. Ler as linhas de suas histórias sendo construídas era gratificante, reconfortante.
E eu o fazia porque eu não queria ler as linhas da minha própria história.
Bem, infelizmente, essas histórias nem sempre eram tão calorosas assim.
Havia se passado quase uma semana desde que eu te vi pela última vez, Bokuto-san. Nós vínhamos conversando com frequência no Line, apesar de as mensagens não passarem de "vi isso e lembrei de você", "se cuide", "hoje vai ser cansativo", "se alimente direito" e "boa noite, durma bem".
Mesmo tão simples, elas faziam meu dia, Bokuto-san.
Acho que a mudança em meu humor era perceptível. Era segunda-feira de manhã quando encontrei Osamu-kun e seu amigo, que mais tarde descobri ser Suna Rintarou, no corredor da faculdade.
Eu estava lá para resolver algumas burocracias sobre a minha matrícula e imaginei que Suna estava acompanhando Osamu até a biblioteca para o seu turno.
"Você parece feliz, Akaashi-san", ele disse.
"Por que você diz isso, Osamu-kun?", perguntei. Suna me olhava fixamente, as costas escoradas nos armários.
Aquilo me incomodou. Eu nunca gostei muito de ser observado e Suna tinha um olhar particularmente profundo, mais detalhista que eu mesmo. Suas orbes não se mexiam, me analisando fisicamente, mas permaneciam paradas me olhando no fundo dos meus olhos.
Os olhos afiados pareciam querer cortar tudo aquilo que escondia a verdade. E eu escondia a minha.
Osamu riu abafado.
"Os seus olhos estão brilhando hoje", ele respondeu. "É bom te ver assim".
Se qualquer outra pessoa tivesse me dito isso, eu não teria acreditado. Mas Osamu-kun não tinha motivos para brincar sobre isso, muito menos para mentir.
"Acho que preciso agradecer Bokuto-san depois", Osamu disse, sem me dar tempo para processar sua fala quando ele e Suna se despediram e continuaram seu caminho.
Naquela época eu já deveria entender como Osamu-kun te conhecia, mas eu tinha outras coisas em mente.
E, sim, eu realmente estava feliz. Você me faz muito feliz, Bokuto-san. Eu levei um tempinho para que essa realização batesse e, quando ela veio, eu a recebi de braços abertos.
Mas a situação de Tobio-kun ainda me incomodava.
Naquele dia, ele havia se atrasado novamente.
Eu organizava alguns exemplares no corredor 9 quando ele apareceu, ainda com a mochila nas costas e sem o crachá da biblioteca.
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doze vezes bokuto-san | bokuaka
FanfictionSHORT FIC// "Por que eu iria querer ficar imaginando vidas quando eu posso viver a minha?", você disse. "Algumas pessoas não gostam da vida que elas têm, Bokuto-san.", eu respondi. Bokuto não gostava de livros, mas ele amava Akaashi, o bibliotecá...