infinidade

382 39 22
                                    

Às vezes lembro do teu
sorriso
e não faço nada
contra isso
porque é inevitável
para uma mente pensante
pensar no que faz bem
~ Gabe Balzan

Perdão.
Perdão.
Perdão.
Perdão.

A palavra curta ressoava sem pausa em sua mente e em algum momento o som se confundiu com outra palavra tão curta quanto: Perdeu.

Perdão.
Perdeu.
Perdão.
Perdeu.

Sons parecidos, seis letras, mas a segunda palavra conseguia combinar mais com o momento, uma vez que para Amaury não havia nada o que perdoar sobre Diego. Em contrapartida, ouvir que perdeu o homem fazia muito mais sentido e lhe doía bem mais.

Era um fato.

O assistiu escorrer por entre seus dedos durante meses e se culpava por não ter feito nada. Embora sequer soubesse o que poderia ser feito e se  algo realmente mudaria o rumo da história. Ele começava a achar que não.

Às vezes as coisas acabam.
Precisam acabar.

Amaury queria acreditar que essa situação, o fim deles, era uma dessas vezes que o fim é inevitável. Quem sabe assim doesse menos. Em algum momento, claro, porque agora... Agora doía pra caralho. Doía tanto que ele meio que se sentia sem ar. O peito estava apertado e o coração parecia sem espaço para bater direito. Batia em um ritmo peculiar ecoando desconfortável por seus ouvidos.

Per-dão.
Per-deu.
Per-dão.
Per-deu.

Diego não lhe disse mais nada, e ele mesmo nem esperava que algo mais fosse dito. Qualquer coisa depois do que escreveu seria sem propósito ou espaço. Os dois. Não teria porque seguir com aquele assunto e não teria onde colocar qualquer outra coisa que fosse dita. Era o fim. Ele disse que era.

E tinha cara de fim.
Tinha cheiro de fim.
Só faltou o ponto final no fim da sua frase.

Amaury só não o colocou porque sua admiração e desejo de crescimento constante na carreira de Diego não era pontual. Era crescente e um ponto no final da frase não faria sentido nessas condições. Mesmo que de longe, ele continuaria a emanar e desejar boas coisas ao rapaz. Desejava vida longa a carreira da Drag,  ainda que não estivesse mais presente para comemorar cada conquista, como fez durante anos e, se pudesse, continuaria a fazer por longos outros. Até que as conquistas fossem não apenas de Diego, mas deles, dos filhos, dos netos... Até que o fim da vida a dois chegasse com a idade.

Uma pena tudo isso ficar apenas no campo desejo.

O fim chegou antes disso tudo e tinha um gosto amargo. Um cheiro estranho também, cheirava a desapontamento e deixava uma mancha escura no peito. Ou seria ferida? Amaury se sentia machucado. E se perguntava se teria machucado Diego agora no final de tudo quando se permitiu dizer o que estava preso por meses e meses dentro de si. Ele não queria causar dor, longe disso, mas precisava colocar pra fora. Se colocar pra fora. Vinha guardando tanto que ficou sem espaço.

Foi o que Amaury disse a Samuel quando compartilhou com o amigo as palavras que entregou ao ex. Agora, ex de fato. Antes parecia qualquer outra coisa entre o começo e o fim. Samuel o ouviu com atenção, e lamentou com ele o término. E se antes, meses antes, usou a casa do amigo para chorar um termino que não  tinha muita cara de término, agora, sentado no sofá cor de café do apartamento próximo ao seu, era dilúvio. Chorava tanto que nem mais tinha lágrimas. Se desfazia no estofado.

E coisa triste é chorar a ponto de água nenhuma escorrer dos olhos. Ficar sem lágrimas. Coisa triste é quando já não se tem mais gotas para competir com o sofrimento e sobra só isso, lamento. O choro doído que arranha a garganta e espreme o peito.

SOLTEIRO FORÇADOOnde histórias criam vida. Descubra agora