era pra ser

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— É… eu vim trazer o bolo…

— Hum?

— Você perguntou o que eu vim fazer aqui… — Diego sentia o rosto quente e a voz quase não saia de tão baixa  — Eu vim trazer o bolo… Guardar… Aqui..

— Ah, então você foi quem trouxe ele. — o riso soou irônico, quase grosseiro

— É, foi… — pareceu uma pergunta, embora não fosse.

— Claro que foi. — passava as mãos sobre os cachos de maneira agitada — Agora tudo faz sentido.

Diego não entendeu a frase e Amaury estava um pouco irritado com Samuel para dar melhores explicações, estava se sentindo meio traído e definitivamente não esperava isso do melhor amigo. Convidar seu ex?!

Certo! Ele e Diego eram amigos, mas jura?! Precisava mesmo?!

— Amaury, eu prec…

— Bom — foi interrompido — vou deixar aberto aqui pra você guardar. Até.

O preto passou ao seu lado dando a volta à ilha e aqueles poucos segundos, se é que chegou a dar tudo isso, foram como a eternidade para Diego. Ele estava tão perto de Amaury e ainda assim tão longe! O homem começava a se afastar e ele precisava fazer algo a respeito!

Apoiando o bolo na bancada, o ruivo deu as duas ou três passadas que o afastava de Amaury, segurando o pulso do homem antes que a mão alcançasse a maçaneta da porta de entrada. Os olhos negros encontraram primeiro seu toque para depois chegarem ao seus olhos que imploraram por um pouco mais de tempo.

— Podemos conversar?

Em outro momento Diego teria pensado em palavras melhores, mais emocionantes, mas ele não tinha todo esse tempo que desejava. Amaury o encarava quase como se ele fosse um estranho invadindo seu espaço pessoal e ele precisava reverter isso logo. Mais um pouco no lugar de um desconhecido para Lorenzo e ele morreria porque, o que verdadeiramente te sobra quando encontra e perde o amor da sua vida? Diego não saberia dizer e não queria descobrir.

— Eu não sei se é uma boa ideia, Di.

Di.

Diego sorriu e Amaury se recriminou por se deixar tão evidente em duas letras.

Para Diego, Di era bom, para Amaury era exposição demais. Nos dois casos o motivo era o mesmo, tinha ternura no chamado, embora esse também carregasse um amargo proveniente da tristeza. Da ferida que não tinha cidatrizado.

— Por favor, Maury.

Maury.

Isso era golpe baixo!

— Só me dá cinco minutos. Cinco minutinho e depois…

Diego sequer concluiu a frase e seu peito já doía a perfuração. Ainda assim, sob os olhos febris que dominava sua atenção, prometeu o que esperava nunca precisar cumprir.

— Se depois disso, você não quiser mais me ouvir, me ver, saber de mim… Eu juro que vou embora daqui, volto pra São Paulo e te deixo em paz.

O silêncio de Amaury não pareceu um bom sinal para Diego,  ele estava, inclusive,  prestes a soltar o homem e pedir desculpas por ter se aproximado tão abruptamente, quando pode respirar aliviado com a pequena, mas notável, confirmação com a cabeça que o preto lhe deu. Ele então respirou pesado, verdadeiramente agradecido pelos cinco minutos, dando um passo para atrás e lutando consigo mesmo para soltar o mais velho. Não queria, mas parecia ser o certo a se fazer.

— Certo! — seu riso nervoso exibia toda a sua fragilidade — Bom, então…

Amaury aguardou.

Diego sabia o que queria dizer, ele pensou sobre isso a semana toda. Ele não escreveu, como seus amigos sugeriram que ele não fizesse, mas isso não significa que ele não ensaiou algumas palavras. As que mais ressoavam em seu coração ele fez questão de dizê-las em voz alta sozinho em seu apartamento. Ele sabia o que queria falar, o que estava preso em sua garganta, ou coração. Estranhamente essas palavras não saíram.

SOLTEIRO FORÇADOOnde histórias criam vida. Descubra agora