Santo anjo do senhor

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Minji P.O.V

Ouço barulhos de gritos e choro. Todos os dias isso. Era de noite, e a casa estava com o ar tenso que sempre teve. A casa toda era escura, mesmo de dia era assim. E o quartinho dos meus pais era assustador com aquele Jesus pendurado na parede da cabeceira do quarto. Saio do meu quarto, esfregando meus olhos pequenos. Os gritos se tornaram mais audíveis, então eu rapidamente vou até o meio da escada, só para ver o que estava acontecendo no andar de baixo, apesar de já saber.

Prendo minha respiração ao ver a minha irmã mais velha, Minjeong, sendo agredida com uma cinta de couro pelo meu pai. Minjeong chorava descontroladamente, tentando se afastar do meu pai, que ficava com mais raiva e batia mais forte nela.

— Você vai para o inferno, Minjeong! Está possuída pelo diabo, deixou o diabo a cegar! — Ele vociferou, agarrando o colarinho da minha irmã.

Sinto meus olhos marejarem ao ver aquela cena tão grotesca e triste. E o pior é que eu não conseguia e não podia fazer nada. Eu queria tanto me mexer, mas por um lado não sentia força nas minhas pernas para agir, mas por outro, eu queria poder Agir, mas não podia. Meu pai está disciplinando Minjeong, e segundo ele, nunca deveria interferir, pois se não, eu também iria ser disciplinada.

Enquanto meu pai batia em Minjeong, minha mãe apenas ficava parada, assistindo. Engulo seco, pois sabia que provavelmente foi ideia dela disciplinar Minjeong.

Minha irmã agora desistia de resistir. Estava encolhida no chão. Suas costas estavam a mostra, então meu pai a batia com a cinta ali até sangrar. Minjeong parecia exausta, e com certeza estava. De repente, meu pai bate a cinta tão forte que a faz gritar de dor e cair no chão.

Eu já sentia minhas lágrimas caindo. Minjeong estava sofrendo.

Sinto seu olhar no meu, e logo cai mais lágrimas.

— Minji....

[...]

Aquela voz fraca e dolorida ainda ecoava na minha mente. Os gritos se misturavam com o som da cinta cortando o ar. Minjeong encolhida no chão, suas costas vermelhas e marcadas... Eu queria correr, queria fazer alguma coisa, mas estava paralisada. De novo. Sempre assim, sempre presa na minha própria impotência.

De repente, sou arrancada daquele pesadelo por um grito sufocado, e percebo que o grito era meu. Meus olhos se abrem, ofegantes, e estou de volta ao meu quarto. Meu coração bate forte, a respiração é irregular, e o suor frio cobre meu corpo. Levo a mão ao peito, tentando me acalmar, mas o pânico está entranhado, não quer me soltar. Sinto as lágrimas ainda frescas no meu rosto, como naquela noite de anos atrás.

É sempre assim. O mesmo sonho. Ou, melhor, o mesmo pesadelo.

Levanto-me com dificuldade, as pernas fracas como se eu ainda estivesse presa naquela escada, incapaz de mover um músculo. Vou direto ao banheiro, acendo a luz, me apoio na pia e olho meu reflexo no espelho. Meus olhos estão vermelhos, o rosto pálido e molhado.

Respiro fundo e ligo a torneira, jogando água no rosto, tentando me ancorar ao presente. Tento repetir para mim mesma: "Acabou, Minji. Acabou." Mas, na verdade, nunca acabou. Aquela cena sempre volta, e o peso de não ter feito nada me sufoca todas as vezes.

Sentimentos cruzados - Bbangsaz Onde histórias criam vida. Descubra agora