Xadrez - Sukufushi

A tentação das sombras

O silêncio de seu quarto era um alívio após o confronto com Sukuna, mas ao mesmo tempo, era sufocante. Megumi sentou-se na beira da cama, a luz fraca da lua entrando pela janela, lançando sombras por toda parte – sempre as sombras. Ele costumava confiar nelas, em sua força e obediência, mas ultimamente até as sombras pareciam estar distantes, como se refletissem o turbilhão dentro dele.

Ele apoiou os cotovelos nos joelhos, enterrando o rosto nas mãos. Não era apenas o fato de que Sukuna estava ficando mais forte ou mais ousado. Era o que ele disse. **"Você vai me pertencer."** Essas palavras ecoavam incessantemente na mente de Megumi, como uma maldição que ele não conseguia se livrar.

Megumi havia enfrentado ameaças antes. Diversas maldições haviam prometido sua destruição, e ele nunca hesitara. Mas Sukuna... Sukuna era diferente. Não apenas por ser o Rei das Maldições, mas por algo que ele via em Megumi. Algo que, no fundo, ele próprio ainda não havia compreendido. Talvez fosse o poder de seu "Dez Sombras", ou algo mais profundo, algo que Megumi nem sabia que possuía.

O som de batidas leves na porta quebrou o silêncio. Ele levantou a cabeça, franzindo a testa. Estava tão distraído que não sentiu a presença de Yuji.

— Megumi? — A voz de Yuji soava preocupada. — Tá tudo bem?

Megumi hesitou por um segundo antes de responder. — Sim. Entre.

Yuji entrou, com uma expressão apreensiva, mas sorrindo como sempre. No entanto, Megumi podia ver a tensão nos olhos dele. Yuji sabia o que estava acontecendo, pelo menos em parte. Sabia que Sukuna estava ficando mais difícil de controlar. Não era mais apenas uma luta de poder. Era algo pessoal.

— Ele tentou alguma coisa com você, não foi? — Yuji perguntou, se sentando na cadeira ao lado da cama. Sua voz estava mais baixa, como se temesse que Sukuna pudesse ouvir.

Megumi assentiu lentamente. — Sim, mas... não foi o que você pensa. Ele não atacou. Foi mais... psicológico.

Yuji parecia aliviado, mas ainda preocupado. — Isso me assusta mais do que se ele tivesse te atacado. Sukuna... Ele tem um jeito de mexer com a mente das pessoas.

Megumi olhou para Yuji, notando a culpa em seu olhar. — Não é sua culpa, Yuji.

— Eu sei... — Yuji respondeu, mas seu sorriso vacilou por um segundo. — É só que, às vezes, eu sinto que ele está planejando algo grande, sabe? Algo que a gente não vai conseguir parar.

Megumi queria acreditar que eles teriam controle sobre a situação. Queria ser capaz de afastar a ideia de que Sukuna estava sempre no comando, manipulando-os como peças em seu jogo. Mas algo em sua interação recente com o Rei das Maldições o fazia duvidar. Sukuna não estava simplesmente interessado em dominar ou destruir. Havia algo mais, algo perigoso e envolvente, que o deixava desconfortável.

O silêncio entre eles se estendeu por alguns minutos, até que Yuji se levantou, esticando os braços. — Bem, vou deixar você descansar. Só queria garantir que você estava bem.

Megumi assentiu novamente. — Obrigado, Yuji. Eu estou bem. — As palavras saíram mais automáticas do que verdadeiras, mas Yuji aceitou, percebendo que Megumi precisava de espaço.

Quando Yuji saiu e fechou a porta, o quarto voltou ao seu estado anterior de inquietação. Megumi se deitou na cama, encarando o teto, mas não conseguiu descansar. Sua mente estava presa nas palavras de Sukuna, nos olhos ardentes que pareciam vê-lo de maneira que ninguém mais via.

Era mais do que um jogo de poder. Sukuna o estava testando, quebrando suas barreiras pouco a pouco. E o pior de tudo era a sensação crescente de que ele não conseguiria resistir para sempre.