Casada com um mentiroso

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Aqueles olhos. Aquele sorriso. Aquele homem. Era tudo o que eu mais odiava no momento. Eu não fazia idéia do que estava acontecendo, e ele apenas brincava comigo. Deixando-me confusa, e indignada por nada saber.

-Querida? Como se sente? -Pietro aproximou-se de mim. Tocou em meus ombros com a maior cara de pau possível.

-"Querida?? Mas que desgraçado." -Pensei imediatamente. Estava tão irritada que mal conseguia pensar.

Mas por incrível que pareça, uma idéia péssima me surgiu a cabeça. Será que eu deveria, entrar no joguinho de Pietro?

-Meu bem, que bom te ver. -Abri um sorriso tão falso que até eu me convenci da minha mentira.

-É bom saber que você está bem, meu amor. Podemos finalmente ir pra casa. -Pietro me olhou, fazendo uma expressão amigável talvez até demais.

Por fim, peguei minhas coisas, e decidir que iria embora.

Diana foi embora, e Pietro e eu entramos em um carro prateado.

-Aonde vamos agora? -Perguntei.

-Para casa. -Quando ele disse isso, inúmeras coisas passaram pela minha cabeça.

A última vez que estive numa casa com Pietro..... O desgraçado me deu o maior trauma da minha vida. Abandono emocional e físico. Ele me deixou, e após me usar foi embora.

Ele dirigiu até um prédio. Essa era... A antiga casa dele?

Pegou a mocilha de roupas que eu estava carregando e subimos para o apartamento 105. Ao chegamos ele abriu a porta, largou a mocilha e foi tomar banho.

-Amor, fique aí. Eu vou tomar um banho e volto. -Mencionou, ao ir em direção ao banheiro.

Por que ele estava agindo dessa forma? Ele realmente não sabia quem eu era de verdade? Ele realmente é meu marido e estou mesmo grávida? Por que tudo isso parece extremamente confuso e nem um pouco real?

Fui para o quarto, troquei de roupa e deitei na cama. Queria descansar, pois minha cabeça estava prestes a explodir de tanta dor. Peguei no sono e ao acordar umas três horas depois, acordei. Levantei da cama, e ao sair do quarto que eu tinha trancado com medo de Pietro fazer alguma coisa, fui para cozinha.

Ao andar até a cozinha, me bati de cara com ele jogando no celular, enquanto estava sentado no sofá, e a mesa estava cheia de comida.

Feijão, arroz, farofa, salada, bife de carne, tudo isso junto com uma garrafa de suco que parecia ser de laranja.

-Coma. Deve está com fome. -Ele disse, sem desviar a atenção do seu vício.

-Por que? Colocou veneno nisso? -Questionei.

-Você tá carregando meu filho, amor, por que eu te mataria? Eu te amo, lembra? -Disse, virando pra mim, e deixando o celular de lado.

Logo largou o celular e se aproximou de mim. Dei dois passos para trás, e ele me pegou pela cintura.

-Tá tudo bem querida, não vou te machucar. Eu te amo, lembra? -Por que diabos ele está falando repetidamente que me ama?!

Soltei-me de suas mãos, e sentei de frente para mesa cheia de comida. Me servir e começei a comer. Bom, se é pra morrer, que seja então pelas suas mãos.

Comi tudo, e mesmo depois de algumas horas, nada de mal-estar. Pelo visto, não fui envenenada. O que já era um alívio. Mas mesmo estando "satisfeita no momento", eu não conseguia não me questionar.

Por que esse cenário agora? Primeiro estávamos na escola, aonde ele matou meus amigos e alguém especial para mim. E agora ele muda tudo, e me leva para uma realidade cujo somos casados e vivemos uma vida perfeita? A troco de quê? Por que?

Pietro, que diabos você está tentando fazer?

A noite chegou, vesti uma camisola e deitei na cama. De repente, percebo a presença de alguém tentando me tocar. Enquanto lavei os pratos a tarde, escondi uma das facas da cozinha e a deixei comigo caso ele tentasse algo.

Saquei a faca e a apontei diretamente para seu pescoço. A ponta da faça estava a centímetros de esfaquear sua pele clara como neve.

-Calma, também não precisa disso. -Falou, rindo de mim.

-O que está fazendo? -Questionei trêmula.

-Só ia te cobri com o lençol. Por que está tão assustada? Sou seu marido lembra? O homem com quem casou e vive uma vida perfeita. -Falou, rindo mais ainda.

-Você não é meu marido! Você não é nada meu! -Gritei, dando um chute que o fez ir para longe de mim.

-Então o que eu sou para você? -Ele me perguntou.

-Você é um fantasma. -Disse, assustada.

-Errado! Eu não sou um fantasma. Eu sou o seu assunto mal-resolvido. -Contou.

-Por que está fazendo isso? Por que me trouxe aqui? O que você fez comigo?! -Gritei mais ainda.

-Eu não fiz nada meu bem. Só estou tentando te ajudar. Você realmente não faz nem idéia de quem eu sou, não é? É uma pena por que essa brincadeira já está ficando bem chata para mim. -Falou, sinico.

-Idiota. Me leve de volta. -Exiji.

-Não quero. Não até você tomar vergonha na cara e entender o motivo do por que estou aqui. Mas fala sério, realmente não sabe quem sou? -Questionou mais uma vez.

-Pergunta se eu sei quem você é de novo, e eu arrebento sua cara. -Ameaçei.

-Aff, tá bom. Mulherzinha estressada. Faz terapia querida, você tá precisando. -Revirou os olhos.

De repente, tudo ficou em silêncio. Porém esse silêncio foi quebrado, quando escutei o barulho do meu celular tocando.

Eu só enxerguei quem estava me ligando de longe, mas pelo que enxerguei, era Diana que estava ligando.

Eu precisava sair dali, precisava pedir socorro. Pietro me olhou, e dessa vez parecia determinado a não me deixar atender essa ligação. Ele não era idiota, ele sabia que eu queria voltar para casa. E o melhor meio de retornar, era pedindo ajuda de alguém .

Pulei da cama em um só movimento, tentei agarrar o celular, mas Pietro me puxava pelo o cabelo. Entramos em luta corporal.

-Me larga seu cretino! Eu vou sair daqui, nem que eu morra! -Gritei.

-Não vai sair, não até eu cumpri meu objetivo! -Falou firme.

Mordi seu braço e o mesmo deu um grito de dor. Ele soltou meu cabelo, e na mesma hora que fui atender o celular, Pietro estalou os dedos.

Merda. Que lugar é esse agora?

Eu... Não estava mais no apartamento. O celular desapareceu. Pietro desapareceu. Tudo que eu enxergava era uma ponte, na praia. Eu conseguia ver todo o mar agitado.

Os céus estavam escuros, era notável que estava para ocorrer uma enorme tempestade. Olhei para o mar furioso e turbulento, e por incrível que pareça eu não senti medo. Eu não sei como, mas conseguia me ver neste mar.

Ao olhar para ele, eu me sentia vendo a mim mesma. Sentir me olhando para meu próprio interior, o que me fez me conectar com algo que eu acreditava está morto a muito tempo. Minha alma.

-Reconheceu a si mesma, não foi? -Aquela mesma voz que a segundo eu estava prestes a estrangular retornou como um sopro.

Pietro. De novo. Sinceramente, eu já estava tão cansada, que dessa vez, ao invés de questionar o que estava acontecendo, decidir questionar a mim mesma.

O que 𝙀𝙪 𝙖𝙘𝙧𝙚𝙙𝙞𝙩𝙖𝙫𝙖 𝙦𝙪𝙚 𝙚𝙨𝙩𝙖𝙫𝙖 𝙖𝙘𝙤𝙣𝙩𝙚𝙘𝙚𝙣𝙙𝙤?

A resposta era tão clara como o dia.

𝙀𝙪 𝙣𝙖̃𝙤 𝙨𝙚𝙞.

Ghosting: Meu grande amor Onde histórias criam vida. Descubra agora