CAP2| Luz amarela

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"Na aula, sou sombra entre risos, perdida em olhares que pesam como pedras."
- Harelyn Yanagi

°˖❀˖°

Cada passo em direção à entrada do colégio é um desafio. O ar parece rarefeito, não a ponto de me sufocar, mas o suficiente para me fazer sentir como se estivesse presa de volta em mais um dos meus pesadelos. Era parte da minha rotina os olhares presunçosos e os risos disfarçados dos outros estudantes, conforme ando, como a pontaria certeira de um arqueiro experiente; isso cria um verdadeiro inferno. A ponto de eu mal conseguir encará-los nos olhos; é sempre desse jeito. Fico atenta aos meus pés, com medo, torcendo para não cair, encurralada, julgada por pecados que não cometi. O sofrimento se camufla na normalidade quando o suportamos por tanto tempo, e tudo o que consigo fazer é sentir pena de mim mesma.

Ousei parar e olhar para trás, buscando uma triste certeza: ele já havia ido embora e isso fazia tempo. Koya, que retornou de uma viagem há três dias, me seguia desde então. Sentia-me mais segura com ele por perto, pois, nesses momentos, eu não estava completamente sozinha. De certa forma, eu sabia que, ao final do dia, ele viria me buscar, e isso me aliviou como um fio fino de esperança, o qual tornava meu dia menos insuportável do que os outros.

Porém… algo inesperado me incomodava. Desde sua chegada, ele parecia preocupado, e às vezes eu me sentia tola ao perguntar se estava bem. Sua resposta era sempre direta: "- Não se preocupe, estou ótimo."

Com o passar do tempo, algumas coisas permaneciam irremediavelmente inalteradas. A timidez ainda fazia parte de mim; eu simplesmente não conseguia me expressar muito bem quando ele estava por perto. Revê-lo era maravilhoso, mas também podia ser assustador, pois nutria meus primeiros sentimentos românticos por aquele homem gentil. E pensar em perdê-lo, se ele soubesse disso… talvez fosse uma teoria ingênua, mas que eu não queria correr o risco, e eu poderia guardar esse segredo nos mais profundos abismos. Aquela fugaz lembrança de seu abraço significava o mundo para mim, e eu sempre sorria bobamente toda vez que a recordava.

Os corredores eram iluminados pela luz de fora. O som dos passos ecoava enquanto procurava minha sala de aula. Os murais antigos, que o conselho raramente trocava, exibiam trabalhos dos alunos, e o aroma de livros antigos pairava no ar.

A sala de aula, outrora tão ruidosa, silenciou-se quando atravessei a porta. Por breves segundos, o único som era o eco dos meus sapatos velhos em contato com o chão. Caminhei até o meu lugar, o único diferente em todo o ambiente: uma cadeira remendada e uma mesa rabiscada com ofensas que posso garantir não terem sido feitas por mim. Olhar as ofensas por escrito me fez suspirar, recordando que estava de volta em mais um dia. Era o típico trote dos meus colegas, o famoso "bullying". No entanto, eles não eram agressivos a ponto de envolver a polícia — pelo menos, era o que os professores diziam. Pareciam mais cachorros rosnando para um estranho, mas sem morder. Eu simplesmente ignorava, embora isso tenha se tornado cada vez mais difícil. Há dois anos, essa situação persiste, desde que rumores infundados sobre mim se espalharam como uma praga por todo o bairro de Kotobukicho. Rotulavam-me como uma vadia, pelo fato de trabalhar em uma casa de entretenimento adulto.

Quando a última pessoa entrou naquele lugar, acompanhada de suas duas amigas, meus olhos foram imediatamente atraídos pela presença arrebatadora de Miyuki Tachibana.

Ela vestia seu uniforme impecável e distinto como sempre, e sua aparência deslumbrante era extravagante demais para um simples dia de aula. No entanto, algo diferente aconteceu naquela expressão rotineira e indecifrável dela: pela primeira vez, seus olhos escuros me encararam, repletos de pensamentos difíceis de discernir. Seus lábios rosados, porém, apenas sorriram gentilmente.

RABBIT - CoelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora