Talvez.

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Julia's POV.

A luz do sol filtrava-se através das janelas do CT, e o cheiro de suor e determinação preenchia o ar. Era mais um dia de treino, e eu estava animada, mas também apreensiva. A pressão das Olimpíadas se aproximava, e eu sentia o peso sobre meus ombros. O coração batia rápido, e eu sabia que precisava dar o meu melhor.

Olhei para o lado e vi Luna sentada em um canto, observando nosso treino. Ela voltou para o nosso quarto há uns quatro dias, e desde então ela tem me evitado, não faço ideia do motivo, mas optei por respeitar seus sentimentos. Seu rosto estava pálido, e os olhos, normalmente vibrantes, pareciam perdidos em pensamentos. Desde a convocação, ela havia se afastado, e eu não sabia como alcançar sua essência, perdida em meio a frustrações e desilusões.

── Luna! ── chamei, tentando arrancá-la de seus pensamentos. ── Você vai treinar hoje?

Ela levantou a cabeça e forçou um sorriso.

── Só estou observando. Preciso processar algumas coisas. ── A resposta dela foi tranquila, mas o tom carregava um peso que me preocupava.

Retornei ao treino, mas minha mente estava parcialmente com ela. A cada ponto que eu marcava, eu pensava em como Luna deveria se sentir, não apenas por não ter sido convocada, mas pela traição do noivo. Era um momento doloroso, e a solidão dela parecia ser mais intensa a cada dia.

Enquanto o treino avançava, eu a vi encostada na parede, os braços cruzados, o olhar distante. A sensação de impotência me acompanhava. Eu queria ajudá-la, mas não sabia como. A quadra era um campo de batalha, e eu lutava contra minhas próprias inseguranças.

Após o treino, decidi abordar Luna. Ela ainda estava lá, absorta em seus pensamentos. Sentei-me ao seu lado, buscando as palavras certas.

── Luna, você está bem? ── perguntei, a preocupação transparecendo na minha voz.

── Estou tentando ficar bem. ── Ela suspirou, olhando para o chão. ── Mas às vezes, eu só quero desistir.

Essas palavras cortaram meu coração.

── Desistir do quê? ── Perguntei, desejando entender.

── Do vôlei. ── Sua resposta foi direta, e o impacto foi imediato. ── Eu sei que só tenho 25 anos, mas sinto que não posso continuar assim. Não depois de tudo.

── Luna, você é uma atleta incrível! ── Protestei, mas ela levantou a mão, pedindo para eu parar.

── Eu sempre sonhei em ser jornalista. O vôlei foi uma paixão, mas sempre tive o desejo de contar histórias, de estar em campo fazendo reportagens. ── Ela hesitou, como se estivesse se despindo de algo precioso. ── Talvez seja hora de eu começar a pensar nisso.

Eu a observei, tentando processar o que ela dizia.

── Mas você pode fazer as duas coisas. Não precisa desistir do vôlei agora. ── Falei, tentando incentivá-la.

── Julia, não sei se tenho mais forças. A pressão está insuportável. ── Ela olhou para mim, e por um breve momento, vi a dor em seus olhos.

── Entendo, mas você não precisa decidir isso agora. ── Tentei ser firme, mas a realidade era que eu estava tão preocupada quanto ela.

── Eu sei. Só estou pensando no futuro. Daqui a alguns anos, quero estar atuando na área que sempre amei. ── Ela disse, sua voz agora mais decidida.

A ideia dela se afastando do vôlei me deixava inquieta. Luna era uma inspiração para mim, e eu não queria ver sua luz se apagar.

── Se precisar de ajuda com isso, pode contar comigo. ── Disse, desejando que ela sentisse que não estava sozinha.

── Você é uma boa amiga, sabia? ── O sorriso dela foi pequeno, mas genuíno.

Nós ficamos em silêncio por alguns instantes, absorvendo tudo o que foi dito. A pressão que sentíamos estava presente em ambas, mas em direções diferentes. Enquanto eu lutava por uma medalha, Luna lutava para encontrar seu caminho.

── E quanto à atuação? ── Perguntei, tentando mudar um pouco o foco. ── Você já pensou em como isso poderia se desenrolar?

── Às vezes, imagino como seria estar em uma redação, cobrir eventos, contar histórias... ── Ela sorriu levemente, como se a ideia trouxesse um pouco de esperança.

── Você leva jeito pra isso! ── Eu a encorajei. ── Você tem um talento natural para se comunicar.

A conversa se desenrolou, e a tensão entre nós começou a diminuir. Luna parecia estar mais leve, mesmo que ainda houvesse um longo caminho a percorrer.

A tarde se arrastou e, ao sairmos do CT, eu a observei. Havia uma determinação escondida sob sua fragilidade. Ela estava lutando contra os demônios, e eu sabia que precisaria de tempo.

── Vamos treinar juntas amanhã? ── Perguntei, querendo incentivá-la a se reconectar com o vôlei.

── Sim, quem sabe? ── Ela respondeu, um brilho tímido nos olhos.

Enquanto caminhávamos juntas, eu percebi que, mesmo diante da incerteza, havia uma luz no final do túnel. Luna poderia encontrar seu caminho, e eu estaria ao seu lado, ajudando-a a navegar por esse mar de sentimentos e decisões.

O vôlei e o jornalismo poderiam coexistir, e quem sabe, talvez até mesmo a amizade entre nós encontrasse novas formas de se fortalecer.

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Oie!! to cheia de capítulos para soltar aquii.
Votem e comentem. 💘

𝘒𝘌𝘌𝘗 𝘈 𝘚𝘌𝘊𝘙𝘌𝘛. | Julia B.Onde histórias criam vida. Descubra agora