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- 2008 -

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- 2008 -

Calor.

A sensação tomou conta de Obito Uchiha quando abriu a porta do carro alugado por seu pai e saiu do interior do veículo. Os óculos de sol estavam em sua mala de mão, porém ele não se importou em pegá-lo, caminhando para o lado de seu pai que esperava o concierge da pousada terminar de tirar as malas do carro. Ignorava todo o diálogo entre o funcionário e seu pai enquanto observava a decoração tão conhecida do hall de entrada do local. Ainda possuía as mesmas poltronas de couro envelhecido e um balcão extenso feito de madeira nobre, mas as paredes estavam mais coloridas do que nas últimas vezes que tinha ficado hospedado. Sentou-se em uma das poltronas enquanto o pai pegava as chaves do quarto.

Sentia que estava sendo estúpido e irritante em demonstrar nenhuma emoção em estar ali, mas não conseguia lidar com a melancolia que ainda dominava seu peito. Sua mãe amava tanto aquele lugar, adorava os verões quentes por serem a estação favorita de Obito. Iniciou um ritual no aniversário durante os aniversários do filho, levando-o para a pousada de sua melhor amiga que vivia em um país tropical, dando a ele um pouco do calor de que tanto gostava e longe do seu país frio e cinzento onde moravam. Arrependeu-se de não ter pegado os óculos após sentir a leve ardência em seus olhos, tão comuns nos últimos meses, anunciando que logo viria uma onda de lágrimas.

Diziam que o luto tinha fases. Mas, para Obito, todas elas pareciam se misturar até se tornarem uma coisa só, uma espécie de figura monstruosa que se alimenta de suas memórias e tristeza. Ele não desaparece, apenas perde sua força diante da escassez que o tempo gera durante sua passagem. Entretanto, uma criatura faminta se torna algo insano e desesperado e, mesmo diante de sua fraqueza extrema, ainda consegue abocanhar partes daquela alma que deseja tanto parar de sofrer com a ausência. Pequenos pedaços são retirados, quase mínimos, mas são mais dolorosos do que as primeiras mordidas. Desta vez, não te rasga por inteiro até você desejar qualquer coisa que tenha o poder de interromper aquela dor. Ele faz sangrar em um local que continua frágil e sensível, obrigando-o a lembrar que ainda estava ali, alimentando-se de suas emoções, maltratando sua carne e destruindo a sanidade que ainda tentava resistir a toda essa violência.

Respirou profundamente, buscando um pouco de controle emocional, enquanto enxugava com o dedo indicador o canto dos olhos. Haviam feito uma promessa de que naquele ano seguiriam o "ritual" criado por ela e, mesmo que o sentimento de fazer isso apenas possuindo a companhia de seu pai não seja algo ruim, seria a última vez. Já havia sido quebrado nos últimos dois anos, momento que descobriram o câncer de mama em estágio avançado em sua mãe, Liz Uchiha. No último ano de vida de sua mãe,  seu pai teria gasto todo o dinheiro que acumulou em toda sua vida em tratamentos consolidados ou até mesmo os experimentais, mas o amor extremo pela mulher o fez aceitar um dos seus últimos pedidos.

Me deixem partir em paz, sem tanta dor e reações agressivas ao tratamento.

Lá no fundo de sua mente ainda reverbera o pedido de sua mãe, os dois homens lutando para não desabar na frente da mulher que já tinha semanas que mal conseguia levantar-se da cama. Ela sorria com tranquilidade e os abraçou com toda a força que podia quando, totalmente resignados, marido e filho aceitaram seu pedido e subiram em sua cama para darem um longo abraço. A partir daquele dia, viveram os melhores meses de sua vida após o diagnóstico doloroso, ficaram tão felizes a ponto de quase esquecerem da maldita doença.

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