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O debate recomeçou, mas para Datena, as palavras que vinham de sua boca pareciam automáticas, vazias de significado. Sua mente ainda estava presa no que acabara de acontecer. Marçal, do outro lado do palco, lançava olhares furtivos em sua direção, cada um carregado com um subtexto que somente os dois podiam compreender. Era como se houvesse uma conversa não dita, um diálogo oculto entre eles que se desenrolava em silêncio enquanto as câmeras continuavam filmando.

Marçal, com um leve sorriso no rosto, estava claramente em seu elemento. Ele tinha conseguido o que queria: desestabilizar Datena. Mas mais do que isso, ele havia tocado em algo que até ele mesmo não esperava. Havia poder em provocar o apresentador, mas também uma espécie de desejo em ver até onde aquela conexão sombria poderia ir.

"Você parece distraído, Datena", disse Marçal, enquanto fazia um gesto teatral, dirigindo-se à audiência. "Talvez seja hora de parar com esses joguinhos e mostrar quem você realmente é."

As palavras de Marçal tinham duplo sentido, como se ele estivesse falando diretamente para Datena, ignorando completamente o público. O jogo entre eles não era mais sobre política, era sobre controle, sobre quem cederia primeiro ao que estava crescendo entre eles. Datena sentia isso. E odiava.

Com os olhos fixos em Marçal, ele sentiu a raiva borbulhar novamente, mas junto com ela, algo mais profundo: um desejo de confrontá-lo, de tomar o controle dessa situação de uma vez por todas. Ele não podia deixar Marçal vencer. Não podia deixar aquele sentimento, seja ele qual fosse, crescer. Mas, ao mesmo tempo, parte dele queria ver até onde aquilo iria.

A tensão entre só aumentava, um fio de eletricidade que conectava ambos, invisível ao público, mas impossível de ignorar entre eles. Marçal se movia com facilidade, cada palavra cuidadosamente escolhida para provocar Datena, para puxá-lo mais fundo naquele jogo psicológico. E Datena, contra tudo o que acreditava ser, estava caindo nessa armadilha.

"Talvez você seja o único que precisa de um espelho, Marçal", respondeu Datena, suas palavras saindo mais afiadas do que ele esperava. "Você acha que tem o controle, mas está mais envolvido nisso do que gostaria de admitir."

O sorriso de Marçal vacilou por um breve segundo. Aquilo havia o atingido, ainda que levemente. Mas ele recuperou rapidamente a compostura, seus olhos brilhando de excitação.

"Eu nunca neguei que estou envolvido, Datena", ele murmurou, apenas alto o suficiente para que o outro ouvisse. "A questão é: até onde você está disposto a ir?"

As palavras caíram pesadas entre eles, e Datena sabia que, dali em diante, as coisas nunca mais seriam as mesmas.

O Debate Esquentou - Datena E Pablo MarçalOnde histórias criam vida. Descubra agora