3

258 12 7
                                    

O contato entre as mãos de Marçal e Datena foi breve, mas o impacto parecia reverberar por todo o corpo de Datena. Ele ainda sentia a mão queimada pelo toque, mas o que o corroía mais profundamente era o fato de que, por um segundo, tinha cedido. Cedido ao poder que Marçal exercia sobre ele, mesmo que fosse apenas uma faísca de desejo misturado com ódio. Como ele pôde deixar isso acontecer?

Marçal se afastou, satisfeito com o estrago que havia feito. Seus olhos brilhavam com aquela mistura inebriante de triunfo e prazer. Ele adorava brincar com as emoções das pessoas, mas com Datena era diferente. Havia algo mais profundo no ódio que sentiam um pelo outro. Algo que ia além da rivalidade política. Era pessoal. Era íntimo.

Datena respirou fundo, tentando recuperar o controle. Ele não seria derrotado tão facilmente. Havia uma linha que ele não cruzaria, por mais que Marçal tentasse arrastá-lo para o lado obscuro daquele desejo distorcido.

"Você acha que me conhece, Marçal", disse Datena, sua voz agora mais controlada, com um leve tremor que ele odiava mostrar. "Mas você não passa de um garoto brincando com fogo."

Marçal deu um sorriso torto, cruzando os braços com uma confiança quase insultante. "Fogo, Datena? Isso aqui é mais profundo que fogo. Você e eu, nós dois sabemos disso." Ele fez uma pausa, como se saboreasse as próximas palavras. "Isso aqui é mais... primal."

Datena não podia negar o que sentia. Havia algo primal entre eles, algo que não podia ser apagado com palavras ou violência. Era a dança perigosa entre dois homens que se odiavam tanto quanto se admiravam, que queriam ver o outro submisso e ao mesmo tempo ansiavam por aquela tensão que os consumia cada vez que se confrontavam.

O barulho das cadeiras sendo arrumadas ao fundo trouxe Datena de volta à realidade. O debate continuaria. Mas algo dentro dele havia mudado. Marçal tinha tocado uma parte de sua alma que ele nunca tinha permitido que ninguém visse, e o peso daquele contato o faria questionar cada decisão dali em diante.

Enquanto Marçal se afastava para o outro lado do palco, Datena não conseguiu deixar de observá-lo. Havia algo de hipnótico no modo como ele se movia — o corpo tenso, mas relaxado ao mesmo tempo, como se dominasse o ambiente ao seu redor sem esforço. Datena sentia o gosto amargo da derrota iminente, mas não podia negar: parte dele queria voltar àquele momento, àquele toque, mesmo sabendo o quanto isso o destruiria.

O Debate Esquentou - Datena E Pablo MarçalOnde histórias criam vida. Descubra agora