Capítulo 3: O Jogo da Coroa

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O sol de Porto Real ainda mal iluminava os corredores da Fortaleza Vermelha quando o conselho foi convocado para discutir a próxima etapa da guerra. Aegon II, o rei usurpador, sentava-se à cabeceira da mesa, seu semblante abatido e ares inebriados denunciando que o vinho havia sido sua companhia antes da reunião. Alicent estava a seu lado, preocupada, enquanto Otto observava tudo com um olhar frio e calculista.

Naerys entrou no salão, seus cabelos platinados brilhando sob a luz que passava pelas janelas altas. Ela se movia com uma graça natural, mas sua presença era pesada, imponente, e todos os olhos no salão a seguiam. Atrás dela, Aemond entrou, silencioso e atento, com um brilho de curiosidade nos olhos. Ele sabia que Naerys não era uma figura para se subestimar, mas ainda se perguntava o que a rainha de Essos pretendia.

O conselho começou, e rapidamente, a discussão desviou para as estratégias de batalha. Aegon, visivelmente afetado pelo álcool, interrompia frequentemente com sugestões imprudentes e absurdas. Sua mais recente proposta foi atacar diretamente o norte com uma força limitada, ignorando qualquer possibilidade de resistência ou preparação.

"Devemos avançar com tudo o que temos. Um ataque direto ao norte, antes que eles possam se reagrupar," Aegon sugeriu, sua voz um tanto arrastada. "Assim, eles não terão tempo de nos enfrentar de igual para igual."

O salão ficou em silêncio por um momento, até que Naerys, que observava tudo com uma expressão impassível, cruzou os braços e, sem rodeios, respondeu: "Não vou mandar meus homens para a morte porque um rei bêbado não consegue pensar em nada decente."

Todos os olhares se voltaram para ela, apavorados com a ousadia de sua fala. Alicent ofegou em choque, e Otto franzia o cenho, visivelmente preocupado. Aemond, por sua vez, manteve-se impassível, mas o brilho de interesse em seus olhos aumentou. Ele sabia que Naerys era destemida, mas até ele não esperava um comentário tão direto.

Aegon ficou furioso, batendo a mão na mesa. "Você deveria me respeitar! Eu sou o rei!"

Naerys olhou brevemente para Aemond, que estava encarando o chão, antes de se virar novamente para Aegon, um sorriso cínico brincando em seus lábios. "E eu sou uma rainha. Que, inclusive, não precisou usurpar o trono para ter poder. E se não me falha a memória...Vocês quem imploraram pela minha ajuda"

O silêncio que se seguiu foi palpável. Todos os membros do conselho se entreolharam, visivelmente desconfortáveis. A ousadia de Naerys os havia pego de surpresa, e ninguém parecia disposto a intervir. Aemond, por sua vez, não pôde evitar um sorriso divertido, e logo soltou uma risada baixa, incapaz de esconder sua satisfação com a cena.

Aegon, ainda mais furioso ao ouvir a risada do irmão, virou-se para ele, os olhos faiscando de raiva. "Você vai deixar ela falar assim comigo?"

Aemond, ainda tentando controlar o riso, deu de ombros e respondeu com sarcasmo: "Ué... não era VOCÊ o rei?"

Aegon, humilhado e sem respostas, levantou-se abruptamente da mesa, saindo da sala com passos duros e sem olhar para trás. O conselho permaneceu em silêncio enquanto ele se retirava, e assim que as portas se fecharam, Naerys virou-se para Aemond, o sorriso irônico ainda nos lábios.

Aemond a observava com uma mistura de fascínio e cautela. "E o que te faz pensar que tem conhecimento em batalhas, Naerys?" Ele pergunta em alto valiriano.

Ela o encarou diretamente, seus olhos prateados brilhando com a luz suave que entrava no salão. "Meus dez anos usando uma coroa," ela respondeu, a voz firme e confiante, também em alto valiriano. "Enquanto você lutava batalhas por ordens de outros, eu comandava exércitos inteiros. Cada decisão, cada estratégia, cada vitória ou derrota passou pelas minhas mãos. Não preciso provar nada a você ou a qualquer outro aqui."

Aemond manteve os olhos fixos nela, claramente intrigado com sua confiança e destemor. "Você fala como se já tivesse vencido essa guerra antes mesmo de começar."

"Eu não vim aqui para perder, Aemond," disse Naerys, a voz baixa e firme. "Eu vim para vencer. Os Hightower acham que podem me usar, mas eles subestimaram o que eu sou. Quando tudo acabar, Westeros será um tabuleiro vazio, pronto para ser preenchido novamente. E eu, com meus dragões e exércitos, estarei no centro disso."

Aemond inclinou a cabeça, os lábios se curvando em um sorriso genuíno pela primeira vez naquela manhã. Ele estava claramente encantado com a audácia e a força de Naerys. Ela não era como qualquer outra rainha que ele já havia conhecido. Era poderosa, astuta e, acima de tudo, implacável. Um jogo perigoso estava começando ali, e ele estava ansioso para ver até onde ela iria.

"Interessante," Aemond murmurou, ainda sorrindo. "Muito interessante."

Naerys apenas arqueou uma sobrancelha, mantendo sua expressão controlada. Mas por dentro, ela sabia que já havia conquistado uma parte do campo de batalha — não no campo real, mas no coração e na mente de Aemond Targaryen. O jogo estava em andamento, e ela estava jogando para vencer.

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