Capítulo 4: O Jogo Duplo

130 21 2
                                    

O sol ainda estava nascendo sobre Porto Real quando Aemond decidiu que era hora de sua pequena aventura. Ele observou Naerys durante os últimos dias, e embora ela fosse uma rainha, com seus três dragões e exércitos imponentes, ele não podia deixar de notar algo nela que o intrigava: um desejo reprimido por algo mais simples. E hoje, ele planejava testar isso.

Esperando pacientemente, ele escolheu o momento perfeito. Os guardas de Naerys estavam distraídos, ocupados com a troca de turno e a rotina que a Fortaleza Vermelha oferecia. Sem que ninguém percebesse, Aemond surgiu por trás dela no pátio, segurando-a pelo braço de maneira firme, mas sem força.

"O que você está fazendo?" Naerys perguntou, claramente mais surpresa do que assustada.

"Você confia demais nesses seus guardas," Aemond disse, com um sorriso malicioso. "Vou te mostrar como é a verdadeira Porto Real."

Antes que ela pudesse protestar, Aemond a puxou pela passagem secreta que ele conhecia desde criança. Era uma das muitas que serpenteavam pelo castelo, caminhos que Otto Hightower jamais aprovaria.

"Eu poderia gritar e fazer seus homens me encontrarem em questão de minutos," ela provocou, claramente não acostumada a ser 'sequestrada'.

"Ah, mas você não vai," Aemond replicou com um sorriso confiante. "Porque sei que você está curiosa."

Naerys revirou os olhos, mas permitiu-se ser levada. De qualquer forma, ela sabia que, se quisesse, poderia destruir qualquer coisa com seus dragões. Mas algo na audácia de Aemond a divertia, e ela resolveu ver até onde aquilo iria.

---

Logo, os dois se encontraram na Baixada das Pulgas, o lugar mais sujo e caótico de Porto Real. O cheiro de peixe podre e sujeira misturava-se com a fumaça das chaminés. Naerys olhava ao redor com um misto de fascínio e desgosto.

"Então, é isso que vocês chamam de civilização?" ela zombou, enquanto desviava de uma poça de água imunda.

Aemond sorriu, claramente aproveitando a situação. "Esse é o coração de Porto Real. É daqui que vem o verdadeiro poder. Essas pessoas, por mais miseráveis que pareçam, são os alicerces de qualquer reino. E você deveria conhecê-los."

"Devo dizer, não parece muito diferente de Meereen antes de eu tomar o trono. Talvez até um pouco pior." Ela lançou um olhar de canto para ele, suas sobrancelhas arqueadas. "Mas admito, você é corajoso em me trazer aqui."

"Cuidado, rainha de Essos, ou você pode acabar gostando disso," Aemond disse, claramente se divertindo com a ideia de Naerys, a grande Mãe dos Dragões, caminhando pelas ruas imundas.

Enquanto passavam pelas barracas de vendedores, um mercador sujo de peixe gritou algo para Naerys, provavelmente sem ter ideia de quem ela era. "Ei, minha senhora, gostaria de uma enguia fresca? É o melhor que temos por aqui!"

Naerys olhou para o peixe com desgosto e respondeu sem perder o humor sarcástico: "Não, obrigada. Prefiro não arriscar minha vida com... seja lá o que isso for."

Aemond gargalhou, e pela primeira vez, Naerys não pôde deixar de rir também. O contraste entre a grandiosidade de suas posições e a simplicidade grotesca do lugar tornava a situação ridiculamente cômica.

Eles continuaram caminhando por mais algum tempo, Aemond mostrando a ela os locais onde cresceu, os cantos que conhecia tão bem. Mas logo, Naerys começou a se cansar daquela aventura. Afinal, ela era uma rainha. E, como sempre, o poder a chamava de volta para suas responsabilidades.

"Está se divertindo?" Aemond perguntou, observando o cansaço no rosto dela.

"Divertida não é bem a palavra," Naerys respondeu, secando as mãos após tocar em uma parede imunda. "Mas foi... esclarecedor. Agora, posso entender melhor de onde vêm os seus problemas."

Aemond riu mais uma vez, mas antes que pudesse responder, uma senhora velha os parou na rua. "Vocês são um belo casal," ela disse, um sorriso desdentado aparecendo em seu rosto suja. "Abençoados pelos deuses, com certeza!"

Naerys e Aemond se entreolharam, claramente sem saber o que responder. Aemond pigarreou, enquanto Naerys apenas balançou a cabeça, em um raro momento de desconforto.

"É melhor voltarmos para a Fortaleza antes que você seja coroada rainha da Baixada das Pulgas," Aemond disse, ainda se divertindo com a situação.

"Eu concordo," Naerys respondeu, ajeitando seu manto. "Não gostaria de ficar para a cerimônia."

---

De volta à Fortaleza Vermelha, Naerys observava Aemond de maneira diferente. Ele era intrigante, com suas ações imprevisíveis e seu senso de humor incomum. Havia algo nele que a fazia pensar que ele não era apenas mais um peão no jogo de poder que estavam jogando.

"Sequestrar uma rainha," Naerys disse enquanto se despediam. "Um movimento ousado, Aemond. Mas você se esqueceu de uma coisa."

"Ah, é? O que seria?" ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

"Eu ainda tenho meus dragões," ela sorriu maliciosamente, e antes que ele pudesse responder, ela já estava caminhando em direção aos seus aposentos, deixando-o lá, com um sorriso que ele não conseguia esconder.

---

Naerys sentou-se à sua mesa, sua mente já de volta aos jogos de poder. Ela pegou um pergaminho e uma pena, e começou a escrever uma carta com calma e precisão. Seu rosto mantinha uma expressão fria e calculista enquanto as palavras se formavam na página.

Após terminar a carta, ela chamou Branwen, sua mão, que entrou silenciosamente no aposento.

"Envie esta carta para Rhaenyra," ordenou Naerys, sem levantar os olhos do pergaminho. Branwen acenou com a cabeça, pegando a carta e saindo com pressa.

Naerys suspirou e olhou para a janela, onde o sol já estava se pondo. Um sorriso malicioso curvou seus lábios. O jogo estava apenas começando.

Dragons Fire~ Aemond Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora