3- O Recado

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O suor de Carmem já havia encharcado todo o seu corset. Aquela roupa quente e o calor dentro do esgoto causavam uma mal-estar na jovem.

- E agora? O que vamos fazer? Perdemos uma. Somos só nós duas agora.

- Primeiro saímos daqui. Depois pensaremos no próximo passo.

- Nojenta foi aquela sua atitude de deixar a menina como distração.

- Eu fiquei nervosa, e não ia dar tempo. Ela pensa demais.

O silêncio voltou. Parece que a traição não refletia só no coração, a língua ao que parecia também estava congelada. Acostumadas com aqueles caminhos, elas andavam por ali como se estivessem em uma rua ,tranquila e limpa, passeando.

Elas andaram até se deparar com uma escada, “a escada do arredor” era assim como elas a apelidaram, pois os subúrbio era logo em cima.

- Chegamos.- Ofegante, Carmem colocou o pé de apoio na escada.

- Por qual motivo você nos levou aqui?

- Eu vim aqui, você me seguiu.

- É claro que te segui, nos sempre estamos juntas, esqueceu?

- Não, Esmeralda.- Carmem pausou, como se estivesse procurando as palavras para dizer- Vim ver a Fran. Combinamos de nos encontrar na nossa árvore.

- Não acredito. Depois de tudo o que ela fez?

- Ela se arrependeu na hora. Depois que mandou aquela carta, ela veio até mim, e me disse o que havia feito, o que havia falado.

- Idaí? O que ela fez nos custou a Eleanor.

- Você derrubou a Eleanor.
A o foco da conversa foi perdido quando as duas pularam para o outro lado do corredor quando um casal de ratos seguiam passando por elas.

-Me espere aqui.- Carmem deu a ordem, antes de subir na escada e desaparecer.

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Fran estava apoiada em uma árvore, seus cabelos voavam como o vento, ela havia tirado os óculos. Todos concordam que ela fica mais feia sem eles, mas ela parecia não ter ciência disso, Carmem também não tinha. Para Carmen aquela era a mulher mais bonita do mundo.

- Fran.- Carmem pensava nas palavras que viriam a seguir, mas Franciele foi mais rápida.

- Deu tudo errado. É isso o que veio me falar?- Diante do silêncio da sua amante, Fran prosseguiu- Eu sabia que daria errado. Que ideia idiota, Carmem.

Os pensamentos de Carmen eram confusos, por um lado tudo era culpa da mulher a sua frente, por outro essa mulher era o motivo de ela querer acordar cedo todos os dias para conseguir dinheiro.

- Não vai falar nada? – Foi o tom de irritação na voz de Fran, que fez Carmem abrir a boca.

- Estamos tentando. Ainda vamos conseguir, só precisamos encontrar alguém rico, pegar o dinheiro e ir para longe, sumir por um tempo.

O relacionamento das duas sempre foi instável. Franciele sabia que sua amante tinha o direito de ter raiva dela, mas Carmem nunca dissera nada, nem agora que realmente custou tudo. Talvez fosse essa delicadeza que afastava Franciele, que preferia a franqueza. Foi isso que a fez se apaixonar por Carmem. Mas Carmem, com medo de perde-la, não demonstra tanta sinceridade em suas palavras como antes.

- Pode falar. Está com raiva de mim Cá?

- Não, não estou. Eu também ficaria com raiva se achasse que você está me traindo.

- As vezes eu acho que te machuca.

- Não vamos falar sobre isso de novo, não agora.

Silêncio irrompeu pelas duas, isso era raro. Mas as duas não sabiam mais o que falar, sempre que falavam as palavras eram como golpes, não eram bem as palavras, era a frieza o que as feriam.

Matar Ou Morrer, Tudo Por Um Sonho.Onde histórias criam vida. Descubra agora