O esconderijo tecnológico onde Michiru se encontrava estava banhado por uma luz suave, quase clínica, que refletia em superfícies metálicas brilhantes. O espaço era impecável, com linhas limpas, frias, e uma organização meticulosa, dando a impressão de que tudo estava sob controle. Painéis de controle, monitores holográficos e mesas de metal distribuídas com precisão. Cada canto do esconderijo era iluminado de forma estratégica, sem sombras, mas a mente de Michiru estava tomada por uma escuridão densa.
Sentada diante de uma grande tela holográfica que exibia o complexo onde Takeshi mantinha
Akihiko prisioneiro, Michiru mantinha o olhar fixo nos detalhes do mapa tridimensional. O ambiente silencioso à sua volta contrastava com a tormenta interna que a dominava. Seus olhos escuros passavam por cada ponto de acesso, cada rota de fuga e cada corredor no mapa. Ela estudava tudo com precisão implacável, mas a angústia e a raiva estavam sempre à espreita, tentando romper sua concentração.
O ar no esconderijo era frio e estéril, quase sufocante em sua perfeição. O leve zumbido das máquinas tecnológicas era a única coisa que quebrava o silêncio absoluto, fazendo com que cada respiração de Michiru parecesse alta demais. O controle perfeito do ambiente apenas fazia sua mente fervilhar ainda mais, incapaz de ser domada pela ordem ao seu redor.
Ela levantou-se da cadeira, inquieta, e começou a andar em círculos pelo espaço iluminado. Cada passo ecoava suavemente no chão metálico, seus movimentos rápidos refletindo a turbulência de seu coração. A tensão no ar era palpável enquanto seus pensamentos se organizavam em torno de um plano detalhado e calculado.
Michiru sabia que Takeshi era um estrategista implacável, então sua abordagem não poderia ser direta. Ela precisava de um plano que misturasse sutileza e velocidade, algo que permitisse a ela entrar, libertar Akihiko e sair antes que Takeshi tivesse chance de reagir.
Ela voltou à mesa e começou a desenhar mentalmente os pontos-chave de seu plano
Michiru precisava de uma maneira de se infiltrar no esconderijo de Takeshi sem disparar alarmes ou chamar atenção. Para isso, ela teria que desativar a segurança externa sem que eles percebessem. A primeira parte de seu plano era conseguir acesso à rede de segurança — algo que poderia fazer de longe, utilizando os dispositivos avançados de hackeamento que estavam à sua disposição no esconderijo. Ela já havia começado a invadir os sistemas de vigilância e, com alguns comandos, ajustava as câmeras para criar pontos cegos que ela poderia usar.
Enquanto digitava os comandos rapidamente, sua mente vagava. Cada linha de código que ela inseria a levava mais perto de seu objetivo, mas também mais perto de enfrentar Takeshi. Seu coração acelerava a cada progresso, sabendo que, a qualquer erro, Akihiko pagaria o preço.
Ela sabia que o local estaria repleto de guardas leais a Takeshi, homens bem treinados e dispostos a tudo para protegê-lo. Mas Michiru não tinha tempo para confrontos diretos. Ela utilizaria suas habilidades furtivas para contornar os guardas, utilizando corredores menos vigiados. Entretanto, se algum confronto fosse inevitável, ela tinha preparado dardos tranquilizantes silenciosos — o suficiente para neutralizar sem chamar atenção. Cada dardo em seu coldre parecia pesar mais, simbolizando o que estava por vir.
Ao tocar no coldre preso ao seu cinto, Michiru sentiu a mão tremer. Ela nunca gostou de violência, mas a necessidade de salvar Akihiko superava qualquer hesitação que pudesse ter. "Tudo por ele", repetiu para si mesma em um sussurro quase inaudível. Era sua única âncora.
A parte mais delicada do plano. Takeshi não seria descuidado a ponto de deixar Akihiko em qualquer sala. Ele estaria trancado em um lugar seguro, provavelmente isolado no complexo. Ela já tinha mapeado os lugares mais prováveis, baseando-se na estrutura do edifício e nos padrões de comportamento de Takeshi.
O caminho até lá exigiria rapidez e precisão. Usando as rotas de manutenção, Michiru planejava se mover pelos corredores inferiores, que raramente eram patrulhados. Ela já tinha identificado os dutos de ventilação que a levariam até o local mais próximo do cativeiro. Ao visualizar essas rotas no holograma à sua frente, ela traçou o caminho várias vezes na cabeça, memorizando cada curva, cada passagem estreita.
Chegar até Akihiko não seria o fim. Ela sabia que ele estaria preso, provavelmente acorrentado ou drogado para não resistir. Isso exigiria uma ação rápida e calculada para libertá-lo sem chamar atenção. Uma vez libertado, eles teriam apenas alguns minutos para escapar antes que a segurança de Takeshi percebesse. Nesse momento, sua fuga pelos corredores subterrâneos precisaria ser cronometrada com precisão.
Michiru sabia que este era o momento mais arriscado. Qualquer falha significaria a captura não apenas de Akihiko, mas também dela. O medo de ser tarde demais estava sempre em sua mente. O pensamento de encontrar Akihiko machucado ou, pior, inconsciente, fazia seu coração apertar.
Michiru sabia que não podia simplesmente resgatar Akihiko e fugir. Takeshi estava sempre um passo à frente, e ela precisaria confrontá-lo de alguma forma. Sua vingança estava a um passo de ser concretizada. Ela não podia fugir para sempre; teria que encarar Takeshi e garantir que ele nunca mais ameaçasse seu irmão.
Mas como? Essa parte ainda estava nebulosa em sua mente. O desejo de vingança era visceral, mas a realidade do confronto a deixava apreensiva. Ela sabia que enfrentá-lo não seria fácil, que Takeshi não era apenas um adversário comum, mas alguém que carregava em si um poder destrutivo. Entretanto, a ideia de enfrentar Takeshi sozinha não a assustava tanto quanto o risco de falhar com Akihiko.
Enquanto seus dedos se moviam automaticamente sobre o teclado, criando o plano com precisão, sua mente se enchia de dúvidas e temores. Cada decisão que ela tomava carregava um peso esmagador. E se falhasse? E se Takeshi estivesse esperando por ela, antecipando cada movimento? A ideia de perder Akihiko — a única pessoa que ainda a mantinha ancorada à sanidade — era insuportável. A escuridão dentro de Michiru, que tantas vezes se manifestava em seus poderes, parecia à beira de consumi-la por completo.Ela precisava ser rápida, precisa e fria. Mas, por dentro, Michiru era uma tempestade que não podia ser contida.
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Sobre as sombras de Tóquio
RomanceEm um futuro distópico, a metrópole de Tóquio esconde segredos sombrios e tecnologias avançadas. Michiru Misaki, uma jovem de 19 anos com habilidades híbridas de gato, navega pelas complexidades de sua vida dupla. Órfã desde cedo, ela foi criada por...