007.

52 6 50
                                    

Domingo, 12h30 - Egito, África

De cabeça baixa, Jace caminhava em direção ao elevador. Ele deveria estar a caminho do treino com Scarlett e Kahina, mas ao ver o estado em que ele ficou após o treino com Daemon, Yuna o dispensou de qualquer atividade para o resto do dia e ordenou que ele fosse para a enfermaria, em suas próprias palavras: ver se todos os seus ossos ainda estavam no mesmo lugar.

Jace sabia que o mais prudente seria ir à enfermaria mesmo, afinal, as juntas de seus dedos estavam vermelhas e formigando, deixando suas mãos trêmulas, seu queixo ainda latejava, e seu abdômen e peito doíam tanto que dificultavam sua respiração. Entretanto, seu orgulho e teimosia não permitiram que ele seguisse o bom senso e a ordem de Yuna, ele não desejava se mostrar ainda mais fraco logo em seu primeiro dia, então ele dispensou a ideia de passar na enfermaria e voltou sozinho para o dormitório da equipe.

Jace se recusou a derramar uma única lágrima, toda a situação já tinha sido humilhante o bastante e ele não podia se dar ao luxo de cair aos prantos diante de todos aqueles agentes. Mas no momento em que cruzou a porta do dormitório e o encontrou vazio, ele respirou aliviado por não ter que encarar ninguém naquele momento e finalmente desmoronou.

Ele se afundou na beira da cama em seu quarto, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto escondido nas mãos. Seus ombros tremiam e as lágrimas escapavam incessantemente, mas não era o cansaço do treino ou as dores dos golpes sofridos que causavam isso e sim as palavras cruéis de Daemon, que pareciam ecoar no fundo de sua mente minando a confiança que ele tentava desesperadamente manter durante todo esse tempo em relação a sua mãe.

Por mais que tivesse tentado refutar e que quisesse ignorar as coisas que Daemon havia dito, a verdade é que as palavras dele tinham tocado em um ponto sensível e reacendido um medo que ele já carregava. Desde que sua mãe o abandonou para seguir esse caminho insano, ele tentou justificar suas atitudes, o luto, a dor, a sede de vingança. Mas no fundo, ele temia que houvesse algo mais, algo sombrio. E se ela não estivesse apenas afogada na dor pela morte de Jared? E se ela estivesse, de fato, escondendo algo mais profundo, uma parte de si que ele nunca conheceu? Uma parte que poderia transformar aquela mulher forte e amorosa que o criou em uma completa estranha?

Jace deixou escapar um suspiro trêmulo enquanto tombava o corpo para trás na cama. Agora deitado de lado, ele agarrou o travesseiro e afundou o rosto nele.

Pequenas e suaves batidas na porta o despertaram horas depois, por mais que Jace não se lembrasse de ter adormecido. Ele levantou, ainda com o corpo dolorido e ao abrir a porta, se deparou com Sam e seu habitual sorriso gentil, mas bastou uma olhada sobre ele para seu sorriso se abalar um pouco.


- Nossa, você está acabado. - Constatou Sam, com um pitada de pena na voz.

- Obrigado. - Jace murmurou ironicamente e deu as costas para Sam, mas gesticulou para que ele ficasse a vontade para entrar no quarto se quisesse.

- Está com dor? Quer ir na enfermaria? - O agente perguntou, parecendo preocupado de verdade.

- Não, tudo bem. Não ta doendo tanto mais, acho que a pior parte já passou, agora é só... - Jace fez uma pausa, suspirando pesadamente. -Deixa pra lá.

- Sinto muito por seu primeiro dia já ter sido assim. - Lamentou Sam. -Sabe, a gente sempre conversa com o Daemon sobre isso. Ele pega muito pesado nos treinos e assusta os novatos. Até os mais velhos têm dificuldade para acompanhar o ritmo dele. Não se preocupe, vou pedir para Scarlett falar com ele e...

- Não! - Jace o interrompeu. - Eu agradeço, mas não precisa, é sério. Não quero dar motivos para transformar os treinos com ele em algo ainda mais catastrófico.

𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora