Prólogo: A Anomalia

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O vento sussurrava através das janelas do observatório isolado, perdido no alto das montanhas. O céu acima era um vasto oceano negro, pontuado apenas pelas estrelas, pequenas e distantes, como ecos de algo muito além da compreensão humana. O silêncio da noite era absoluto, exceto pelo leve farfalhar das páginas dos relatórios que o Dr. Elias Venturi folheava distraidamente. Ele estava ali, como de costume, absorto nas suas observações.

Elias tinha passado as últimas décadas estudando os céus, fascinado pela imensidão do universo. No entanto, nas últimas semanas, algo havia mudado. Ele notou pela primeira vez uma leve alteração no brilho de uma estrela em um sistema distante. Algo que, à primeira vista, parecia um erro de cálculo. Ele refez as medições, ajustou os instrumentos, mas os resultados eram sempre os mesmos: a luz daquela estrela, que havia brilhado por milhões de anos, começava a desvanecer-se. Não de forma repentina, mas lenta e gradualmente, como se estivesse sendo sugada por uma força invisível.

Com a mente afiada e a determinação que o caracterizava, Elias expandiu suas observações. Começou a examinar outros pontos do céu, comparando os dados com observações anteriores. E foi então que o padrão se revelou: estrelas em diferentes partes do cosmos estavam perdendo seu brilho. Não eram apenas uma ou duas — o fenômeno era disseminado, uma espécie de obscurecimento gradual que parecia estar se espalhando. A princípio, pensou ser um ciclo natural, uma variação nas fases de luz estelar, mas a velocidade com que a escuridão avançava não fazia sentido.

Ele registrou suas descobertas em seu diário com precisão científica, ainda não convencido do que realmente estava vendo. O mistério o consumia. Elias era um homem movido pela busca incessante do conhecimento, e cada nova peça de informação o levava mais fundo em sua obsessão. Mas, naquela noite em particular, algo o incomodava de forma diferente.

Olhando para fora, para o horizonte, ele percebeu algo sutil: a escuridão parecia mais densa do que o habitual. Não era a simples ausência de luz que ele conhecia e entendia tão bem — era algo mais. A escuridão ali parecia... viva. Ela não apenas envolvia o observatório, mas o pressionava, como se tivesse um peso próprio. Elias piscou, e a sensação desapareceu. Apenas o vazio do espaço diante dele.

"Estou ficando paranoico", murmurou para si mesmo, sacudindo a cabeça. Ele voltou ao telescópio, ajustou as lentes, focando em um ponto específico no céu que costumava ser uma das suas vistas favoritas. Lá, uma estrela solitária, brilhando forte contra o pano de fundo negro do universo. Ou ao menos, era isso que ele esperava ver.

Quando ajustou o foco, a estrela não estava mais lá. Onde antes havia luz, agora havia apenas um vazio absoluto. O ar ao redor de Elias pareceu congelar. Ele ajustou novamente, com mãos trêmulas, mas o resultado era o mesmo. A estrela havia desaparecido.

O silêncio dentro do observatório tornou-se quase palpável. Um frio repentino se infiltrou em seus ossos, e, pela primeira vez em muitos anos, Elias Venturi sentiu um medo primordial. Um medo que ele, um homem da ciência, sempre ridicularizou. Era o medo do desconhecido, o medo do que não pode ser visto ou explicado. Ele deu um passo para trás, seus olhos fixos no vazio onde antes havia luz.

A escuridão lá fora parecia mais próxima agora, mais espessa. Como se estivesse avançando lentamente, mas de forma inevitável. Elias piscou novamente, tentando afastar o pensamento, mas algo dentro dele sabia que o que estava acontecendo não era normal. Era como se o universo estivesse se retraindo, deixando a escuridão reclamar o que sempre lhe pertenceu.

Ele olhou para o céu mais uma vez e percebeu algo que não havia notado antes: o número de estrelas visíveis estava diminuindo, uma a uma, como se estivessem sendo apagadas de uma vasta tapeçaria cósmica.

"O que está acontecendo?", sussurrou, sua voz soando estranha e pequena no vasto silêncio do observatório.

Mas o universo, como sempre, permaneceu mudo. E a escuridão, incansável, avançava.

A União com o Vazio - ByLiFearOnde histórias criam vida. Descubra agora