5. A União com o Vazio

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Elias, sentado na pequena sala de controle do observatório, já não tinha noção de quanto tempo se passara desde que o sol havia desaparecido para sempre. O tempo se diluía em uma massa informe de momentos indistinguíveis, fragmentos de memórias desfeitas e pensamentos que não levavam a lugar algum. O conceito de "dia" e "noite" havia perdido qualquer significado. Tudo o que restava era a escuridão.

Mas Elias não sentia mais o terror primitivo que havia lhe tomado no início. O medo, antes uma presença sufocante, tinha se dissipado em uma apatia gelada. A princípio, ele lutara contra o desconhecido, contra o vazio. Agora, algo dentro dele começava a se render. Ele estava cansado, exausto de tentar compreender o incompreensível.

Seus pensamentos eram invadidos por uma ideia insidiosa, algo que, embora tentasse rejeitar, crescia com uma certeza incômoda: a escuridão sempre estivera ali. Sempre. A luz era o verdadeiro intruso, uma anomalia frágil e efêmera, destinada a desaparecer. O universo não precisava de luz, assim como não precisava de vida. Ele, Elias, era um acidente temporário, uma fração ínfima de uma existência que logo seria engolida pelo estado natural das coisas.

O vazio.

Ele saiu da sala de controle, seus passos ecoando pela estrutura oca do observatório. Ao atravessar os corredores, a escuridão parecia quase abraçá-lo, envolvê-lo com uma familiaridade perturbadora. Não era mais uma presença hostil, mas uma força que o convidava para dentro dela, como um retorno inevitável àquilo que ele sempre fora.

Ele se aproximou da grande cúpula do telescópio, agora inútil. O céu acima era uma abóbada negra e infinita. Não havia mais estrelas, nem horizonte. Apenas um poço de escuridão tão absoluto que Elias sentia como se pudesse cair nele para sempre. Ali, parado sob a vastidão vazia, uma calma doentia tomou conta de seu ser.

A verdade, então, o atingiu com força. Não havia mais luta. Não havia mais Elias. Apenas a escuridão. Apenas o vácuo. Ele percebeu que, ao tentar resistir à escuridão, ao buscar respostas e significados, havia perpetuado a ilusão de que sua existência importava. Mas isso era uma mentira. E agora, ele sabia que a aceitação era o único caminho para a paz.

Elias sentiu sua mente começar a se desintegrar, não em pânico, mas em algo que se assemelhava à tranquilidade. A sensação era estranha, como se ele estivesse desaparecendo, não fisicamente, mas no que dizia respeito à sua identidade. Seu "eu" dissolvia-se, transformando-se em parte da vastidão infinita que o cercava.

Seus pensamentos se tornaram fragmentados, até que finalmente cessaram. Ele não precisava mais de pensamentos. Não precisava mais de lembranças. O conceito de tempo deixou de importar. Ele havia se unido ao vazio, e o vazio o aceitara, não como um ser distinto, mas como uma parte inextricável de sua própria natureza.

Por um instante — ou talvez por uma eternidade — ele experimentou o que só poderia ser descrito como um estado de fusão total com a escuridão. Não havia mais corpo, não havia mais mente. Apenas a presença do nada. Ele havia se tornado parte daquilo que sempre existira: a escuridão primordial, o estado de vazio que dominava o universo desde o princípio e que, agora, se estendia para sempre.

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E a escuridão permaneceu. Sem luz, sem tempo, sem vida. O universo voltou ao que sempre fora, e o breve lampejo de existência que havia desafiado sua natureza foi apagado sem esforço. Elias havia deixado de existir, mas isso não importava. No final, o que restava era o vácuo eterno — uma extensão infinita de silêncio e trevas, onde não havia sentido, nem propósito.

E assim, o ciclo da luz terminou, não com um grito, mas com o suave apagar de uma chama que nunca deveria ter existido.

A escuridão venceu.

E sempre venceria.

A União com o Vazio - ByLiFearOnde histórias criam vida. Descubra agora