4.

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Ela permanece em silêncio, em retenção, por precisos, e contados, 12 segundos.

Minha angústia controlada por numerais.

1,

2,

3,

4,

5,

6,

7,

8,

9,

10,

11,

12.

No alcance do último, deixa um suspiro. Suspira como se não cresse nisso tudo aqui conversado. Sei, porque aperta os olhos, evitando os meus. Afasta o corpo, desprendendo-nos parcialmente. Passa as mãos pela extensão do rosto límpido até tocarem os cabelos. Toca o queixo e comprime os lábios para dentro da boca, como se não soubesse falar, exteriorizar, os pensamentos combustíveis dentro dessa cabeça tão privada. Ela nunca permite acesso.

Deixe-me entrar, Faye, por um momento sequer.

Deixe-me sentir o que está sentido.

Então, aquele seu silêncio foi interrompido por gestos de apavoro. Ainda, apesar, continuo buscando. Não deixo de vê-la, acompanho cada mensagem implícita soterrada nas expressões, pois, diferente dela, não seria despercebida. Não seria, a essa altura, irresponsável com o próprio coração. É o tanto que a queria.

- não podemos - é a primeira vez dizendo, não sabendo que repetiria a frase em diversas outras oportunidades, em silêncio, acalentado alguém além de mim - não podemos - dessa última, olha-me. Percebe essa silhueta até então digna de sentimentos e medos.

Ela compreende.

Compreende, mas, ainda, recusa.

- o que temos agora ... não podemos. Não podemos - exasperada, quando percebe nossas posições ainda prensadas, afasta - o que temos é tão certo e controlado, não colocamos o pé para fora da linha, simplesmente não podemos fazer isso.

Daqui, prossigo assistindo a descompostura de sua pessoa. Ficaria feliz, talvez, em testemunhar como a reação prova e certifica diversos pontos levantados dentro dessa cabeça pensante, mas a forma racional como coloca nossa situação causa desespero, impossibilitando a coexistência de qualquer sentimento diferente de angústia.

Nas passadas incertas dadas pelo apartamento, volta-se a mim. Dessa vez, a íris é clareada por lágrimas congestionadas na região. Elas não escorrem ainda, o que agradeço, porque, caso fizessem, não acho que conseguiria vencer a ânsia de tocá-la.

- por que fez isso, Yo? - reclama. Reativamente, penso em intervir com certo protesto, mas, antes, acrescenta - por que diz isso agora? - continua.

Por fim, o choro escorre pela extensão avermelhada das bochechas. Em contradição, ao invés de buscá-la, meu corpo sente uma súbita onda de fraqueza, como com o peso de braços que eu jamais usaria. Movimentos que eu jamais faria. Palavras que eu jamais diria.

Busco estabilidade na parede ainda atrás.

- venho tentando por tanto tempo manter tudo sob controle - afastando a vulnerabilidade, impede o escorrer prolongado das lágrimas, corta pela raíz. Antes de inibir integralmente o sentido, olha-me. Os olhos tão claros pelo choro. Perco-a de vista somente quando soluço.

Pergunto, por um momento, se também sente os músculos falharem, porque recosta na parede paralela a mim. Somos impedidas de nos movimentar, de buscar abrigo em outro local.

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