6.

239 18 31
                                    

Os céus poderiam pegar fogo,

o teto poderia cair sobre mim,

o universo poderia testar para ver se realmente fico.

Testar se eu seria ousada o bastante para permanecer sobre seu corpo, jurando arduamente ter sido arrebatada enquanto a íris dos olhos me relembra o verdadeiro significado da religião.

Faye era a oração que eu rogaria, a despeito de ter sido sempre tão pagã,

a despeito de ter vivenciado o ardor e clamor dos nove círculos do inferno. No final, no núcleo da terra, eu não encontraria o diabo, mas sim uma versão conscientizada da própria persona. Porque, quando aqui opto por ficar, sei ter vivido uma farsa há 23 anos. Fingido sensações,

emoções,

sentires,

risos,

orgasmos,

choros,

só pela necessidade de pertencer, enquanto aqui eu deveria estar, aceitando esse sentimento não ironicamente atrelado ao divino, ao etéreo. A religião, entre nós, é metáfora ao amor e, quando, ao olhá-la tão ternamente, meu coração aperta dentro do peito, sei ter sido acobertada por um manto sacro. Entretanto, o pecado ainda impregnado no dígito dos dedos,

na ponta dos lábios,

no gosto da língua,

sou um ser errante, talvez não merecedor de tamanha adoração.

Então a descrença acrescida à combustão de pensamentos me desespera, agora.

Não sei o que fazer.

Faye, de certa forma, busca nos olhos. Lê tão claramente a submersão no meu próprio intelecto que, às vezes, parece conseguir decifrar todas as conexões de ideias surgidas. Ela sabe eu estar divergindo, dissociando na convicção de meu corpo ter, finalmente, atingido o núcleo da matéria, após tanto ansiar, mas encontrar-se perdido nas arestas. Perdido nos cânticos rabiscados pelas linhas de seus quadris,

nos ossos da clavícula,

no monte de vênus.

Sabe eu estar alimentando uma angústia por pensar não conseguir venerá-la à altura dos santos. Ali, temo perder o fio das palavras sagradas da oração quando primeiro escutar seu gemido em resposta às minhas ações incertas. Seria capaz de suportar, talvez? Seria testada. Me teste, Faye.

Então se move. Move, imperceptivelmente, como se estivéssemos no fundo de uma piscina, meu pecado ficando cada vez mais nítido na tatuagem de sua pele. Contudo, como ser imaterial que é, me beija a testa e perdoa o espírito cobiçoso. Afasta os cabelos pregados na minha face.

Meus olhos continuam perguntando, procurando, buscando.

- nós podemos parar aqui - seus lábios cochicham ante o estado inseguro do corpo sobre o seu.

Não precisaria dizer o quão atormentada estava por, ali, termos chegado.

Com a interferência de sua voz preenchida de cuidado, apoio o queixo sobre um dos seios, fitando-a na orbe, nossas pernas fundidas a ponto de formarem uma única estrutura. A silhueta sobreposta, sendo sua.

Lentamente, ofereço uma negativa silenciosa com a cabeça.

Eu não desperdiçaria a oportunidade. Ainda que jamais tenha experimentado o sabor de uma mulher e agora esteja repleta de nervosismo e insegurança, forças superiores a mim proíbem a fuga. Seria criminoso, até. Herege. O que pensariam de mim?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 16 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Amáveis.Onde histórias criam vida. Descubra agora