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NOTA: na minha cabeça, esse capítulo seria único, mas acabou ficando longo demais. Então resolvi dividi-lo em dois. Não me matem, por favor. A atualização já está seguindo. 
No mais, é de inteira responsabilidade de vocês as obscenidades que irão ler. 

Também agradeço imensamente pelo carinho e incentivo. 




No lago das lamentações, eu existia.

Existia em tamanho afinco, dedicação, que, no primeiro toque de seus lábios contra esses, meu espírito devoto debruça uma ou duas lágrimas pelas bochechas ainda coradas. É a lamentação de um coração tão submisso e de um amor não mais leviano.

Eu estava aqui, re-existia.

Então, dessa vez, neste círculo, não relutaria contra o caminhar,

não provocaria dilúvidos de angústia,

não mais invocaria esse âmago ansioso em busca de aceitação ou reciprocidade, porque, quando envolve seus braços em meu torso, fundindo-nos, sei não mais conversar sozinha. Não mais sentir unilateralmente. E, após tanto tempo, a sensação é tão cerval que me arranca lágrimas autodescritivas. Sim, eu a amo. Faye, eu a amo. As palavras, insuficientes, encontraram companhia na forma como meu corpo, a cada movimento sem ensaio, narrava o quão dela realmente era. O quão realmente é. Desta vez, Faye tem ciência. Não me despeceberia.

O toque em nossas bocas é fugaz, no entanto. A princípio, vai em desencontro a todos os outros beijos dados ficticiamente. Aqui, inexiste roteiro indicando o próximo passo, tampouco cabe a interferência de coreógrafo de cena explicando o ângulo e o esfregar dos corpos.

É cru, e me tenta mergulhar mais três metros ao fundo.

Faye percebe a descida das lágrimas quando nos separa, primeiramente. Os polegares secam tão delicadamente, parecem manusear vidro de espessura milimétrica. Beija os caminhos. No retorno, os olhos são claros, translúcidos. Dessa distância, mirando-a centímetros acima, quero desligar as luzes e beijar suas pálpebras a fim de que sentisse o quão humana era, apesar da crença comum contrária.

Quero fazê-la sentir ser mulher.

Quero fazê-la, na carne, testemunhar o quanto a queria.

Numa conversa ocular, esboço o cenário onde isso aconteceria. Mostro, nos olhos, as imagens de minha pessoa por tantas noites traindo os grandes mestres religiosos ao usar seus nomes em vão na tentativa falha de trazê-la para mais perto.

É por esse motivo que, pelo nono círculo, caminho.

Em resposta, ela entrelaça, passa uma das mãos por meus cabelos e sussurra

- você há de ser a coisa mais tentadora existente

Me faz querer sorrir, mas suprimo. Continuo presa nos olhos. Ela, de antemão, provoca minha ânsia por consciência e fortifica o argumento ao acariciar a face, tocar os dígitos pela extensão da pele, observar as linhas que carrego em expressões de curiosidade. Antes, censurada pelo autocontrole, foi privada do contato. Agora, opta por transcrever a ganância através de olhos aclamadores e lábios umedecidos. 

Quero beijá-la.

Seus dedos são precisos no toque dos ombros, decaindo até a parte externa dos bíceps, morrendo, por fim, o escorregamento em meus antebraços. Sob sua vigia, a pele queima. A região da clavícula, o complexo do tórax arde, implora. Num momento de fraqueza, ela cai e vê meus seios dispostos, descobertos, pouco a frente. Na face, observo-a apertar os dentes.

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