05

4 1 0
                                    

Elena

Os dias passaram devagar desde que Matteo voltou para casa, ferido. Ele permaneceu a maior parte do tempo em seu escritório, resolvendo questões de máfia ou cuidando de sua recuperação. Por mais que eu quisesse ficar fora do caminho, havia momentos em que nossos olhares se cruzavam, mas ele nunca dizia muito.

Certo dia, enquanto limpava a sala, ouvi passos atrás de mim. Virei-me rapidamente e vi Matteo descendo as escadas. 

- Você não precisa fazer isso. - ele murmurou com a voz rouca, seus olhos não deixando escapar nada além de uma leve indiferença.

- Eu quero ajudar. - respondi abaixando a cabeça suavemente, tentando não parecer intrusivo.

Ele deu de ombros e  saiu de casa sem mais uma palavra. Aquele pequeno gesto de indiferença foi quase um rompimento. Ele poderia ter me reentendido, mas não o fez. Talvez ele simplesmente não se importasse.

Uma semana depois...

Passando em frente ao escritório de Matteo, a porta estava entreaberta. A voz de Giovanni, seu Consigliere, soava firme e preocupado.

- Ela está ganhando muita liberdade aqui, Matteo. Você não pode ser tão permissivo... mulheres como ela, vindas de onde vieram, podem te trair a qualquer momento. E se ela estiver esperando a oportunidade para fugir? Ou pior, se ela você está conspirando contra você com alguém de fora?

Meu coração disparou. A ideia de trair Matteo nunca havia passado pela minha cabeça, mas era assim que eles me viam? Como uma ameaça constante?

- Giovanni...-  Matteo respondeu, sua voz mais baixa, quase irritada. - Eu sei o que estou fazendo. Ela está machucada, não é uma ameaça para mim.

- Você pode estar se enganando. Não é a primeira vez que alguém deixa o coração falar mais alto e se arrepender depois.

Silêncio. Eu recuei, meu peito apertado com as palavras de Giovanni. Não tive tempo de pensar mais nisso, pois a porta se fechou bruscamente e os passos de Matteo ecoaram pelo corredor.

Mais tarde naquela noite, fui chamado a sala, mas ao invés de palavras ou explicação, os homens de Matteo me agarraram e me levaram para o subsolo da casa, o calabouço.

*

Uma semana se passou desde que fui trancada. A única coisa que me resta é o tempo, a dor e o vazio. Não vejo ninguém. Nem mesmo Matteo, que tanto me assusta e confunde. Diariamente, apenas ouço batidas secas na porta, e a comida é deixada ali. O banheiro no canto da sala me permite cuidar minimamente da minha higiene, mas fora isso, estou à deriva.

A cada dia, o silêncio pesa mais, me sufocando, deixando claro que sou apenas uma prisioneira, sem saber o que ele quer de mim ou o que será de mim. E, sinceramente, o medo do que está por vir me dominar.

Até que, finalmente, a porta se abra. Matteo entra sem qualquer cerimônia, sua presença parece cheia o conforto de tensão. 

- Levante-se. - ele ordena, sua voz fria.

Meus músculos são fracos, mas eu forço a levantar, temendo que ele faria se não o obedecesse. Sem mais uma palavra, ele me puxa pelo braço e me leva para fora do calabouço. Sigo com dificuldade até o escritório dele, onde ele me empurra para uma cadeira em frente à sua mesa.

Ele não se senta. Em vez disso, ele caminha de um lado para o outro, como um predador rondando sua presa. Finalmente, ele para e olha diretamente para mim.

- Eu quero que seja clara comigo, Elena. Eu não confio em você, e não pretendo confiar. Então me diga.. . - Ele se inclina sobre a mesa, os olhos penetrantes. - Você ainda pensa em voltar para ele? 

Sua pergunta me faz gelar. As lembranças de Ronan, das torturas, das humilhações, retornam com força total. Eu odiava. Mas o homem à minha frente também não me dava nenhuma segurança. Será que seria melhor tentar sobreviver com Ronan?

- Eu... não quero voltar para ele. - respondo, tentando não tremer, mas meu corpo inteiro parece tomado pelo medo. - Eu não sou uma ameaça para você!

Matteo fica em silêncio por um momento, seus olhos me analisando, buscando qualquer sinal de mentira. Ele então se afasta e se senta, finalmente quebrando a tensão no ar, mas sua postura permanece firme.

- Você está machucada, desnutrida. Não sei o que o Ronan fez para deixar você assim, mas eu também não vou ser gentil. Se tente me trair, eu garanto que o inferno que Ronan criou para você vai parecer um paraíso perto do que eu sou capaz de fazer!

Ele se levanta, aproximando-se de mim mais uma vez. - Então, pense bem. Porque, agora, você está nas minhas mãos.

- Você vai me contar tudo sobre Ronan. - ele disse, com sua voz fria e controlada. - Onde são os pontos de contrabando, os homens de confiança... Quero cada detalhe. - Seu olhar era impiedoso, sem desviar de mim nem por um segundo.

Meu coração acelerou, e uma sensação de pânico subiu pela minha garganta. Eu sabia que ele esperava algo de mim, mas não sabia se tinha o que ele procurava. 

- Eu... não sei de tudo. -  murmurei, sentindo o peso de cada palavra. - Ele nunca me envolveu diretamente.

As lembranças de Ronan falando ao telefone, mencionando lugares e nomes, vieram a invadir minha mente. Eu sabia de algumas coisas, mas eram fragmentos. Informações que ele deixou escapar, achando que eu era insignificante demais para me preocupar.

- Eu... eu sei de alguns lugares. - admiti, a voz fraca, mas tentando manter a calma. - Depósitos, nomes de pessoas... mas nunca estive lá.

- Isso já é o bastante. -  respondeu Matteo, a frieza em sua voz me arrepiando. - Se o que você me der for útil, talvez eu pense em começar a confiar em você. E quem sabe, te recompensar de alguma forma.

A palavra "recompensa" ecoou na minha mente. O que eu fiz aquilo? Liberdade? Paz? Parecia tão distante. Tudo o que eu queria era sair daquele ciclo infernal. Mas agora, era como se estivesse sendo empurrado para ainda mais fundo.

- Eu vou falar o que sei. - disse, tentando manter a firmeza, mesmo que minha voz tremesse um pouco. Matteo esperava, me observando como se pesasse cada palavra minha.

Ele concordou, como se tivesse conseguido o que queria. - Então fale. Prove sua lealdade. Mostre que pode ser mais do que a esposa de Ronan.

Engoli em seco. Sabia que aquilo era apenas o começo de um jogo muito perigoso. E eu estava prestes a ser a peça principal.

Liberdade nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora