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Elena

Mais uma vez infelizmente acordo e vejo que estou em meu quarto. Meus pulsos estão enfaixados, meu braço está conectado a um soro e meu peito esta a um aparelho, meu corpo está dolorido e me sinto zonza pelos prováveis remédios que me injetaram. O pior de tudo é que me sinto frustrada, exausta, dessa vez deveria ter funcionado, por que ele não me liberta de vez?

- Ora ora, finalmente acordou. Não sei por que insiste em fazer isso, você nunca irá se livrar de mim, nem que eu vá ao inferno te buscar você é minha! - Disse o homem que deveria ser meu marido.

Apenas abaixo a cabeça sem olha-lo pois mesmo que eu tivesse forças para responder ele faria algo para que eu sofresse mais. É assim desde o dia em que me casei com Ronan. Ele é um mafioso irlandês e eu fui vendida para ele pelo meu próprio pai quando eu tinha 17 anos, hoje com meus 23 vivo em um completo inferno.

- Chefe, a srta Livia está a espera do senhor na sala. - Entrou um capanga no quarto e avisou a Ronan.

- Mande-a subir aqui, quero ensinar uma lição a minha querida esposa. - Respondeu Ronan com um sorriso perverso me encarando.

Uns minutos depois que o capanga sai, entra uma ruiva no quarto quase pelada pois o que ela veste não da para considerar roupa.

- Docinho, está ocupado? Posso te esperar no outro quarto. - Disse ela com uma voz que faz com que eu tenha náuseas.

- Não! Venha aqui, vamos fazer aqui mesmo e teremos uma coparticipação da minha querida esposa nos assistindo. - Ele diz e olha pra mim. - É melhor não virar o rosto pois eu te tiro dessa cama e fodo você assim mesmo.

O encaro assustada com suas palavras e ele volta a olhar para a ruiva. Eles começam a se pegar na minha frente e meus olhos marejam, não sei como eles sentem prazer em fazer algo tão obsceno na frente de outra pessoa em um estado de quase morte. Assim foi o resto do dia até eles cansarem e sairem do quarto, depois disso choro por horas e acabo adormecendo.

*

Passaram-se dias e já não estou ligada a nenhum medicamento ou aparelho só que ainda sinto dores, não pela minha tentativa de suicídio, meus pulsos não doem mais que minha alma destroçada, não sinto tantas dores fisicas como a 5 anos atrás que foi quando começaram as torturas de Ronan.

Hoje mais cedo ele me informou que iremos a um evento entre máfias, esse evento é onde máfias aliadas e inimigas se reúnem sem que derramem sangue, é em um local que é proibido tal ato. Deixaram um vestido em meu quarto, que é cumprido e com manga longa, provavelmente escolhido para que não vissem meus machucados. Estou quase pronta quando Ronan entra me vendo apenas de lingerie...

- Você está horrível, não merece o título de minha esposa, se eu pudesse já teria acabado com você e poderia tornar Livia minha esposa. - Disse ele com desprezo. Ronan se aproxima e segura meu pescoço.

- Lembre-se sejá uma esposa troféu, não vacile se não as consequências serão piores para você!! - Me ameaça e me rouba um selinho, nojo! Depois que ele solta meu pescoço vai para o banheiro e só voltou quando eu já estava pronta.

Chegamos no evento e está cheio de mafiosos, muitas pessoas que só de olhar causa um temor. Reconheço muitos que estão aqui, aliados e inimigos dos irlandeses que é a máfia que Ronan pertense, e infelizmente eu também. Paramos ao lado de Liam Byrne, o chefe, ele cumprimenta seu irmão e conselheiro Ronan e logo olha para mim com malícia. Sim, ele já me tocou, meu "marido" deixou quando ele pediu, afinal ele é o todo poderoso da máfia irlandesa.

- Ouvi dizer que finalmente seu velho se aposentou. - Pronuncia Liam para alguem. Quando olho vejo que nunca o vi nessas reuniões, tenho tal certeza pois venho todos os anos e nunca vi um homem com tamanha beleza mesmo com seu rosto e corpo exalando frieza e perigo.

- Byrne, sinto tristeza em sua voz, acho que deveria se aposentar também e deixar que o inútil do seu filho tomar seu lugar, talvez ele aprenda melhor a como ser um mafioso. - Diz o homem cujo nome não sei, mas sua voz grave me despertou algo estranho.

- Se ele fosse tão inútil não conseguiria roubar uma carga de tamanho preço, não acha Matteo Denaro. - Liam esboçou uma risada sarcástica, mas o desconforto em sua postura era evidente.

- Roubar uma carga? - Matteo repetiu, quase zombando. - Byrne, você sempre subestima quem está ao seu redor. É por isso que ainda está preso a pequenos jogos enquanto o mundo lá fora muda.

- Ah, claro... E você, Denaro, está à frente de todos? - Liam rebateu, aproximando-se. - Não se esqueça de que o sangue é mais importante do que ouro. E você ainda está aprendendo o que é lealdade.

Matteo inclinou-se levemente, sem nunca perder a calma, mas com um brilho perigoso nos olhos.

- Lealdade? - Ele perguntou suavemente, quase um sussurro. - Lealdade é uma arma afiada, Byrne. E você está prestes a se cortar.

Antes que Liam pudesse responder, Ronan entrou na conversa, tentando reafirmar seu papel.

- Cuidado com suas palavras, Denaro - disse Ronan, com a voz carregada de rancor. - Este mundo não perdoa arrogância, e você pode acabar mordendo mais do que consegue mastigar.

Matteo o encarou por um momento, um sorriso frio surgindo em seus lábios.

- Cuide bem de sua esposa, Ronan - Matteo respondeu, com um olhar rápido em minha direção. - Você não sabe quando algo que valoriza pode lhe ser tirado... para sempre.

Ronan endureceu ao ouvir a ameaça implícita nas palavras de Matteo. Seus olhos brilharam com raiva, mas ele não reagiu imediatamente. Sabia que, no meio daquele evento, uma explosão de violência poderia custar caro.

- Você fala como se fosse intocável, Denaro - Ronan disse entre os dentes, tentando manter o controle. - Mas todos nós sabemos que até mesmo os maiores podem cair. Especialmente quando se acham acima das regras.

Matteo riu de leve, uma risada fria e sem humor. Ele se inclinou um pouco mais, diminuindo a distância entre eles, o tom de sua voz baixo e calculado.

- Eu não estou acima das regras, Ronan. Eu sou quem decide quais regras valem a pena serem seguidas. E você... bem, deveria se preocupar mais com o que está prestes a perder do que com o que acha que pode ganhar.

Ronan apertou os punhos, mas antes que pudesse responder, uma movimentação no salão capturou a atenção de todos. A entrada de um homem poderoso silenciou as conversas e fez os olhares se voltarem para ele. Era Alessandro Vitale, o chefe da maior máfia aliada de todas as potências reunidas ali. Ele controlava o território que abrigava o evento e sua presença trazia uma aura de autoridade que ninguém ousava desafiar.

Alessandro era conhecido tanto por sua diplomacia quanto por sua crueldade implacável quando traído. Alto, de cabelos grisalhos e olhar penetrante, ele caminhou pelo salão com uma calma que apenas alguém em sua posição poderia exibir. A cada passo, o peso de seu poder era sentido como uma força invisível, e mesmo os homens mais violentos naquele ambiente o respeitavam ou temiam.

Era como se o momento tivesse sido suspenso, mas as palavras de Matteo ainda ecoavam na minha mente. Meus olhos se encontraram com os dele por uma fração de segundo, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha.

- Boa noite a todos - Alessandro saudou, sua voz grave ecoando pelo salão. - É bom ver tantos rostos familiares em uma noite de paz, algo raro em nosso mundo.

Matteo ergueu o olhar brevemente, trocando um aceno respeitoso com Alessandro, enquanto Ronan forçava um sorriso. Havia algo na maneira como Alessandro observava a multidão que me deixava inquieta. Eu sabia que, se alguém ali tivesse poder suficiente para mudar o rumo de qualquer vida, seria ele.

- Esta noite é sobre alianças - continuou Alessandro, seus olhos percorrendo a sala como se calculasse cada movimento futuro. - E sobre relembrar que, mesmo entre inimigos, existem regras que devem ser seguidas.

O clima no salão parecia esfriar ainda mais à medida que Alessandro falava. Ele sabia mais do que deixava transparecer.


Liberdade nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora