PRÓLOGO.

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 Yin Anan Wong.

31 de Outubro de 2024.

Quinta-feira, 19:30 PM.

Parado no hall de entrada de uma casa de fraternidade afastada e hedionda, espio sobre os ombros robustos do intimidador segurança que faz a sua vigília, controlando quem entra e quem sai pela porta; tal qual se encontra escancarada e me proporcionando a visão de uma cena ampla e traumatizante: a de uma porrada de pessoas trepando a cada centímetro quadrado em seu interior.

Sim, trepando. Fodendo. Transando. Fazendo amor. Copulando. Metendo. Como quiser chamar, que se foda. Eu não me importo muito com os termos, para ser sincero.

— Cacete, que coisa horrorosa — Meu queixo se encontra despencado no chão, meus olhos arregalados mediante a quantidade absurda de paus, bundas e bocetas que invadem meu campo de visão — Esse mundo está perdido, meu Deus — Murmuro, e levo as mãos até a boca, horrorizado e me sentindo um senhor conservador de setenta e dois anos de idade, que certamente votou em um político extremista e que apoia o Regime Militar — Tomar no cu, sinceramente — Exclamo, indignado e estressado até os ossos; a mente fervilhando mediante a raiva que sinto, e me subjuga. Estou tremendo feito a porra de um pinscher — Mas que moleque fodido! — E ele está lá dentro, em algum lugar. Eu sei que sim.

War realmente cruzou a linha desta vez; esse ladrãozinho ardiloso e egocêntrico. Ele sempre se sentiu imbatível, agindo como se fosse o dono do mundo. Desde a nossa infância, sim, quando ele intimidava as outras crianças da nossa vizinhança, indiferente se eram maiores ou menores que si.

De qualquer maneira, afinal, em ambas as circunstâncias, War Wanarat sempre se escondia atrás do pai quando se metia em apuros, – é, ele sempre foi um merdinha covarde, apesar de tudo – não conseguindo lidar sozinho com o rojão, e precisando chorar seu apelo desesperado ao mais velho.

Hoje, entretanto, isso irá mudar. E não me importo se o seu pai é o diretor da nossa Universidade.

Que se foda!

Com esse 'zé boceta do caralho', sempre foi assim, como se estivéssemos em um campo de batalha constante, a tensão entre nós sempre palpável, como uma eletricidade fodida no ar, arrepiando cada pelinho do meu corpo. Cada olhar atravessado, cada provocação trocada era como um golpe bem dado no orgulho um do outro. Com o tempo, conforme fomos crescendo, e amadurecendo, pensei que isso mudaria... Só que não! Eu senti, e ainda sinto, uma mistura de raiva e frustração toda vez que o vejo; aquela sua adorável e sebosa carinha de sonso, de sorriso com covinha, típico de um enganador. Esse safado!

— Perdão? — O segurança prontamente indaga, erguendo uma sobrancelha grossa e escura em minha direção, em um desafio silencioso que me levou a dar um passo generoso para trás.

Sua cara de poucos amigos me sonda, quando demoro para responder, e logo me apresso em contornar esse mal entendido. Eu prezo pelos meus dentes, e não quero perdê-los tão cedo. Afinal, foram anos usando aparelho. Longos anos de investimento, e também dor e sofrimento.

— Não você, obviamente — Recuo mais um passo, apenas por garantia, meus olhos fixos nos músculos monstruosos dos seus braços cruzados frente ao peito estourado. "Esse cara é natural?", eu me pergunto, com honestidade, completamente apavorado com as veias grossas e saltadas sob sua pele bronzeada. Sua altura também é bem impressionante. Ele é quase do tamanho da porta, portanto, deve ter cerca de um metro e noventa e cinco. Essa sua cara de mal encarado também não ajuda em nada, com essa cicatriz grotesca que toma conta da metade do seu rosto; foi uma facada, certamente — Mas, meu colega da faculdade — Esclareço, meu cu já travado de medo. Já está tudo uma grande merda, não preciso ser merendado no soco, também. Sem contar que, meu corpo ainda está dolorido da última aula de taekwondo — Ele roubou meu projeto, por isso estou aqui. Fui eu quem desenvolveu o aplicativo de namoro, sabia? E agora, ele está agindo como se fosse uma ideia dele, usando-a nessa porra de festa promíscua, para comer sei lá quem! Inacreditável — Balanço a cabeça em negativa, me afogando na raiva que gradualmente serpenteia dentro de mim, rastejando. Quanto mais penso nisso, mais puto eu fico.

Lembro-me de cada momento que passei trabalhando, como um maluco, por semanas a fio desenvolvendo os formulários de programação. A pesquisa, os rascunhos, as madrugadas em claro tentando aperfeiçoar cada mínimo detalhe.

Porra, War Wanarat é a personificação do puro desgosto!

— Sabe, eu queria criar algo que realmente ajudasse as pessoas a se conectarem de maneira divertida e anônima, e que funcionasse perfeitamente, tudo baseado nas suas preferências. Sem pressão! E agora, lá deve estar ele, sorrindo e se vangloriando do que deveria ser o meu projeto. Acredita que, além de ter reprogramado as configurações originais, ele também transformou o conceito dos encontros em uma orgia do caralho? — Desabafo, a dor fina da enxaqueca pulsando em minhas têmporas, o estresse me afetando desde hoje cedo, quando aquele sem vergonha apresentou "sua nova invenção" para a turma toda; o cara de pau falava com tanta confiança, como se tivesse feito tudo, quando o projeto era meu. Meu, caralho! Não dele.

Porra, eu não devia tê-lo aceitado como minha dupla, mas fiquei com pena porque ninguém queria trabalhar com ele; o "rei da coitadolândia". E é por isso mesmo, porque War é um pilantra! Um traíra da pior espécie! E eu me esqueci disso, em um lapso momentâneo de loucura.

— E, para piorar, meus amigos me deram um bolo, me deixaram na mão para peitar aquele filho da puta sozinho! Jeff não quis se enfiar nesse antro da perdição, sob a ameaça do namorado, Barcode, um passivo-agressivo que detesta dividir aquele cabeludo. E Daou se recusou a exibir Offroad, que é seu namorado, em uma fantasia de couro para qualquer um cobiçar o que é dele. Ele é realmente doente pelo namorado, o que me assusta às vezes... Enfim, Prom é o único com um motivo válido, já que precisou trabalhar de última hora — Prossigo, dissertando detalhadamente sobre minha árdua jornada até aqui.

Eu estou sofrendo, oras!

— Entra! — Parecendo estar de saco totalmente cheio quanto ao meu falatório sem fim, ele finalmente me dá espaço, me lembrando do porquê de estarmos aqui; apenas os casais "flechados"  foram liberados para entrar e participar da festa, – que foi organizada pelo pilantra – usando o código de Qr Code gerado no momento do match no aplicativo. Eros é o seu nome, sendo bem autoexplicativo, sim.

Mas, como não fui compatível com ninguém, – um baita murro na minha pobre autoestima, diga-se de passagem – estava sendo barrado por ele. Segundo a geladeira de inox à minha frente, esta era uma forma de impedir que penetras se esgueirassem por aqui e fodessem com tudo. Esta sendo uma forma de proteger os usuários e garantir sua segurança e privacidade. O detalhamento se encontra junto aos termos aceitos por cada um deles logo antes de criar seu perfil. Sim, aqueles termos de uso e responsabilidade que ninguém lê.

— Entra. Entra logo, pelo amor de Deus! Eu não estou sendo pago para escutar as merdas dos seus problemas. Trata isso na terapia, ou arrebenta a cara do maluco que te fodeu e eu separo depois, mas, me deixa em paz. Já é o bastante ter que ficar escutando esse bando de jovem depravado trepando bem atrás de mim.

— Obrigado, você é muito gentil — Agradeço, ainda que um pouco atordoado com o corte seco que tomei, meus miolos processando tamanha babaquice — Alguma regra a ser seguida? — Por precaução, o questiono.

— Proteja sua identidade com a máscara da sua fantasia, e mantenha o bom senso de não tentar foder com alguém sem o consentimento da pessoa. Se você ou qualquer outra pessoa não disser explicitamente "sim", então é um "não". Caso contrário, você apanha de mim. Entendido? — Rindo de nervoso, aceno com a cabeça e forço um sorriso amarelo para ele, com direito a dentes à mostra e tudo. Por fim, presto respeito a ele como um rápido wai.

— Sim, sim! Mais claro, impossível. Um bom trabalho aí, meu nobre! — Penso em dar dois tapinhas de reconforto em seu ombro, mas temendo tomar um bom murro no olho em resposta, apenas me contentei em me espremer entre ele e a porta, e entrar naquela orgia maluca.

War Wanarat, você está fodido.

Continua?

𝐁𝐀𝐃 𝐑𝐎𝐌𝐀𝐍𝐂𝐄 || 𝐘𝐈𝐍𝐖𝐀𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora