Prólogo

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Selena - 10 anos.

O orfanato parecia maior do que eu imaginava, cada corredor era mais escuro que o outro, e o silêncio me deixava com um frio na espinha. Eu segurava minha mochila com força, como se isso pudesse me dar algum tipo de proteção. Não sabia o que esperar desse lugar, mas o peso que eu sentia no peito era familiar. Era a mesma sensação de abandono, de estar sozinha, que eu sempre carregava comigo.

Quando entrei no dormitório, meu olhar percorreu o ambiente. Havia camas por todo lado, algumas vazias, outras ocupadas por crianças que me ignoraram completamente. Ninguém parecia se importar com a nova garota. Talvez fosse melhor assim. Pelo menos, não precisaria responder a perguntas que eu não queria responder.

Mas um som chamou minha atenção. Um choro. Baixo, mas constante, vindo do dormitório ao lado. 

Eu não deveria me meter, sabia disso. Mas havia algo naquele som que eu reconhecia. Não era só tristeza, era algo mais profundo, algo que me puxava.

Segui o som, adentrei no dormitório e caminhei para perto da cama próxima da parede, até vê-lo: um garoto sentado no chão, debruçado sobre os joelhos, os braços envolvendo as pernas. Ele parecia tão perdido quanto eu me sentia. Ajoelhei ao lado dele, sem pensar muito no que estava fazendo.

— Por que está chorando? — perguntei, minha voz saindo mais suave do que eu esperava.

Ele nem me olhou, só murmurou, com a voz rouca e irritada.

— Vai embora daqui...

Eu deveria ter me afastado. Mas, de algum jeito, eu sabia que ele estava dizendo isso porque precisava que alguém ficasse. Eu sabia como era empurrar os outros quando o que mais queria era que alguém se importasse.

— Olha... tudo bem se sentir triste. — falei, tentando não parecer muito insistente. — Sabe... eu me sinto assim também.

Ele finalmente levantou a cabeça o suficiente para me lançar um olhar rápido. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, e havia algo de desafiador neles, como se ele estivesse pronto para me afastar com palavras afiadas.

— Você nem me conhece. — Ele disse, a voz carregada de ressentimento.

— Eu sei. — Respondi, mantendo o tom calmo. — Mas sei como se sente.

Por um momento, ele me encarou, e foi aí que eu vi seu rosto pela primeira vez. Cabelos negros caindo sobre os olhos, pele branca contrastando com a sujeira do chão, e aqueles olhos... havia algo profundo neles, uma dor que eu reconhecia.

Ele deve ter a mesma idade que a minha..

Ele não respondeu, mas seu olhar se moveu para meu ombro, onde a alça da minha camiseta tinha caído, revelando a cicatriz que eu sempre tentava esconder. Fiquei tensa, imediatamente puxando a alça de volta, mas era tarde demais. Ele já tinha visto.

— O que é isso? — Ele perguntou, apontando para a cicatriz.

Meus músculos se contraíram, e por um segundo, considerei mentir. Mas a verdade era tão pesada que escapou antes que eu pudesse segurá-la.

— Ah, isso... nada. — Tentei desconversar, mas ele não parecia disposto a aceitar.

Com um movimento rápido, ele puxou a alça de volta, revelando completamente a cicatriz. Senti um nó na garganta enquanto o empurrava de leve, afastando sua mão. Eu odiava aquele pedaço de mim.

— Quem fez isso? — Ele perguntou, a voz mais baixa agora, quase num sussurro.

Meu coração batia rápido, e por um momento, eu não queria responder. Não queria que ninguém soubesse. Mas, de algum modo, aquele garoto triste e zangado parecia entender melhor do que ninguém.

A hospedeira do caos - DARK ROMANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora