Capítulo 01- Maldição

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7 anos depois…

Selena

Caminhei pelo corredor em direção ao refeitório, e cada passo parecia mais pesado que o anterior. O burburinho das crianças ecoava ao meu redor, mas, ao me notar, os olhares rapidamente se desviavam. A sombra da "maldição" ainda pairava sobre mim, e a tristeza começou a me envolver novamente.

Eu só queria ser normal. O desejo de ter uma vida comum, onde pudesse conversar e rir como qualquer outra garota da minha idade, crescia dentro de mim. Mas o estigma que me cercava era como uma parede impenetrável. Uma lembrança específica surgiu em minha mente, nítida como se tivesse acontecido ontem.

Era uma tarde ensolarada, 6 anos atrás.. e eu me lembro de ter me sentado com algumas crianças do orfanato. Elas pareciam mais amigáveis naquele dia, compartilhando histórias e risadas. Eu estava me divertindo, finalmente sentindo que pertencia a algum lugar. Mas, quando Demion apareceu, a atmosfera mudou instantaneamente.

— O que você está fazendo com essas crianças? — ele perguntou, surgindo como uma sombra, seu olhar fixo em mim.

As risadas cessaram, e os rostos se tornaram pálidos. A tensão era palpável. Ele se aproximou, e todos, exceto eu, começaram a se afastar, como se uma barreira invisível os separasse de mim.

— Elas não deveriam estar falando com você. — Demion disse, a voz baixa e ameaçadora. — Sabe o que acontece quando elas se aproximam da maldição?

Senti meu coração acelerar.

—Demion, por favor, não... — comecei a protestar, mas ele não me deixou terminar.

Ele se virou para as crianças, um sorriso malicioso nos lábios.

— Se vocês forem espertas, é melhor ficarem longe dela. — Ele apontou para mim. — A maldição vai se espalhar. Vocês vão se arrepender.

As crianças, apavoradas, deixaram o local rapidamente, e eu fiquei sozinha, as palavras de Demion ecoando em minha mente. Ele havia feito aquilo de propósito, e a sensação de traição me feriu mais do que qualquer outra coisa.

Agora, ao entrar no refeitório e ver os olhares desviados, a dor daquela lembrança me envolveu como um cobertor pesado. 

Eu apenas queria ser normal, ter amigos e sentir que pertencia a algo, mas a sombra da "maldição" parecia se recusar a me deixar em paz.

Era como se, a cada ano, eu estivesse mais isolada, e cada palavra sussurrada por trás das minhas costas era um lembrete de que, independentemente de como o corvo me afetava, a maldição sempre estaria lá, um fardo que eu não poderia deixar para trás.

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Escolhi uma mesa no canto do refeitório, esperando que a solidão me proporcionasse um pouco de paz. Assim que me sentei, notei que quem estava ali antes se levantou e saiu apressadamente, como se eu fosse contagiosa. Um nó se formou em meu estômago, mas eu não tinha energia para me importar.

Enquanto olhava em volta, percebi que o casal de missionários que costumava visitar o orfanato estava novamente ali. A senhora simpática me observava com um sorriso acolhedor, mas, imediatamente, desviei o olhar, temendo que ela também pudesse "pegar a maldição". O pensamento me incomodava, mas não pude evitar. Era como se eu estivesse presa em uma teia de desconfiança, onde qualquer interação poderia resultar em mais rejeição.

Eu me perguntava o que havia de errado comigo. Por que as pessoas me viam dessa forma? Meu olhar vagou pelo refeitório, e a sensação de ser uma estranha dentro daquele lugar só aumentava. A mulher ainda me observava, e seu sorriso, que deveria ser reconfortante, parecia apenas me lembrar da solidão que me acompanhava.

A hospedeira do caos - DARK ROMANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora