Capítulo 03

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Quando chegamos à casa dos missionários, percebi que era bem diferente do orfanato. O edifício, com suas paredes de madeira Claire e janelas grandes, estava cercado por um jardim bem cuidado que florescia em cores vibrantes. O aroma de flores e ervas misturava-se ao ar, criando uma sensação de acolhimento que eu não esperava sentir. No entanto, minha mente estava longe de aproveitar aquele novo ambiente.

— Bem-vindos! Estamos tão felizes que vocês estão aqui! — exclamou a mulher, sua voz transbordando entusiasmo. O homem ao seu lado sorriu, e eu pude notar um brilho genuíno em seus olhos. Eles pareciam prontos para fazer de nós parte da família, mas a ideia me deixava inquieta.

O casal nos conduziu para dentro da casa, onde um hall espaçoso nos recebeu, repleto de quadros e fotos que mostravam a vida deles e as diversas missões em que haviam trabalhado. Senti um aperto no coração ao imaginar que, para eles, aquela era uma nova aventura; mas, para mim, era apenas mais uma mudança, mais um lugar onde eu me sentiria deslocada.

— Vou mostrar os quartos de vocês — a mulher anunciou, e seguimos os dois pelas escadas que levavam ao andar de cima. O corredor era iluminado e decorado com uma suavidade que contrastava com a dureza do orfanato.

Ela parou em frente a duas portas, uma de frente para a outra.

— Este aqui é o seu quarto, Selena — disse, abrindo a porta à minha esquerda. O quarto era pequeno, mas aconchegante, com uma cama de solteiro, uma escrivaninha e uma janela que dava para o jardim. Eu entrei e olhei em volta, absorvendo cada detalhe, mas a apreensão continuava a se acumular.

— E este é o seu, Demian — a mulher continuou, abrindo a porta ao lado. O quarto era quase idêntico ao meu, mas a presença dele ali, tão perto, me deixou angustiada. Por que nossas vidas tinham que ser entrelaçadas assim?

Quando a mulher nos deixou para nos acomodarmos, fechei a porta do meu quarto, sentindo a necessidade de um momento sozinha. O espaço era meu agora, mas a ideia de ter Demian tão perto era sufocante. Os pensamentos sobre como ele sempre fora uma fonte de caos e conflito na minha vida começaram a me consumir.

Sentei-me na beirada da cama, encarando a parede à minha frente. Era um quarto com potencial, mas o fato de saber que Demian estava apenas alguns passos de distância me deixava inquieta.

— Por que eles tiveram que colocar nossos quartos tão perto? — murmurei para mim mesma, frustrada. Era como se o universo estivesse zombando de mim, forçando-me a compartilhar esse espaço, essa nova vida, com alguém que eu tanto desprezava.

Os minutos passaram lentamente, e eu tentei me concentrar nas novas cores e na nova decoração. Mas a visão do quarto de Demian, a porta oposta à minha, me deixava ansiosa. Ele poderia estar pensando em como me provocar ou, pior ainda, em como poderia transformar aquela nova vida em um novo campo de batalha.

Finalmente, após muito tempo de luta interna, levantei-me e fui até a janela. Olhei para o jardim, buscando um escape. A beleza da natureza lá fora parecia tão distante da confusão que eu sentia por dentro. Mas então, a imagem de Demian cruzou minha mente, e o desprezo que eu tinha por ele ressurgiu.

— Você não vai me dominar aqui, Demian — murmurei, um desafio silencioso. Era a primeira vez que eu estava fora do orfanato e, por mais difícil que fosse, estava decidida a encontrar um jeito de não deixar que sua presença obscurecesse essa nova chance.

Respirei fundo, tentando reunir coragem. Eu não podia deixar que o medo e a raiva dominassem minha vida novamente. Se era uma nova oportunidade que eu estava buscando, então precisaria lidar com o que estava por vir — incluindo a presença constante de Demian em minha vida.

A hospedeira do caos - DARK ROMANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora