14 - Conexão

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Era inevitável.

Chorei por algumas horas. Depois, com o rosto inchado, olhos vermelhos e doloridos, me levantei, me empurrando contra a cama até que estivesse sentada. Mesmo com as mãos amarradas, consegui tirar minha mordaça. Olhei para o tecido úmido e machucado.

Beverly. Agora, morta.

Me encolhi contra a parede. Sentia o gosto de Samael sob minha língua e, pior, sentia dor. Meu corpo inteiro doía com a violência do sexo. Minha virilha era o que mais doía; ardia. Minha cabeça também não ajudava. Estava quase explodindo. Ergui meu rosto e suspirei. Por que isso está acontecendo comigo?

Um soluço seco escapou dos meus lábios. Juntei minhas sobrancelhas em uma carranca sofrida, iniciando mais um período de choro. Soluços altos eram cuspidos no quarto vazio e frio entre lágrimas. O que eu fiz pra merecer isso?

Senti algo escorrer nas minhas pernas. Baixei meu olhar e vi o esperma de Samael, saindo de dentro de mim. Encarei aquilo. Ele gozou dentro de mim. Eu estava infectada. Parte daquele ser podre estava dentro de mim. Eu tinha seu DNA. Meu abusador serpenteava entre meu íntimo, se afundando entre minhas pernas e me infectando por dentro. Estou infectada. Semeada.

Meu choro se tornou mais frenético, assustado. Gritei em meio aos soluços. Bati minhas pernas contra a cama, tentando o tirar de dentro de mim. Chorei alto, até que minha cabeça estivesse explodindo. Tive a certeza de que alguém escutou. Não temi por essa pessoa. Sequer pensei no caos que seria se alguém ou a polícia viesse até mim. Eu não ligava. Apenas queria me limpar e tirar qualquer vestígio daquele demônio que semeou dentro de mim.

Em algum momento, eu deixei de ter voz. Minha garganta doía e já não havia água em meus olhos o suficiente para chorar. Terminei por encostada no canto, entre as paredes, encolhida e coberta pela coberta à qual eu puxei em meio ao meu surto de algum jeito. Sentia a porra de Samael se misturando ao tecido.

Nojo. Não importava como ele fazia: com raiva ou com carinho. Tudo resultava só em uma coisa: nojo. Eu sentia nojo, repulsa, por Samael.

Falando no diabo: Samael entra no quarto.

Meus olhos se erguem até o rosto dele. Sua face continua impassível. Era óbvio que eu chorei e ele percebeu pelo meu rosto acabado. Vi quando ele travou o maxilar. Nos encaramos por alguns segundos. Eu sabia exatamente o que ele estava pensando: se ele me soltasse, eu iria surtar. E ele sabia exatamente o que eu estava pensando: que, se eu pudesse, o machucaria tanto quanto ele me machucou.

Mas isso não aconteceria. Eu não surtaria nem lutaria porque, mesmo se tentasse, não surgiria efeito. De qualquer maneira, estava sendo domesticada. Aos poucos, entendia que não tinha contra o que lutar se não havia forças para isso.

Ele continuou parado frente a porta, com seus olhos azuis brilhantes vidrados aos meus. Era incrível que, mesmo numa relação de ódio como essa, tínhamos uma conexão; ele me entendia e, embora que de maneira confusa, eu o entendia. Uma conexão ruim, mas, ainda assim, uma conexão.

Ele olhou para minha boca descoberta, depois, para o meu corpo nu. Samael balançou a cabeça e entrou no quarto. Com passos rápidos e decididos, ele veio até mim.

— Não, não — murmurei, com minha voz aumentando o tom. — fica longe de mim, desgraçado!

Conforme Samael se aproximava, mais assustada eu ficava. Ele chegou perto da cama. Tentei chutar ele. Ele agarrou meus pés e os colocou na lateral de seu corpo, se enfiando entre minhas pernas. Após me jogar na cama, ele agarrou meus pulsos com força. Me debati, tentando me livrar de seu aperto e falhando. Então, ele tirou o cinto dos meus pulsos e jogou para qualquer canto.

Me encolhi contra a cama, sentindo meu corpo tremer em antecipação.

— Por favor, Samael — disse com a voz embargada.

Ele respirou fundo.em seguida, travou o maxilar.

— Para de implorar... Eu não vou te machucar.

— Você mente. Não tem palavra.

Ele ergueu as sobrancelhas. Então, se debruçou sobre mim. Seu rosto ficou a centímetros do meu, e eu senti sua respiração esquentando minha pele.

— E? — disse baixinho, com um sorriso discreto — vai fazer o que sobre isso?

Samael roçou os lábios contra os meus. Em seguida, os entreabriu, deixando que sua respiração pesada e o cheiro de álcool agredisse meu rosto. Senti quando ele ajeitou suas pernas, colando suas coxas próximas as partes de baixo das minhas. Em seguida, o senti erguer minhas pernas, encaixando nossas intimidades com o auxílio de sua força contra minha pele. Gemi contra seus lábios. Um gemido indevido e contido. Estava com medo, e isso parecia excita-lo. Sentia o cheiro de álcool.

Me encolhi contra a cama, buscando uma saída. Queria virar meu rosto mas não conseguia. Estava paralisada.

— Ágatha... — murmurou, quase num ronronar. — eu... Você me deixa tão... — ele suspirou. — porra. Acho que gosto de você mais do que devia.

Um sorriso largo cresceu nos seus lábios. Ele mexeu o quadril, quase como se estivesse estocando em mim, porém, não o fazendo. Apenas esfregou seu pau rígido contra minha pele desprotegida e eu o senti tão perto e quente que me fez gemer mais. Ele suspirou contra meus lábios novamente.

— Quando te vi chorar pela primeira vez... — ele inclinou o rosto, movendo os lábios até minha bochecha. — eu fiquei excitado pra caralho. Eu queria te ver chorar de novo, de novo e de novo — murmurou sobre minha bochecha. — só que, por algum motivo, depois que eu te conheci mais... Acabou a graça. Te fazer chorar não me dava tesão... Me deixava angustiado. Quase triste... Eu não sei.

Ele ergueu o rosto, voltando o olhar até o meu. Ele me encarou por alguns segundos antes de baixar o olhar para nossas intimidades coladas. Depois, voltou para meu rosto.

— Eu quero você, e quero muito — murmurou. — acho que nunca quis alguém como te quero. A prova disso é que eu fiz tudo por você.

Samael suspirou baixinho. Virei o rosto evitando seu olhar. Com carinho, ele beijou minha bochecha. Fechei os olhos e suspirei.

— Isso não é uma prova de amor — disse na mesma altura.

— Por que não seria?

— Porque você me conquistou a força. Matando, machucando... Isso não é um ato de amor.

Ele sorriu.

— Eu te conquistei é?

— Vai se foder, caralho.

Ele riu baixinho. Devagar, Samael se levantou. Saindo da cama, ele me olhou por alguns segundos antes de acender mais um cigarro. Tragou e desviou o olhar.

— Vou deixar você descansar.

Disse e saiu do quarto.

N. Mabis:
Capítulo curtinho, eu sei. Estou num bloqueio criativo 🫨🫨🫨💀
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𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora